O Brasil é um país de extremos, inclusive no que tange ao perfil dos investidores locais. Ao mesmo tempo que a maioria dos brasileiros tem um perfil conservador ao escolher onde aplicar suas economias e acaba optando pela poupança (37,5%), a popularidade crescente das criptomoedas no país revela que parte da população opta por investimentos de risco elevado em busca de alta rentabilidade no curto prazo.

Os dados são de uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgada pelo E-Investidor na segunda-feira, 13, intitulada "Risco relevante para o investidor brasileiro, francês e inglês:, que compara o perfil de investidores dos três países citados. No Brasil, os criptoativos têm a preferência de 14,5% dos investidores, quase três vezes mais do que entre os franceses (3%) e quase nove vezes mais do que entre os ingleses.

A proporção de brasileiros que disse investir em criptoativos ficou apenas um pouco abaixo do que a quantidade que afirma investir em instrumentos de renda variável (16,1%), como ações, ETFs (fundos de índice) e outras clases de ativos de risco. Aqui, os ingleses lideram, com 17,5%, e os franceses ficam um pouco abaixo dos brasileiros, com 12,6%.

A crescente adoção dos criptoativos no Brasil é fruto do perfil de uma classe particular de investidores que se opõe a uma postura tradicionalmente conservadora e têm predileção pelo risco em busca da promessa de alta rentabilidade e enriquecimento rápido, afirma William Eid, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV EAESP e um dos autores do relatório:

"A preferência por criptos é causada por essa visão de curto prazo, por essa necessidade que o brasileiro tem de ficar rico logo”, ressalta Eid. “O brasileiro não tem paciência para investir o dinheiro e deixar 15 anos em algum lugar. Ele quer que o dinheiro se multiplique rapidamente. E as criptomoedas parecem prometer isso."

A afirmação é corroborada por dados da pesquisa que revelam que 76% dos investidores brasileiros operam com foco no curto e médio prazo, enquanto apenas 24% projeta seus rendimentos em um horizonte de tempo mais amplo. Na Inglaterra, a proporção fica em 64,5% no curto e médio prazo, e 35,5% no longo prazo, enquanto na França a proporção é mais equilibrada, com 45,5% e 54,5%, respectivamente.

Eid afirma que no Brasil há mais investidores que ignoram os riscos envolvidos em operações com ativos de renda variável e aqui também é mais comum que as pessoas realizem suas escolhas com base no desempenho no passado e na opinião de influenciadores.

Tomar decisões de investimento baseadas nestes princípios aumenta as chances de que os investidores acabam perdendo dinheiro, afirma o economista. No entanto, são justamente estas abordagens que justificam o crescente interesse dos brasileiros por criptomoedas. Segundo Eid, os riscos envolvidos não compensam os potenciais rendimentos prometidos por esta classe emergente de ativos financeiros.

A opinião é compartilhada por Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos. "Criptomoedas nunca foi um mercado que possibilitou enriquecimento rápido", afirmou, contrariando o senso comum que tomou conta de parte dos investidores brasileiros durante o ciclo de alta do ano passado.

Segundo ele, a melhor estratégia para investidores iniciantes é realizar aportes pequenos, privilegiando ativos com capitalização de mercado sólidas e, portanto, mais resilientes às inevitáveis oscilações desse mercado.

Quase sempre, investimentos em moedas capazes de gerar rendimentos exponenciais no curto prazo resultam em frustração e, pior, perda de ao menos parte do capital inicialmente investido:

"Os investidores que entram pensando no curto prazo, na absoluta maioria das vezes, abandonam o mercado com perdas acima de 50% do capital. Existem grandes e promissoras tecnologias sendo desenvolvidas nesse mercado, que podem ser tratadas como bons investimentos a longo prazo”.

Principais temores dos investidores

Perder definitivamente parte ou mesmo todo o capital aplicado é justamente o maior temor dos investidores tanto do Brasil (24%) quanto da França (37,4%) e da Inglaterra (37,6%), revelou a pesquisa. Em segundo lugar na lista de preocupações dos brasileiros vêm os riscos de liquidez, ou seja, a impossibilidade de se desfazer imediatamente dos ativos em caso de desejo ou necessidade.

A combinação de ambos os temores muitas vezes se retroalimenta, ainda mais quando o investidor opera com um horizonte de curto prazo: em caso de desvalorização severa, o investidor se vê compelido a se desfazer do ativo para obter liquidez imediata e, como resultado, acaba realizando o prejuízo.

Já a segunda grande preocupação de ingleses e franceses diz respeito à variação da rentabilidade. Segundo Eid, essa diferença é ilustrativa da falta de educação financeira do investidor brasileiro.

A pesquisa da FGV ouviu 595 pessoas, sendo 200 do Brasil, 198 da França e 197 do Reino Unido.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, a educação financeira é um dos pilares fundamentais para que a adoção dos criptoativos no Brasil siga em expansão, de acordo com Daniel Mangabeira, diretor de  Relações Institucionais da exchange de criptomoedas Binance para a América Latina.

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