Nesta quinta, 28, durante o evento RWAfi, realizado vela Vellahub, revelou que a Parfin avança em uma das frentes mais desafiadoras do mercado financeiro digital: levar ativos do mundo real (RWA) para o universo do DeFi, mas sem abrir mão da regulação.
Em parceria com bancos, fintechs e instituições financeiras, a empresa desenvolve o protocolo Rails, que promete funcionar como uma espécie de “AAVE” para tokens de valores mobiliários, conectando empréstimos descentralizados a ativos tokenizados.
“Estamos conectando a beleza do blockchain ao mundo regulado. Sem isso, os benefícios nunca chegarão a todos”, afirmou Viriato.
De acordo com Marcos Viriato, CEO e cofundador da Parfin, hoje, quando um certificado de recebíveis é tokenizado, ele permanece em um closed loop: preso à plataforma, sem possibilidade de circulação ampla. Pela regulação, valores mobiliários tokenizados só podem ser guardados por custodiantes qualificados. Isso impede, por exemplo, a transferência de um token para uma carteira não custodial, como a Metamask.
Para resolver esse ponto, a Parfin está implementando no Rails a identificação de wallets qualificadas. Dessa forma, investidores poderão transferir tokens entre instituições financeiras reguladas, mantendo a segurança jurídica.
“Queremos criar os primitivos de rede que permitam que esses ativos circulem de forma regulada, mas dentro da lógica de blockchain”, disse Viriato.
Outro obstáculo é o uso de smart contracts de lending. Em protocolos descentralizados, eles permitem que um ativo tokenizado seja depositado como garantia para empréstimos.
No entanto, um smart contract não é reconhecido como custodiante qualificado. Para superar esse impasse, a Parfin trabalha com bancos para que esses contratos sejam respaldados por instituições de custódia regulada, criando uma ponte entre os dois mundos.
Além disso, a Parfin avança na tokenização de diferentes produtos, entre eles, cotas de consórcio. Nesse mercado, investidores que desistem do consórcio geralmente perdem parte do valor pago. Com a tokenização, esses ativos podem ser negociados em marketplaces especializados, permitindo a venda para fundos de investimento.
“É claro que existe desconto, mas o investidor consegue recuperar parte do valor, algo que antes não era possível”, explicou Viriato.
Outros projetos envolvem a tokenização de recebíveis de cartão e novos instrumentos que buscam modernizar o mercado de crédito estruturado no país. Para Viriato, cada operação já representa um passo concreto na criação de uma infraestrutura mais eficiente e transparente.
Liqi também aposta no crédito estruturado
A visão é compartilhada por outras empresas do setor. Durante o evento, Daniel Coquieri, CEO da Liqi, destaca que as maiores oportunidades no Brasil estão no mercado de crédito estruturado. Segundo ele, operações envolvendo CRI, CRA e outros recebíveis ainda são processadas de forma analógica, com sistemas fragmentados e altos índices de erro.
“A tokenização traz programabilidade e eficiência. Ela permite que ativos financeiros passem a operar em uma infraestrutura mais ágil e validada em tempo real. O desafio não é a tecnologia, mas a regulação”, afirmou Coquieri.
Ele também reforça que a evolução precisa ser gradual. “Muita gente nos pergunta sobre tokens secundários, mas é preciso lembrar: antes do secundário, existe o mercado primário. Cada etapa vencida resolve uma dor do mercado e permite avançar para a próxima”, disse.
Liquidez no mercado de tokenização
Sobre liquidez, Viriato destacou que o mercado tokens RWA ainda não atingiu seu estágio mais esperado: a liquidez ampla e descentralizada.
Segundo ele, a negociação desses ativos hoje continua concentrada em plataformas específicas e em canais de distribuição já consolidados no sistema financeiro tradicional.
“Nos mercados tradicionais, você tem liquidez porque existem grandes distribuidores, como corretoras e agentes autônomos. No caso de RWA, a maior liquidez hoje está no Mercado Bitcoin, que distribui diretamente pelo portal e também por meio de agentes autônomos”, destacou.
Viriato observa que o setor ainda não conta com algo equivalente a um DeFi Bank, que permitiria ao investidor acessar uma ampla gama de ativos tokenizados de forma aberta e descentralizada.
“Ainda estamos em um modelo centralizado, no qual bancos ou plataformas tokenizam debêntures e CRAs e os distribuem ao varejo. O mercado vai evoluir, mas ainda não chegou lá”, afirmou.
Ele projeta que, no futuro, haverá liquidez praticamente infinita, com investidores podendo acessar cestas de ativos tokenizados e até contar com inteligência artificial para auxiliar na escolha.
“Mas hoje isso não existe. O que temos ainda são canais tradicionais que limitam essa democratização do acesso”, disse.