Resumo da notícia

  • Rocelo Lopes alerta: “não sejam o pizza guy” — guardem seus Bitcoins.

  • Stablecoins representam o futuro dos pagamentos digitais e da inclusão financeira.

  • Bancos brasileiros já testam contas digitais em dólar baseadas em stablecoins.

Rocelo Lopes, fundador da Truther e um dos ‘Bitcoin OGs’ do Brasil, declarou nesta sexta, 24, que as stablecoins surgiram, entre outros, para resolver um problema que os bitcoiners identificaram ao longo do tempo, que o Bitcoin surgiu para ser a nova unidade de valor do mundo (substituindo o dólar) e não uma moeda para pagamentos cotidianos.

“Sempre que vejo pessoas dizendo que devemos usar Bitcoin para pagar um café, eu digo: não façam isso! Não sejam o “pizza guy”. Guardem seus Bitcoins. Não gastem um Bitcoin em um café, porque daqui a alguns anos vocês vão se arrepender. Vão pensar: “paguei dez mil dólares por um café”. O preço do Bitcoin vai subir, sem dúvida. A questão é quando isso vai acontecer. Então, gastar Bitcoin agora é desperdiçar o que pode ser uma fortuna no futuro. É por isso que eu acredito que as Stablecoins cumprem um papel importante”, disse.

Segundo ele, o ideal é usar stablecoins como o USDT para transações diárias, pois elas mantêm paridade com o dólar e não sofrem com a volatilidade do mercado.

“O Bitcoin é uma ferramenta de aprendizado e liberdade. Já as stablecoins são o caminho para a adoção em massa”, explicou.

De acordo com Lopes, as stablecoins são o “Cavalo de Troia” do mundo cripto, elas estão levando o universo das criptomoedas para o mainstream, enquanto o Bitcoin está ‘combatendo’ no front do mercado tradicional de investimento.

“No ano passado eu estive aqui com o Paulo Ardoino e o Samson Mow, e falamos sobre Stablecoins — sobre como elas estavam começando a se envolver em várias frentes. Naquele momento, ninguém estava realmente falando sobre isso. Mas agora, em 2025, todo mundo fala sobre Stablecoins. Nós já discutíamos esse tema há bastante tempo, porque acreditamos que elas representam o futuro e são o cavalo de tróia das criptomoedas”, afirmou.

Ainda segundo Lopes, a adoção das criptomoedas no mundo tradicional já começou com as stablecoins entrando nos aplicativos das fintechs, como a Truther, entre outras. A segunda fase, também em andamento, é as stablecoins entrando nos aplicativos bancários permitindo pagamentos instantâneos.

“Isso já está acontecendo, vemos Nubank, Itaú e outros grandes bancos adotando stablecoins. O próximo passo é o uso de stablecoins para gerar liquidez nos mercados tradicionais, como empréstimos, entre outros”.

Privacidade

Mas segundo Lopes, há um obstáculo importante: a privacidade. Em conversas com bancos centrais, o principal problema apontado é que eles não aceitam um modelo em que o usuário possa transferir dinheiro diretamente da sua conta e outra pessoa consiga ver seu saldo ou suas transações. Esse é o ponto mais sensível, e é preciso resolver isso.

É justamente por isso que tecnologias como a Liquid e a Plasma serão fundamentais no futuro. No Brasil, por exemplo, já existem cinco bancos utilizando nossa tecnologia para desenvolver soluções que permitirão oferecer contas digitais em dólar.

Lopes aponta que com esta tecnologia, bancos e fintechs poderão emitir contas em stablecoin sem precisar de licenças complexas ou caras. Além disso, terão a opção de entregar a chave privada diretamente ao usuário, evitando o modelo de custódia centralizada.

“Colocando de forma simples: a maneira mais prática de fazer o usuário começar a usar criptomoedas pode vir justamente daqueles que mais resistem a elas — os bancos tradicionais. Mas é preciso usá-los como um canal de entrada para que mais pessoas tenham acesso a essa nova economia digital. Essa abordagem já está funcionando no Brasil, e o próximo passo é expandir esse modelo para outros países da América Latina.”. finalizou.

Dados do Banco Central do Brasil apontam que 90% da movimentação do mercado cripto no Brasil são de stablecoins. Além disso, recentemente o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto argumentou que o avanço das stablecoins já não pode ser ignorado. O movimento é global e cresce de forma acelerada, especialmente em países emergentes. Nessas regiões, onde a moeda local costuma ser pouco conversível e onde há receio de restrições de saída de capital, a demanda por moedas digitais está em forte expansão.

Segundo ele, “quanto menos conversível a moeda, maior é o desejo das pessoas por stablecoins”. Esse comportamento explica por que o crescimento desses ativos é tão expressivo em países com instabilidade cambial.

De acordo com ele, o fenômeno já pode ser observado de perto no Brasil. O cidadão comum, que antes enfrentava dificuldades para abrir uma conta em dólar, hoje consegue manter valores nessa moeda de forma simples. Com stablecoins, qualquer pessoa pode comprar US$ 50 ou 100 em minutos, sem burocracia e sem depender de grandes instituições financeiras.

Campos Neto destacou que esse movimento veio para ficar. Em alguns mercados, o crescimento das stablecoins ultrapassa 200% ao ano. Em outros, a média gira em torno de 70%, mas sempre com forte tendência de alta.

No entanto, a função principal dessas moedas digitais ainda não é transacional. Ele explicou que, quando comparadas ao chamado “quase dinheiro”, as stablecoins apresentam três vezes menos rotatividade. Isso mostra que, na prática, os stablecoins são usados principalmente como reserva de valor e não como meio de pagamento.

O quadro muda um pouco quando entram as remessas internacionais. Nesse segmento, o crescimento tem sido muito expressivo. Ainda assim, o uso predominante segue sendo como forma de proteger patrimônio em dólar.

No entanto, segundo Campos Neto, as stablecoins entrarão em um ambiente de competição intensa. A próxima grande disrupção, segundo ele, será o desenvolvimento de soluções de segunda camada (second layer solutions), que permitam navegar entre diferentes stablecoins de forma integrada.

Quando isso acontecer, essas moedas digitais deixarão de ser utilizadas apenas como reserva de valor e passarão a cumprir, de fato, a função de meio de transação global.