O crescimento do mercado de criptomoedas ao longo de 2021 mostrou-se excepcionalmente frutífero para o surgimento de novas teses e narrativas. A ascensão do mercado DeFi, a febre dos NFTs e o hype do metaverso impulsionaram o crescimento das plataformas de contratos inteligentes e abriu caminho para uma competição ainda em aberto pelo posto de "Ethereum Killer".
Com diferentes propostas e abordagens tecnológicas, até pouco tempo atrás o ano vinha sendo excepcional para Solana (SOL), Cardano (ADA), Polkadot (DOT), Avalanche (AVAX), Terra (LUNA) e até mesmo para outras redes com capitalização de mercado mais modesta, como Fantom (FTM), Kadena (KDA) e Harmony (ONE).
Diante da queda generalizada do mercado puxada pelo mergulho do Bitcoin (BTC) abaixo dos US$ 50.000, a euforia parece ter chegado ao fim. Independentemente da desvalorização em si, até certo ponto natural diante de um cenário macroeconômico incerto pressionando investidores a realização de lucros em uma rota de fuga dos ativos de risco, as duas "Ethereum Killers" mais badaladas do mercado expuseram falhas recentemente que colocaram em dúvida suas viabilidades enquanto alternativas reais ao Ethereum (ETH).
Questionamentos ao mecanismo de consenso da Solana
Em menos de cinco dias, entre quinta e segunda-feira, a rede da Solana apresentou problemas de congestionamento e falhas na conclusão de transações supostamente em função da oferta inicial de game tokens na exchange descentralizada Raydium (RAY). Alguns afirmaram que se trataram de ataques DDoS (Negação de Serviço Distribuído) e embora a razão dos problemas não tenha ficado totalmente clara, diversos questionamentos à eficiência do mecanismo de consenso da rede surgiram após os incidentes.
Em uma manifestação no Twitter, Justin Bons, fundador e CIO da firma de investimento em criptoativos Cyber Capital, apontou as vulnerabilidades do "Proof-of-History", explicando porque nenhuma outra blockchain antes da Solana optara por adotar tal mecanismo.
1/6) Solana was DDoS attacked again yesterday
— Justin Bons (@Justin_Bons) December 10, 2021
This attack exploited fundamental design flaws which are considered features by SOL
As it sacrifices decentralization & security for speed
While ignoring the consequences of that trade off
Specifically Proof of History & Turbine:
Solana sofreum um ataque DDoS novamente ontem. Este ataque explorou falhas de design fundamentais que são consideradas qualidades pela equipe SOL, pois ele sacrifica a descentralização e a segurança em benefício da velocidade. Ao mesmo tempo, ignora as consequências dessa opção. Especificamente Prova de História e Turbina ...
A postagem viralizou, iniciando um debate sobre os riscos do "Proof-of-History" à segurança da rede. No PoH, os validadores da Solana registram eventos de forma independente. Como o mecanismo de consenso da Solana permite que sejam previstos quem serão os próximos validadores, basta atacá-los, e não a rede como um todo, para causar danos ao funcionamento do sistema.
Se por um lado, o mecanismo economiza tempo, evitando a necessidade de sincronização de toda a rede, ele também reduz bastante a segurança da Solana quando a comparada a redes que utilizam a Prova-de-Trabalho (PoW) e a Prova-de-Participação (PoS) como mecanismos de consenso.
Debates no Twitter à parte, anteriormente um relatório da firma de investimento Grayscale já lançara um alerta sobre os potenciais riscos do "Proof-of-History":
“O mecanismo de consenso da Solana usa uma nova tecnologia de blockchain que não é amplamente difundida e pode não funcionar conforme o planejado. Pode haver falhas na criptografia subjacente à rede, incluindo falhas que afetam a funcionalidade da rede ou a torna vulnerável a ataques.”
Desde que a primeira falha na rede tornou-se evidente na quinta-feira, o SOL desvalorizou-se em 13%. No momento em que este texto está sendo escrito, a cotação do par SOL/USDT é de US$ 169,49, de acordo com dados do CoinMarketCap. Formando fundos com mínimas cada vez mais baixas, o SOL parece estar consolidando uma tendência de baixa iniciada em 7 de novembro.
Gráfico diário SOL/USDT. Fonte: CoinMarketCap.
Um alento para os traders é que mais de 76% do estoque do SOL atualmente em circulação está em staking no momento, reduzindo o volume da criptomoeda nas exchanges e, ao menos teoricamente, pressionando o preço para cima.
Além disso, em termos de atividade de desenvolvedores, a Solana é a líder no momento, de acordo com a firma de monitoramento de dados Santiment.
📈 #Solana ( $SOL ) has been leading the way in development activity among top cap #crypto projects, and has surpassed the also impressive daily #github submission rates of #Polkadot ( $DOT ) and #Cardano ( $ADA ) over the past month. 🧑💻 https://t.co/R7pXIp70Kw pic.twitter.com/ozjl1hx7PL
— Santiment (@santimentfeed) December 12, 2021
#Solana ($SOL) tem liderado as atividades de desenvolvimento entre os principais projetos #crypto e ultrapassou as impressionantes taxas de atividade diária do #Polkadot ($DOT) e da #Cardano ($ADA) no #github no mês passado.
— Santiment (@santimentfeed)
Falha universal nos dApps da Cardano
Enquanto isso, a revelação de que os contratos inteligentes da Cardano contém uma falha que afeta o funcionamento de todos os dApps (aplicativos descentralizados) construídos para rodar em sua rede pode atrasar ainda mais o desenvolvimento do ecossistema do protocolo.
A falha foi divulgada por Jonathan Fischoff, fundador da Canonical, uma empresa especializada em contratos inteligentes Plutus, na semana passada. Embora não tenha afetado a comunidade da Cardano, que se manteve indiferente à revelação, a falha levanta novas dúvidas sobre a real utilidade da rede de Charles Hoskinson.
Embora Fischoff não ofereça detalhes sobre a natureza da falha e afirme que ela não afete o registro da movimentação de fundos na rede, ele coloca em risco a eficiência e a utilidade dos contratos inteligentes da Cardano. Segundo ele, a solução para o problema passa pela reconfiguração dos contratos inteligentes, o que eventualmente poderá implicar em atrasos em suas implementações.
Dirigindo-se aos desenvolvedores de dApps da Cardano, ele explicou:
"Se você não entender a natureza do ataque, é muito provável que ele esteja em seu código. Além disso, a mitigação do ataque tem implicações em torno do design e da eficiência dos contratos inteligentes, o que pode levar a uma quantidade considerável de reprogramações se você não estiver ciente das restrições de design desde o início."
Em seu comunicado, Fischoff disse também que comunicou a falha aos principais desenvolvedores do protocolo para que dApps em desenvolvimento não fossem lançados com a vulnerabilidade à falha incorporada.
Uma das principais qualidades alardeadas pela comunidade da Cardano é de que a rede seria mais segura quando comparada a outras plataformas de contratos inteligentes. Embora a revelação de Fischoff coloque em xeque a suposta superioridade da rede nesse quesito, a comunidade não se deixou abalar pela notícia. De qualquer forma, a Cardano continua sob pressão pela inegável inoperabilidade da rede nesse momento.
De fato, a notícia teve pouco impacto sobre o preço do ADA. Depois de atingir a máxima histórica de US$ 3,01 no início de setembro, a moeda entrou em uma tendência de baixa que vem se aprofundando durante a recente queda generalizada do mercado.
Cotado a US$ 1,21 no momento em que este texto está sendo escrito, está mais de 60% abaixo do recorde histórico de preço, retestando um antigo suporte na faixa de US$ 1,20, região que não frequentava desde 25 de julho.
Gráfico diário ADA/USDT. Fonte: CoinMarketCap.
Uma queda abaixo deste patamar pode selar um mergulho abaixo do forte suporte psicológio de US$ 1,00.
No entanto, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, uma configuração de fundo triplo pode impulsionar uma alta de 30% do preço do ADA, a depender dos rumos da política monetária do FED (Banco Central dos EUA) que serão anunciados nesta quarta-feira.
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