As grandes margens de lucro dos mineradores do Bitcoin (BTC) registradas no ano passado durante o ciclo de alta do mercado de criptomoedas estão ficando cada vez mais distantes e a recente ação de preço e os fundamentos da rede apontam que haverá um longo inverno pela frente, informou reportagem do portal e-investidor.

Gigantes do setor de mineração, como a Marathon Digital Holdings e a Hut 8 Mining, abriram capital na bolsa para levantar fundos para atravessar os tempos difíceis que se anunciam, enquanto outras empresas estão recorrendo à emissão de dívida e a linhas de crédito para sustentar suas atividades.

Não bastasse a queda do mercado desde que o Bitcoin registrou sua máxima histórica, que derrubou o par BTC/USD 40% abaixo do recorde de preço de US$ 69.000, a dificuldade da rede, que mede o poder de processamento necessário para a emissão de novas moedas, e a taxa de hash estão próximas de suas máximas históricas, a pressão sobre o setor vem aumento dia a dia. 

Embora as margens de lucro ainda estejam acima de 70% para os maiores players do mercado, o que faz da mineração de Bitcoin uma das indústrias mais lucrativas do mundo, comparável à de produtos farmacêuticos e de alto luxo, e o setor siga atraindo novos investimentos, os dirigentes de algumas das maiores empresas já estão se preparando para cenários hipoteticamente desfavoráveis.

O preço do Bitcoin ainda precisaria cair mais para que a Hut 8 passe a considerar mudanças operacionais significativas, incluindo a venda de parte de suas reservas em BTC para manter os níveis atuais de atividade, afirmou o CEO da Hut 8, Jaime Leverton. No entanto, uma variação negativa para o setor já estava no horizonte da empresa antes mesmo da mais recente queda do mercado, declarou Leverton à reportagem:

"Desde que assumi o comando, há 16 meses, adotamos uma estratégia de focar primeiro no balanço inicial. Comecei a focar na diversificação ciente de que esse negócio é cíclico e porque queríamos ter certeza de que estaríamos melhor preparados para futuros apertos."

A instabilidade geopolítica global causada pela invasão da Ucrânia pela Rússia abalou os mercados globais, já ressabiados com o aperto monetário anunciado como medida de combate à inflação crescente. Além das especulações de que os criptoativos poderiam ser usados pelo governo e por magnatas russos para burlar as sanções econômicas, que adicionaram alto grau de volatilidade aos mercados, o conflito no leste europeu provocou um aumento nos custos de energia elétrica.

Uma vez que a eletricidade responde em média por metade dos custos operacionais do mineradores, isso teve um impacto direto sobre as atividades das empresas do setor. Após sofrerem forte abalo, as ações da Marathon, Riot e Hut 8 se estabilizaram este mês, depois de terem caído aproximadamente 60% em relação aos topos de novembro do ano passado.

Uma das poucas perspectivas otimistas no cenário atual baseia-se numa possível redução da participação da Rússia na taxa de hash global do Bitcoin. Caso aconteça, é possível que haja um efeito semelhante ao da proibição da China à mineração em meados de 2021.

A interrupção das atividades dos mineradores chineses provocou uma grande retração da taxa de hash da rede e potencializou o lucro dos mineradores no resto do mundo, como destacou o CEO da Marathon, Fred Thiel, à reportagem:

"Nesta crise, provavelmente veremos uma ligeira queda na taxa de hash global. Se você voltar ao ano passado, quando a proibição na China aconteceu, houve uma queda de quase 50% durante alguns meses antes de subir outra vez."

Assim como o preço do Bitcoin, a taxa de hash global têm enfrentado períodos de alta volatilidade desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, de acordo com o analista do BTIG, Greg Lewis. Segundo ele, a Rússia tem uma participação de aproximadamente 15% na taxa de hash global. O comprometimento das atividades de mineração no país, ainda que parciais, devem ter efeito sobre a lucratividade da indústria, afirmou:

“Os mineradores que continuam trabalhando, independentemente de serem grandes ou pequenos, se saem melhor quando as taxas de hash globais diminuem. Por exemplo, se as taxas de hash globais caíssem 50%, não importa se um minerador detém 1% do hash global ou uma fração disso, cada um deles veria sua porcentagem de hash dobrar."

Um inverno diferente

Os líderes das principais empresas do setor afirmam que mesmo que o Bitcoin volte aos níveis do ápice do ciclo de 2017, cuja máxima histórica ficou um pouco abaixo de US$ 20.000, as operações não seriam comprometidas. Desde então, além de terem se beneficiado do ciclo de alta de 2021, as grandes mineradoras criaram novas estratégias de capitalização.

O chefe da Riot Blockchain, Jason Les, garantiu que os planos de expansão da empresa serão mantidos independentemente das condições pontuais do mercado:

"Planejamos continuar com nossos planos de expansão, não importando as condições do mercado. Conforme a indústria amadurece, há cada vez mais ferramentas à disposição de um minerador para obter fundos.”

Além da abertura de capital, as empresas podem realizar operações financeiras utilizando as próprias criptomoedas, como por exemplo, fazer ou tomar empréstimos, aplicá-las em plataformas de poupança para obter rendimentos, e montar posições de hedge para obter recompensas ou protegê-las das oscilações do mercado.

A cada dia que passa, os sinais de que o mercado já vive um novo inverno cripto tornam-se cada vez mais evidentes. Após um fim de semana de calmaria, o Bitcoin abriu a semana em queda de 3,4% nas últimas 24 horas. Mantendo a correlação com o mercado acionário em um cenário altamente desfavorável para ativos de risco, na manhã desta segunda-feira o par BTC/USD está cotado a US$ 41.134, de acordo com dados do CoinGecko

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