O Paraguai, conhecido por suas baixas tarifas de energia, está prestes a perder um dos seus setores de crescimento mais rápido: a mineração de Bitcoin. A recente decisão do governo de aumentar as tarifas de energia para mineradores de Bitcoin pegou muitos de surpresa e pode resultar na saída de várias empresas do país.
A notícia ocorreu poucos dias após o próprio governo do país declarar que preferia vender energia para os mineradores de Bitcoin do que para o governo brasileiro, pelo acordo da usina binacional de Itaipu.
Andy Jasmin, vice-presidente da Câmara Paraguaia de Mineros de Ativos Digitais, revelou que a Administração Nacional de Eletricidade (ANDE) e o governo aumentaram de forma repentina a tarifa para o grupo de consumo intensivo especial. Este grupo, criado por um decreto presidencial em 2022, já havia enfrentado um aumento de 54% na tarifa, além da dolarização dos custos, sendo o único grupo no Paraguai que paga sua tarifa em dólares.
Jasmin criticou a exigência da ANDE de depósitos equivalentes a dois meses para consumidores de média tensão e três meses para alta tensão. O aumento das tarifas, segundo Jasmin, coloca os mineradores no limite da rentabilidade, afetando tanto empresas nacionais quanto internacionais que operam no Paraguai.
“Tínhamos pré-pago dois a três meses de consumo em dólares na ANDE, então a ANDE não tinha risco de inadimplência da nossa parte”, comentou ele.
Aumento na energia no Paraguai
Lorena Almada, educadora bitcoiner no Paraguai, também destacou que a notícia foi um golpe duro para um país com tanto potencial de atrair investidores. Segundo ela, mineradores menores estão quebrando contratos após essa decisão.
Assim como Jasmin, ela aponta que em 2022, a ANDE criou um grupo especial para mineração e datacenters estabelecendo que o preço da energia por kWh seria fixado em dólares, enquanto outros setores pagam em guaranis (a moeda local).
"O governo paraguaio faz de tudo para não ter segurança jurídica no país em consequência que mineradores não tenham segurança nos investimentos. A ANDE dificulta muitíssimo a compra de potência quando se trata de mineradores, aplicam tanta burocracia para ser impossível fazer as coisas da forma certa. Além disso, funcionários da ANDE são cúmplices.
Sempre que apreendem um minerador "ilegal", as máquinas desaparecem. Imagina fazer um investimento de milhões no Paraguai contando com um retorno em 5 anos e que no dia seguinte o governo simplesmente decida sacanear a indústria. Essa é a realidade aqui", afirmou.
Tanto Jasmin quanto Almada destacam que a decisão foi tomada unilateralmente, sem consultar os mineradores. Jasmin criticou a visão equivocada do governo de que a energia para mineração de criptomoedas é altamente lucrativa e pode suportar qualquer aumento de tarifa.
“Nosso negócio opera com margens de rentabilidade entre 15% e 30%. Um aumento abrupto na tarifa destrói essa margem, tornando a operação inviável”, lamentou.
A Câmara Paraguaia de Mineros de Ativos Digitais estima que, se as empresas de mineração de criptomoedas deixarem o país, a ANDE terá que devolver cerca de US$ 40 milhões em garantias, uma perda significativa considerando a atual situação financeira da estatal. Além disso, a mudança nas tarifas pode afetar a capacidade do Paraguai de cumprir seus compromissos energéticos com o Brasil.
Os mineradores de criptomoedas no Paraguai estão pedindo um diálogo com o governo para reconsiderar o aumento das tarifas. Existem rumores de que o aumento pode ser estendido para outras indústrias e até para os cidadãos, o que poderia ter um impacto ainda maior na economia do país.
Em um cenário onde a confiança e a segurança jurídica são cruciais, o futuro da mineração de Bitcoin no Paraguai está incerto.