Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o dólar tem sido a moeda mais importante do mundo. É a moeda de reserva mais comum e é a moeda mais usada para o comércio internacional e outras transações em todo o mundo. A centralidade do dólar na economia global confere alguns benefícios aos Estados Unidos, incluindo emprestar dinheiro no exterior com mais facilidade e estender o alcance das sanções financeiras dos EUA.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), órgão responsável por monitorar o sistema monetário internacional, reconhece oito principais moedas de reserva: o dólar australiano, a libra esterlina britânica, o dólar canadense, o renminbi chinês, o euro, o iene japonês, o franco suíço e o dólar americano. O dólar americano é de longe a moeda de reserva mais comumente mantida, constituindo mais de 60% das reservas globais de moeda estrangeira.

A maioria dos países deseja manter suas reservas em uma moeda com mercados financeiros grandes e abertos, pois desejam ter certeza de que poderão acessar suas reservas em um momento de necessidade. Os bancos centrais costumam manter moeda na forma de títulos do governo, como os títulos do Tesouro dos EUA.

O mercado do Tesouro dos EUA permanece de longe o maior e mais líquido do mundo - o mais fácil de comprar e vender - mercado de títulos. 

Contudo, segundo o próprio FMI, há demanda e estudos que levam a crer que as moedas soberanas digitais (CBDC - na sigla em inglês) podem se tornar ferramentas monetárias importantes para os bancos centrais e seguindo esse cenário, a criação de uma moeda digital universal que serviria para substituir o dólar como moeda de transação.

Na China, uma experiência realizada com a JD Corporate, o segundo maior e-commerce da China, é a primeira empresa a aceitar o Yuan digital, parte de um teste realizado na cidade de Suzhou, ¥20M em circulação com a moeda digital. 

Em 2020, a China se tornou o primeiro grande país a colocar uma CBD em uso limitado; teste de um renminbi digital por bancos, governo, empresas e indivíduos está atualmente em andamento em 28 províncias. Implicações sobre a reserva monetária de uma emissão CBDC dependeria das circunstâncias do país e globais. O Diretor de Inteligência Nacional chegou até alertar os riscos da CBDC china como ameça a segurança nacional. 


As moedas digitais de bancos centrais -como a DPEC chinesa- podem dominar o mercado de transações financeiras: no Brasil, o PIX é só o começo, como já sugeriu Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (Bacen).

 

A ascensão das moedas digitais soberanas e câmbios múltiplos

Ainda segundo o estudo do FMI, as moedas digitais podem assumir várias formas e podem ser emitidas por ambos setores público e privado. As implicações das moedas digitais para a reserva monetária e sua participação na economia, dependerá do tipo de moeda digital prevalecente.

Muitos bancos centrais estão considerando seriamente a emissão de uma moeda digial de banco central (CBDC). Uma pesquisa recente do BIS com bancos centrais indica que cerca de 80% destes estão envolvidos em trabalhos relacionados a CBDCs e 40% progrediram para experimentos ou prova de conceito.

Um CBDC emitido pelos atuais emissores pode aumentar a demanda por reservas denominadas nessas moedas, ao passo que um CBDC emitido por países menores com estruturas de política altamente credíveis poderia tornar suas moedas mais fácil de usar como reservas.

 

Um CBDC universal e o projeto Diem

Recentemente em discurso feito para uma conferência virtual, a Diretora Gerente Kristalina Georgieva, tocou na questão da ideia de um CBDC universal e sobre sistemas de pagamentos transfronteiriços. Uma moeda hegemônica sintética, apoiada por uma cesta de CBDCs, poderia fornecer serviços de pagamentos domésticos e transfronteiriços mais eficientes, beneficiando a credibilidade de vários bancos centrais que o apoiam. Tal arquitetura poderia mudar a demanda por reservas denominadas em moedas na cesta com base em seu peso relativo.

Moedas digitais privadas também podem surgir como importantes moedas internacionais. Em 2019, o Facebook anunciou planos de lançar Libra, recentemente renomeada para Diem, uma moeda única privada com alcance potencialmente global, que poderia tornar-se o primeiro exemplo de uma stablecoin global, mas que se encontra sob forte escrutínio institucional.

Nos cenários estudados pela pesquisadora do FMI, Alina Iancu e seus pares, dizem que apesar do lançamento de uma moeda única universal poder aumentar a demanda por moedas de reserva fiduciárias nas quais esta seria apoiada, as moedas digitais universais não precisam ser apoiadas por moedas de reserva fiat existentes e podem elas próprias alcançar o status de moeda de reserva. Também é concebível que mais de uma stablecoin global poderia se tornar um ativo de reserva.

Nesse quesito de reserva de valor e uso para pagamento transfronteiriço o Bitcoin poderia encontrar não somente um rival, na forma do Diem, mas vários competidores com magnitudes diferentes. 

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