Em entrevista concedida ao editor-chefe do Cointelegraph Brasil, Lucas Caram, o venture partner responsável pelo Honey Island Web3 Fund, Gean Chu, revelou detalhes sobre o fundo lançado recentemente no Brasil. O produto foi criado por fundadores da fintech EBANX com objetivo de explorar os segmentos relacionados à Web3.
Gean Chu também salientou a importância da descentralização ao comentar a crise deflagrada recentemente no sistema bancário dos EUA. Ele falou sobre a adoção da blockchain e outras tecnologias, além de defender a importância da regulamentação, apesar de qualificar a normatização como uma “faca de dois gumes.”
O executivo deixou claro que a Honey Island é uma empresa distinta de sua empresa irmã, o EBANK, e acrescentou que a ligação entre a Honey com fintechs, além de movimentos internos de venture capital por parte dos fundadores do empreendimento, serviu de catalisador para o lançamento do novo fundo.
“Começou a ficar cada vez mais claro a Web3 era a nova fronteira do mercado de techs, então era algo que a gende devia estar cada vez mais próximo, num grau cada vez maior. E aí foi tomada a decisão de criar um veículo realmente dedicado para isso, pra poder vivenciar a Web3 em sua forma mais pura”, disse.
O executivo distinguiu o Honey Island Web3 Fund de outros fundos que, segundo ele, “fazem investimento só na participação em novas startups.”
“Esse veículo [Honey Island Web3 Fund] foi criado para a gente atuar de forma nativa na Web3: on-chain mesmo, operando em DeFi [finanças descentralizadas], staking, farming, fazendo custódia em wallets, usando a DeFi, a Web3, como a tecnologia nasceu para ser usada”, explicou.
Gean Chu argumentou que a crise do sistema bancário dos EUA “ só fortalece os fundamentos e por que a Web3 foi criada” e lembrou que “o que inspirou a criação do Bitcoin foi a crise financeira de 2008 e esse lembrete amargo que estamos vivenciando agora só reforça esses fundamentos.”
“É importante que haja uma segregação dos sistemas financeiros, dos governos, que não acham entidades centralizadas que conseguem colocar a mão e afetar a premissa do dinheiro, imprimir dinheiro. Eu lembrei, de fato, por que nós precisamos da Web3, porque precisamos do Bitcoin, por que precisamos do dinheiro programável e transparente e resistente à censura, como o Ethereum e DeFi”, emendou.
O empresário comparou o estágio atual de adoção da blockchain e outras tecnologias que sustentam as criptomoedas com o a internet em 1997, quando a rede mundial de computadores era “uma coisa difícil de usar, não era amigável, feia, tudo era complicado, tudo que a gente vive hoje em Web3.”
“Existe muito a ser evoluído ainda, teve uma adoção mais dos entusiastas, o caminho está sendo pavimentado para uma adoção em massa e em rede. Quando a gente junta os benefícios da Web3 e dinheiro programável, resistência à censura, transparência, que começa a trazer todo essa lado de facilidade de uso a gente começa a quebrar as barreiras de pode levar à adoção em massa dessa tecnologia”, justificou.
O responsável pelo Honey Island Web3 Fund destacou a importância da entrada de grandes instituições ao citar o ingresso do gigante bancário JPMorgan que “hoje já conta com uma blockchain própria, onde eles já realizam sistemas financeiros importantes que não seriam possíveis no sistema financeiro tradicional, só são possíveis pra eles por conta da tecnologia blockchain, como é o caso de crédito em curtíssimo prazo.”
Por outro lado, Gean Chu frisou que iniciativas como a do JPMorgan acontecem dentro de sandboxes regulatórios, “testes de bancos centrais, nos países que estão sendo mais inovadores e permitem esse tipo de teste.” Nesse caso, ele saiu em defesa da regulamentação ao argumentar a importância da entrada de países relevantes economicamente, com plataformas bem definidas, com clareza e limites bem definidos, para explosão do mercado cripto.
“A gente está vendo a regulamentação caminhando em todas as jurisdições, o Brasil está saindo na vanguarda disso, então eu acredito que num prazo de poucos anos a gente já deve ter um cenário muito mais claro e muito mais favorável para as inovações”, salientou.
Apesar de elogiar a atuação do Banco Central do Brasil e destacar a importância da definição das regras de normatização acontecerem no âmbito do poder Executivo como forma de proporcionar a celeridade que o mercado exige, Gean Chu disse que a regulamentação pode ser uma “faca de dois gumes” ao acrescentar que:
“Da mesma maneira que a regulamentação, no poder Executivo, ela pode caminhar rapidamente para se adequar à tecnologia, ela também pode dar passos para trás na mesma velocidade e, muitas vezes, uma empresa que você construiu baseadas numa série de premissas, essas premissas deixam de existir, e aí a empresa deixa de ser viável ou alguma coisa desse tipo.”
Gean Chu disse ainda que as tecnologias disruptivas podem favorecer a internacionalização da economia brasileira. Ele citou a facilidade de uso e a massificação do Pix ao defender que, no futuro, a blockchain, Web3 e outras tecnologias farão parte do dia a dia das pessoas.
“Essa é minha expectativa com a blockchain e DeFi em geral. É você trazer, da mesma maneira que o Pix, ter serviços financeiros por meio do Real Digital [...] Quando você consegue plugar o sistema financeiro brasileiro no mercado global em uma blockchain pública em DeFi, você consegue desbloquear uma série de atritos e fricções para plugar capital internacional para a economia brasileira”, finalizou.
Quem também está de olho na regulamentação das criptomoedas é o G7. Líderes de Japão, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha e União Europeia devem traçar, em maio, uma estratégia cooperativa a nível global para tratar de ativos digitais, conforme noticiou o Cointelegraph.
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