Em agosto de 2021, o Ethereum (ETH) começou a tirar de circulação parte das ETH usadas para o pagamento de taxas de gas. A funcionalidade foi implementada através da Proposta de Melhoria do Ethereum 1559, ou EIP-1559. A expectativa era que a mudança do algoritmo de consenso para prova de participação reduziria a emissão de ETH, fazendo com que a rede se tornasse deflacionária.

Desde o ‘The Merge’, ocorrido em 15 de setembro de 2022, o Ethereum já se tornou deflacionário, com emissão de 0,11% negativo. Os dados são do Ultrasound Money. Pesquisadores ouvidos pelo Cointelegraph Brasil avaliam que o número já era esperado, e que o Ethereum deve se tornar ainda mais deflacionário com a popularização de suas soluções de segunda camada.

Importância do Merge

O status de ‘blockchain deflacionária’ não é almejado apenas pelo Ethereum. Em janeiro de 2022, a Polygon (MATIC) também implementou a EIP-1559, com a proposta de queimar 27 milhões de tokens por ano. Dados do Polygon Burn, no entanto, apontam que apenas 9,5 milhões de MATIC foram queimados. 

A primeira mudança importante para que o Ethereum conseguisse se tornar deflacionário foi a migração de prova de trabalho para prova de participação. Uma simulação feita através da plataforma Ultrasound Money revela que, em vez de uma emissão em -0,11%, o número de ETH disponíveis no mercado teria aumentado 3,46% desde o Merge.

Simulação com o modelo de consenso por prova de trabalho. Fonte: Ultrasound Money

Deflacionária de verdade

Rony Szuster, analista de criptoativos do Mercado Bitcoin (MB), avalia o índice deflacionário de ETH como razoável. “Em seis meses após o Merge, é um valor bem razoável. Talvez eu esperasse um valor até mais deflacionário, mas o que temos hoje está em linha com as expectativas.”

Quem também já esperava um estado deflacionário no Ethereum é Guiriba, pesquisador da Paradigma Education. Ele aponta que, desde 15 de janeiro, a ETH é uma criptomoeda deflacionária de verdade “Digo ‘de verdade’, porque outros projetos desenham tokenomics focando nesse objetivo, mas não conseguem atingi-lo, porque dependem de queimar mais tokens do que imprimi-los”, diz Guiriba.

O pesquisador da Paradigma aponta que a melhora no sentimento do mercado, somada à adoção de soluções de segunda camada do Ethereum, notadamente a Arbitrum, foram fundamentais para o resultado. “Todas [as soluções de segunda camada] utilizam ETH como ‘combustível’ em suas redes, aumentando a demanda pela Ether e queimando mais ETH ao decorrer do tempo.”

Expectativas para 2023

A narrativa de soluções de segunda camada do Ethereum tem sido uma das mais focadas por investidores em 2023. Para Guiriba, esse é o cenário ideal para “Ethers serem queimadas a rodo.”

“A Arbitrum abriu a temporada de airdrops de tokens nas soluções de segunda camada, puxando zkSync e outros projetos para também distribuírem seus respectivos tokens. Se suas concorrentes seguirem sua estratégia, vários protocolos terão tokens de governança para incentivar liquidez nas suas redes. Com mais recompensas, mais usuários vão usar seus contratos, mais ETH serão utilizadas e a deflação apenas aumentará”, avalia o pesquisador.

Rony Szuster, do MB, acredita que os avanços feitos pelos zk rollups, como o zkSync, popularizarão ainda mais o uso de soluções de segunda camada. Esse cenário aumentará a queima de ETH, aumentando a deflação do criptoativo. Além disso, Szuster também menciona a atualização Cancún, prevista para ocorrer no final de 2023, que pode também aumentar a queima de ETH.

“O Cancún vai maximizar muito [o uso da rede], pois ficará muito mais barato, com muito mais gente usando. Acredito que há potencial para aumentar muito a queima de ETH na rede após o Cancún”, conclui Szuster.

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