Resumo da notícia

  • PeerDAS e Blob forks otimizam o uso dos blobs e reduzem custos de rede

  • MODEXP define novos limites de gás e melhora a eficiência dos blocos

  • Autenticação biométrica chega ao Ethereum com a curva secp256r1

Os desenvolvedores do Ethereum anunciam mais uma atualização para a maior blockchain de contratos inteligentes do mundo, a Fusaka. Nos fóruns, nas redes sociais e em diferente canais os devs detalham as melhorias para a rede e como os criadores de contratos inteligentes vão se beneficiar disso.

No entanto, buscando entender o que realmente esta atualização significa para os usuários do Ethereum e de todo mercado de criptomoedas, o Cointelegraph Brasil conversou com Tomas Mika, criador de conteúdo da Fundação Ethereum e responsável por ‘traduzir’ para o público os planos da rede.

Confira

Fusaka: o próximo capítulo na evolução do Ethereum

Imagine tentar trocar o motor de um avião enquanto ele ainda está em pleno voo. Algo parecido, embora ainda mais complexo, são as atualizações do Ethereum. Há mais de dez anos, a rede vem se aprimorando sem parar, graças a uma coordenação entre milhares de nós e equipes de desenvolvimento espalhadas pelo mundo.

A história recente do Ethereum pode ser contada através de seus upgrades. Em março de 2024, com o Dencun, chegaram os blobs. Foi a introdução de um novo tipo de dado efêmero criado para que as camadas 2 publicassem transações no Ethereum de forma mais barata. Essa mudança reduziu taxas nos rollups e abriu caminho para uma nova era de escalabilidade.

Em maio de 2025 entrou em vigor o upgrade Pectra. Nele, os blobs não foram inventados, mas sim ampliados. O Pectra aumentou o número de blobs disponíveis por bloco e ajustou parâmetros essenciais da rede para sustentar essa expansão. O resultado foi mais espaço para as L2, maior throughput de dados e um Ethereum capaz de absorver muito mais atividade sem que as taxas disparassem.

Blobs

Agora, no fim de 2025, é a vez do Fusaka. Seu papel é resolver o problema que surge justamente dessa maior capacidade de blobs.

E o que são esses tal de blobs? Eles são como “caixas de dados temporárias” criadas para deixar as transações do Ethereum mais baratas e rápidas.Antes dos blobs, todas as informações de uma transação — inclusive as das redes que funcionam sobre o Ethereum (como Arbitrum, Optimism ou Base) — tinham que ser gravadas dentro da blockchain principal, o que deixava tudo mais caro e lento.Com os blobs, essas informações passam a ser guardadas fora da parte mais pesada da blockchain, em um espaço separado e temporário. Isso significa que os dados ficam acessíveis por um tempo curto (geralmente alguns dias), só o suficiente para garantir que a transação seja confirmada e verificada. Depois disso, eles somem da rede, liberando espaço.

PeerDAS

Pois bem, agora a atualização Fusaka introduz o PeerDAS, um mecanismo que distribui os blobs de maneira segura entre os nós. Em vez de cada nó guardar tudo, cada um conserva apenas uma fração, mas graças a técnicas criptográficas é possível reconstruir o conjunto completo mesmo que muitos nós não tenham todos os dados. Isso reduz de forma significativa os custos de hardware e largura de banda e permite que o Ethereum escale sem comprometer sua descentralização.

Confuso não? Vamos lá tentar simplificar. O PeerDAS é um novo sistema do Ethereum criado para organizar e distribuir os blobs (aqueles “pacotes de dados temporários”) de uma forma mais segura e eficiente entre os computadores que fazem parte da rede — chamados de nós ou validadores.Antes dessa atualização, cada nó precisava baixar todos os blobs para validar as transações, o que podia deixar a rede mais lenta e pesada conforme o volume de dados crescia. Com o PeerDAS, essa tarefa é dividida entre os nós, como se fosse um trabalho em equipe: cada um guarda e verifica apenas uma parte dos dados, mas todos conseguem confirmar que o conjunto completo está correto.

Blob-Parameter-Only forks

Além do PeerDAS, o Fusaka incorpora outras melhorias técnicas relevantes. Os chamados Blob-Parameter-Only forks permitem ajustar rapidamente a quantidade de blobs disponíveis sem depender de grandes atualizações.

Vamos tentar simplificar um pouco mais… o Blob-Parameter-Only fork é uma forma mais rápida e leve de o Ethereum ajustar a quantidade de blobs que podem ser usados na rede — sem precisar fazer uma grande atualização completa. Pense nele como um “botão de ajuste fino”: se a rede estiver ficando muito cheia, os desenvolvedores podem diminuir o número de blobs; se houver espaço e demanda, podem aumentar. Tudo isso sem paralisar o sistema nem exigir mudanças complexas no código principal.

A rede também avança em sua própria camada 1, com passos rumo à expiração de histórico e recibos mais simples, o que reduz o peso dos nós sem afetar a segurança. O Fusaka ainda estabelece limites mais claros em operações matemáticas como o MODEXP, fixa um teto para o gás que uma única transação pode consumir, alinha o tamanho máximo dos blocos da camada de execução com os da camada de consenso e prepara um aumento do limite de gás por bloco de 45 para cerca de 60 milhões.

Agora complicou… mas vamos lá. O MODEXP é uma função matemática complexa usada dentro da rede Ethereum para verificar cálculos criptográficos — operações que garantem a segurança e a autenticidade das transações. Essas operações são importantes, mas também consomem muito poder de processamento e gás (a taxa paga para usar a rede).Com a atualização Fusaka, o Ethereum passou a limitar o quanto uma única transação pode gastar com cálculos como o MODEXP, evitando que usuários ou contratos sobrecarreguem a rede com tarefas pesadas demais. Pense que ele é como se fosse o “Waze” da rede Ethereum, calculando o limite de gás das transações para que elas não congestionem o bloco e travem a rede, assim o o Ethereum aprende a trabalhar de forma mais inteligente, não apenas mais rápida, mantendo sua base técnica sólida à medida que cresce.

Ethereum tão rápido como o PIX e fácil de usar

Além das melhorias técnicas na infraestrutura que falamos acima, o Ethereum também está ficando mais fácil e rápido de usar para pessoas e empresas.

A primeira novidade é o Deterministic proposer lookahead, um recurso que permite prever com antecedência qual validador será responsável por propor o próximo bloco da rede. Na prática, isso abre espaço para pré-confirmações instantâneas — ou seja, transações que podem ser confirmadas quase em tempo real, com menos espera e mais segurança.

Sabe o nosso Pix? Então, com o Deterministic a proposta é deixar o Ethereum tão rápido quanto fazer um Pix.

Outra mudança importante é a adoção da curva secp256r1, um tipo de tecnologia de assinatura digital amplamente usada em celulares e navegadores modernos.

Com ela, o Ethereum passa a ser compatível com sistemas de autenticação já familiares, como Apple Secure Enclave, Android Keystore e FIDO2/WebAuthn.

Isso significa que os usuários poderão entrar em suas carteiras (wallets) e autorizar transações sem precisar de frases-semente complicadas ou longos backups manuais.

Bora simplificar ainda mais? Bom, graças a essa compatibilidade, as carteiras (wallets) poderão usar o sensor biométrico do seu aparelho para assinar transações — sem precisar digitar frases longas, guardar seeds em papel ou usar extensões complexas.Assim, você poderá autorizar uma transação com a sua digital, confirmar um pagamento com reconhecimento facial ou desbloquear sua wallet com o mesmo método que usa para o celular.Tudo isso com o mesmo nível de segurança criptográfica que a blockchain exige — só que com muito mais praticidade, igual ao que temos no celular :-)

Com a casa arrumada, fica mais fácil encontrar as coisas

Pois bem, então com a atualização Fusaka o Ethereum vai ‘fazer uma faxina na casa’, vendo quantas gavetas serão necessárias para guardar todos os papeis (Blob-Parameter-Only forks), depois guardando a papelada na gaveta certa e não mais tudo junto, (Blobs e PeerDAS) e usando o MODEXP, para que tudo fique bonitinho no escritório e não trave nada.

Com a ‘casa arrumada e mais inteligente’ a atualização vai permitir que tudo circule mais rapido na rede, pois com a casa arrumada, limpa e organizada, fica mais fácil encontrar o que se quer, que no caso do Ethereum é confirmar as transações garantindo que elas são reais :-)

E porque desse nome? Bom, ai…. a história é a seguinte, o nome Fusaka combina Fulu, uma estrela da constelação de Cassiopeia, com Osaka, a cidade japonesa que sediou a Devcon V. Seguindo a tradição, os upgrades da camada de execução recebem nomes de cidades que acolheram a Devcon, enquanto os da camada de consenso se inspiram em estrelas.

O Ethereum já passou por mais de dez hard forks em sua história, sempre de forma coordenada e sem que a rede parasse sequer por um instante. O Fusaka continua essa tradição, mas o faz sobre a base criada pelo Dencun e ampliada pelo Pectra, completando uma trilogia que redefine como o Ethereum lida com dados e abre um novo horizonte para sua escalabilidade de longo prazo.

A discussão sobre essas transformações não se limita ao aspecto técnico. Ela também atravessa as comunidades que constroem sobre o Ethereum em todo o mundo. Na América Latina, um dos momentos centrais será o ETH Latam São Paulo, de 6 a 9 de dezembro, organizado pelo ETH Kipu. Lá, blobs, PeerDAS e o futuro da rede estarão no centro da agenda, em um encontro que reunirá desenvolvedores, pesquisadores e comunidades da região ao lado de referências globais.