À medida que o mercado de criptomoedas cresce, a demanda por energia para alimentar as operações de mineração aumenta consequentemente. Segundo o site Digiconomis, as emissões de carbono produzidas no período de apenas um ano com o processamento de Bitcoin e criptos é de 92,07 toneladas de carbono, o que é semelhante à emissão de carbono do Chile em um ano.
Isso levanta preocupações sobre o consumo excessivo de energia e o impacto gerado ao meio ambiente. Segundo especialistas ouvidos pelo Cointelegraph, para garantir um futuro sustentável, é necessário que as empresas de cripto adotem práticas mais ecológicas, como a mineração verde e o uso de energias renováveis com uma baixa pegada de carbono.
Diante desse cenário, especialistas comentam para o Cointelegraph sobre a importância de ter um mercado mais sustentável com as criptomoedas.
Wander Guedes, Head da Mesa Prime da Transfero, destacou que apesar das muitas críticas sobre a mineração do Bitcoin, mais de 50% da energia usada para esse processo são de fontes renováveis. Além disso, ele aponta que a mineração saiu da China e já está presente em outros países.
"Dentro desse cenário, é importante que mais empresas desenvolvam e forneçam soluções sustentáveis para a indústria como um todo. Com o uso de fontes mais limpas de energia, é natural criar uma expectativa para uma corrida institucional com investimentos em projetos de energia renovável para alimentar a mineração de criptomoedas. Como consequência, podemos ter o desenvolvimento de tecnologias de mineração mais eficientes, fazendo com que o mercado cresça em valor, sendo mais transparente, rápido e menos custoso", disse.
Já Beto Fernandes, especialista e analista de criptomoedas da Foxbit, destaca que a sustentabilidade é bem-vinda em qualquer setor. Mas especificamente sobre as criptomoedas, a sustentabilidade é necessária não só pelo cuidado ao meio ambiente, mas também para desmistificar algumas narrativas criadas nos últimos anos.
Fernandes aponta que desde que Elon Musk citou o alto consumo de energia da criptomoeda, criou-se um movimento de crítica intensa em cima da criptomoeda, com dedos apontados para o uso de fontes energéticas poluentes.
"Claro que o processo de mineração pelo Proof of Work – ainda mais em uma rede enorme como a do BTC – o consumo de energia é alto. Porém, boa parte dela já utiliza energia renovável para isso. Recentemente, inclusive, um relatório de analistas da Bloomberg apontou que mais de 50% da eletricidade usada na mineração de BTC vem de fontes renováveis", disse.
Ainda segundo o especialista, o uso de energias sustentáveis no mercado de criptomoedas reflete o quanto essa classe de ativos e a blockchain são resilientes e maleáveis.
"No caso, é a tecnologia se moldando às necessidades das pessoas e ambientes, não o contrário. Então, esse cenário evidencia ainda mais todo o potencial que o setor pode oferecer, mantendo um respeito ambiental, sem perder qualquer ponto de eficiência em seu processo", afirma.
Mineração de criptomoedas
Volker Kuebler, CEO Hathor Labs, afirma que a mineração é um desafio matemático complexo, pois leva tempo até encontrar o resultado esperado. O processo todo requer muita energia pois para cada criptomoeda há um hardware altamente especializado e que, de modo geral, trocam energia por trabalho.
Por isso, Kuebler destaca que é interessante todas as iniciativas que visam trazer mais energias verdes para o meio de cripto.
"Nós, temos dois processos para reduzir o impacto ambiental: quem minera bitcoins, minera HTR adicional (Hathor, o token da empresa), e criamos o Hathor Green, um projeto para dar incentivo aos mineradores para que utilizem energia que não tenha emissão de carbono. A ideia é para que os mineradores que usam energia verde nas suas operações recebam uma bonificação.
Temos essa preocupação e queremos atrair mais mineradores verdes para nossa rede. Acredito que, no futuro, com o mercado valorizando cada vez mais esses tipos de iniciativas verdes, será algo natural que os mineradores vão adotar também", destacou.
Já William Ou, CEO da token.com, disse que o investimento em tokens vem crescendo e sua diversificação ajuda bastante a atrair novos investidores. No entanto, ele aponta que ainda há aqueles que acham que os tokens são prejudiciais ou que não têm como contribuírem para o meio ambiente.
"Os ativos pró-clima mostram que podemos sim investir e ao mesmo tempo cuidar por um mundo melhor e mais sustentável, principalmente com uma nova geração de pessoas se interessando por esse universo. Os pró-clima são extremamente necessários para um início de uma melhoria no clima do planeta e desmistificam que as criptomoedas são prejudiciais à sua emissão", disse.
Paulo Boghosian, Diretor Executivo da Pandhora Investimentos, destacou que o suposto energético excessivo na mineração de Bitcoin começa pela discussão da mineração de bitcoin ser uma atividade produtiva ou não.
"Dado que a mineração é de suma importância para a segurança da rede do Bitcoin, garantindo o valor das moedas na rede, a discussão passa a ser: Será que o Bitcoin em si traz benefícios suficientes para a sociedade que justifiquem este consumo energético?", questiona.
Segundo ele, para aqueles que acreditam que o Bitcoin não tem valor algum, nenhuma argumentação será suficiente, e qualquer gasto energético será encarado como um desperdício, mas para aqueles que, como eu, acreditam que a possibilidade de se ter um sistema global de compensação eficiente, livre e descentralizado; e uma reserva de valor neutra, com política monetária alternativa às políticas expansionistas dos bancos centrais globais; neste caso, a discussão torna-se extremamente relevante.
"Colocando as coisas em perspectiva, a emissão de carbono do Bitcoin não passa de 0,2% das emissões mundiais de carbono (dados da Bitcoin Mining Council). Em comparação a outras indústrias globais relevantes, o Bitcoin consome muito menos.
Segundo estimativas da Bitcoin Magazine, por exemplo, o Bitcoin consome menos de 1% do que consome a indústria de construção, menos de 0,5% da indústria de transportes, menos de 20% da indústria de ouro e joias preciosas, e menos de 2% da indústria financeira e de seguros. Justifica? Eu acho que sim", destacou.
Ainda segundo ele, grande parte da energia consumida na mineração de Bitcoiné limpa. Isso porque, para se ter preços competitivos na mineração, é preciso buscar fontes energéticas baratas, ou seja, fontes de energia limpa e/ou fontes de energia excedentes e não utilizadas em algumas localidades específicas.
Ele também aponta que há alguns anos atrás, muita da mineração de Bitcoin era realizada no noroeste da China, pois tratava-se de uma região com muito excedente energético e o grid do país não permitia o envio desta energia para grandes capitais.
"Sem precisar aprofundar muito, e buscando dados da própria Wikipedia, pode-se ver que as fontes mais baratas de energia são justamente eólica, solar e gás natural. Em suma, é essencial e notória a preocupação com a sustentabilidade energética, mas ao olhar a fundo os dados acerca do consumo energético, não parece haver um cenário tão perturbador quanto aquele frequentemente pintado por narrativas falaciosas", finalizou.
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