Recentemente o Cointelegraph noticiou que o Ministério Público Federal (MPF) levantou a suspeita de que José Edvan Félix, ex-prefeito da cidade de Catingueira, no sertão da Paraíba, teria lavado dinheiro com Bitcoin. Agora, porém, a reportagem teve acesso à denúncia do MPF e constatou que Félix na verdade teria tentando trocar um carro por uma cota de investimento em uma pirâmide de Bitcoin e, perdendo tudo - carro e investimento - teria supostamente mandado matar os líderes do negócio.

Segundo relata o MPF, Félix teria sido abordado por Hélcio Patrício Cordeiro Ribeiro e por "Adelson Japonês" para realizar investimentos na Fifty Club Exchange e Marketplace, que afirmava realizar operações de trade com Bitcoin e Monacoin, prometendo rentabilidade garantida de até 4% ao dia.

Para investir na pirâmide, o ex-prefeito entregou um veículo no valor R$ 19 mil que teria que ser vendido pelos operadores da Fifty e, parte do valor, aplicado na suposta pirâmide.

Neste ponto o MPF alega lavagem de dinheiro com Bitcoin pois o veículo não consta em nenhuma declaração como de posse de Félix.

Contudo, o ex-prefeito, segundo relata o próprio MPF, depois de entregar o veículo aos supostos golpistas, nunca mais viu a cor do dinheiro nem dos Bitcoins e teria supostamente mandando matar os operadores da empresa.

"Todavia, o fato de carro pertencer a Edivan Félix fica comprovado no desenrolar da conversa, quando o denunciado questiona Hélcio Patrício sobre a devolução da parte do dinheiro da venda que não seria investido. De fato, em 27 de maio de 2018, José Edivan envia áudio, às 20:26:49: "… Eu queria que você me dissesse sobre o restante do dinheiro do carro, falta 4500 reais, ele (Adelson) tem a conta de NEIDE [Edneide, atual esposa de José Edvan], eu gostaria que fosse resolvido isso..., queria que você me informasse se o carro ficou aí pra vocês, ou se passaram pra alguém..., na quarta quero receber o carro, vou levar o dinheiro..., espero que a aplicação dê certo, fique lá rendendo o que a gente combinou, tá bom?". No dia seguinte, Hélcio Patrício manda áudio dizendo “Prefeito não fui eu que vendi o carro não..., seu carro foi vendido por 17 mil..., Adelson tava até com o contrato da loja..., senta com ele e resolve isso aí, porque isso aí não foi comigo não”." diz o relato do MPF.

No entanto, Félix alega que não autorizou ninguém a vender seu carro por cerca de R$ 2 mil abaixo do que seria o valor de mercado (R$ 19 mil).

"No mesmo dia 28 de maio, José Edivan fala “Olha, pois eu não autorizei vender carro meu por 17 mil não, eu quero receber o carro, ele disse a mim que mesmo pagando o emplacamento ficava por 19 mil..., quero receber essa diferença, senão receber aí numa camaradagem, vou procurar os meios que ele sabe que vou atrás, pra receber meu dinheiro”. Em seguida Hélcio Patrício diz: “quem ficou com seu carro, quem ficou com o recibo pra pegar com sua esposa foi Adelson, não fui eu, inclusive sua esposa até me pediu pra fazer uma transferência pra ela, fiz sem problema nenhum”, 

Segundo o MPF, o modelo de negócio da Fifty Club consistia em que os participantes, além de comprarem uma cota inicial ainda pagavam uma mensalidade e mensalmente faziam o saque dos supostos dividendos em criptomoedas.

Desta forma, além do investimento inicial, o ex-prefeito também, como relata o MPF, pagou as mensalidades, via boleto,enviado os comprovantes por WhatsApp para os supostos operadores, contudo, mesmo "em dia" com o pagamento da suposta pirâmide, continuou sem o carro e sem os supostos rendimentos.

"Adelson questiona Edivan: “o dinheiro da aplicação [em criptomoedas] caiu?” no que Edivan responde: “Ñ caiu nada; Quarta-feira entrego eles ao Luizinho”. Então Adelson responde com uma mensagem de áudio: "Liguei pro Ledson aqui e falei coisa que você nem imagina viu véi, você nem imagina; Pediu pra me dar um tempo porque ele tava saindo da igreja, que não tinha como conversar, ai é veio puxando coisa que não tinha... Eu falei: 'deixa eu te falar aqui, o homem pegou o dinheiro, com toda boa fé, colocou o dinheiro na conta de vocês e até agora absolutamente nada, nenhum um só rendimento. Eu acho que vocês querem isso, Vocês querem problema pra depois resolver, da solução. Fica mais barato a solução do que o problema, pois então tá certo, então brigado então.'"

Então, sem receber seus valores, Félix começa a se irritar e diz que via entregar o caso para o "Luizinho"  que o MPF aponta como sendo uma espécie de 'capanga' do ex-prefeito e, desta forma, responsável por cobranças mais 'enérgicas'.

"Edivan então manda um áudio em resposta: "Iaí! Pois é japonês, não esquenta com isso não, ele não quer fazer nada não, a gente resolve, eu vou entregar... Agora mesmo eu tou saindo da casa de Luizinho, já conversei com luizinho, com novinho. Terça-feira é dia 31, quando passar o dia 31, não entrou nada, não vou depositar mais nada, porque eu não vou tá depositando nada em quem eu não tenho nada e ficar ainda por cima depositando, ae eu vou fazer os cálculos, você mesmo vai me ajudar aí a dizer quanto é que dá, ae já falei pá Luizinho aqui que eu sou quero que ele me pague os 6 mil... 6 mil e 600 que eu botei. Ae vai da aí algo em torno de 11 mil, ae Luizinho vai lá e recebe e os rendimentos fica pra Luizinho e eu quero receber somente o que eu botei, porque eu não quero mais promessa deles, pra eles tá me botando 2 mil e eu ficando me humilhando pra receber o que é meu, então não tem negócio com moeda..", 

Segundo o MPF, quando José Edivan Félix conversa com Adelson dizendo que vai entregar o problema para “Luizinho” ele se refere a Luzenildo Amaro da Silva "e que ele usa essa pessoa para fazer a cobrança de forma mais enérgica e incisiva daqueles que não honram suas dívidas com Edivan, podendo-se dizer que Luzenildo atua como um “capanga” de Edivan Félix.

O MPF relata ainda que pelas imagens que o próprio Edivan envia, pode-se notar que o Luzenildo é uma pessoa perigosa sendo, no mínimo, suspeito de estar envolvido em um assassinato.

Além disso, fica comprovado mais uma vez que José Edivan Félix realmente entregou um carro que era seu, mas não estava no seu nome, para realizar o investimento em criptomoedas (fato que o MPF alega para justificar a suspeita de lavagem de dinheiro).

Porém, como mostra o relato, Félix não teria conseguido lavar o dinheiro pois nunca teria sucesso em receber os valores aplicados e, como segue o relato, Luizinho teria, supostamente, "sumido" com os operadores da empresa.

"“Olhe, nesse início de ano eu tenho dinheiro pra... um cabra não tá me pagando lá em João Pessoa e talvez eu vá... eu passe pra... pra você arranjar alguém pra fazer essa cobrança lá viu? Tem jeito não, ele só é prometendo paga, paga, paga, num paga, ae eu vou dizer que tou devendo a você, ae você vai lá receber pra nós dois, é pouco, mas paga a viagem.”. Então Luzenildo responde: "Tá certo. Tá beleza. Eu tou indo lá em João Pessoa hoje, ae vou passar o ano por lá, ae lá pro dia 05 eu volto, mas ae se avisar eu volto lá de novo.". Edivan então diz: “Beleza, não tem pressa não. Olhe tem duas coisas: é um cara que pegou um carro meu, fez eu fazer uma aplicação lá e hoje acho que dá mais de 20mil pra ele me pagar". Por fim, em uma conversa no dia 04/06/2019 envia uma imagem para Luzenildo que é uma foto do próprio Luzenildo com a seguinte legenda: “este está foragido Luzenildo silva compartilhe este cara precisa ser preso que a justiça seja feita. ele tirou a vida de um pai família.”, 

Hélcio Patrício Cordeiro Ribeiro, que teria convencido o ex-prefeito a aplicar recursos no suposto golpe já tinha sido preso em 2016 suspeito de negociar, ilegalmente, três imóveis localizados nos bairros Jardim Cidade Universitária, Bancários e Cabedelo, região metropolitana da Capital. A venda ilegal teria causado um prejuízo de mais de R$ 700 mil para as vítimas.

As investigações mostraram que Hélcio Patrício se passava por corretor de imóveis e acompanhava as vítimas até as casas supostamente comercializadas por ele.

Como tinha uma boa conversa, mostrava conhecimento na área de vendas e apresentava documentação, assim as pessoas não suspeitavam que estavam diante de um falso corretor e acabavam 'comprando' os imóvei.

Contudo, algum tempo depois por causa da demora na transferência dos imóveis as vítimas descobriram que Hélcio Patrício não era corretor de imóveis e que estava comercializando casas e apartamentos sem autorização ou conhecimento dos donos. 

Já no caso do ex-prefeito, Félix, embora tenha sido enganado e perdido dinheiro em um golpe com Bitcoin, ele também é acusado de ser um criminoso e já foi condenado a 40 anos de prisão por organização criminosa, fraude licitatória e desvio de recursos públicos. Os crimes foram cometidos entre 2005 e 2012, quando ele foi prefeito da cidade.

Segundo o MPF, o patrimônio de Félix é maior que o declarado e ele teria feito o uso de laranjas para ocultar os recursos adquiridos com os crimes praticados quando ele era mandatário da prefeitura.

Ele teria usado consórcios e compra de veículos para lavar dinheiro. Agora, o processo será encaminhado ao Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Norte, onde o ex-prefeito é servidor público, para que ele também seja alvo de medidas administrativas e disciplinares. O G1 diz que não encontrou o Félix para comentar o caso.

Confira a íntegra do documento que o Cointelegraph teve acesso
 

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