O desempenho inferior do Ether (ETH) no atual ciclo de alta indica uma mudança estrutural no mercado de criptomoedas, consolidando a liderança do Bitcoin (BTC) no setor por meio do investimento institucional e da diluição contínua do valor de mercado das altcoins, afirma o mais recente boletim de mercado da Ecoinometrics.
“Desde o fundo do último mercado de baixa em 2022, o Bitcoin subiu quase 500%, atingindo várias novas máximas históricas no processo", diz a Ecoinometrics.
Nos ciclos anteriores de 2017 e 2021, o Ether superou o desempenho do Bitcoin, mas isso não aconteceu até agora – e provavelmente não ocorrerá em 2025, sugere o boletim:
“O Ethereum ainda não atingiu um novo recorde histórico de preço. E, nos últimos 12 a 18 meses, tem ficado cada vez mais para trás. Esta é uma clara divergência em relação ao comportamento histórico e pode-se argumentar que ela começou alguns meses após o lançamento dos ETFs de Bitcoin.”
A Ecoinometrics argumenta que o capital novo que está entrando no mercado de criptomoedas vem de investidores institucionais via ETFs. “Esses investidores não estão comprando a história geral das criptomoedas, eles estão comprando especificamente o Bitcoin.”
Caio Leta, head de conteúdo da Bipa, destaca em análise recente que no ciclo atual o dinheiro movimentado em exchanges de criptomoedas é menor do que no ciclo anterior. Um claro sinal de que os investidores de varejo não são a principal força motriz do mercado de criptomoedas, ao contrário de ciclos anteriores.
O lançamento dos ETFs de Ether, por si só, não foi suficiente para atrair o interesse desses investidores a ponto de causar um efeito positivo no preço do ativo. Enquanto isso, a constância dos investimentos em Bitcoin mesmo em tempos de turbulência geopolítica e macroeconômica não dá sinais de arrefecimento.
Enquanto o Bitcoin caiu abaixo dos US$ 100.000 por um breve período no auge das tensões entre Irã e Israel, o saldo dos influxos nos ETFs de Bitcoin se manteve positivo, destaca a análise:
“Os ETFs de Bitcoin registraram 10 dias consecutivos de entradas recentemente. Não se trata de fluxos recordes, mas o que importa é a consistência. É um sinal claro de que a demanda institucional permanece intacta, imperturbável pela volatilidade de curto prazo.”
Segundo a Ecoinometrics, “no ritmo atual, as entradas nos ETFs sustentam o Bitcoin na faixa de US$ 105 mil a US$ 125 mil.”
Capital institucional não faz rotação para altcoins
A concentração da entrada de capital via ETFs dificulta a tradicional rotação para as altcoins observada no passado, acrescenta Leta:
“Nos ciclos anteriores, os investidores compravam Bitcoin via exchanges de criptomoedas e, conforme o preço subia, realocavam parte desse capital para altcoins em busca de maiores retornos. Essa transição era simples e acontecia dentro da mesma plataforma, sem grandes barreiras.”
Leta destaca ainda que, no passado, o ecossistema da Ethereum abrigava as principais altcoins, favorecendo a apreciação do Ether. “Ou seja, para investir em memecoins, por exemplo, os investidores inicialmente precisavam comprar Ether”, explica.
Leta utiliza um gráfico para ilustrar o fenômeno: após atingir valores extremos no ciclo de alta de 2021, o par ETH/BTC está próximo de mínimas de quatro anos.
“A imagem acima mostra o desempenho do Ethereum cotado em Bitcoin (ETH/BTC) e ilustra dois momentos distintos: 1) o ciclo passado, quando o Ethereum viu uma expressiva valorização em relação ao Bitcoin, justamente por conta dessa dinâmica de fluxo de capital descrita anteriormente e 2) uma mudança grande de tendência neste ciclo, com o Ethereum perdendo valor frente ao Bitcoin.”
Segundo Leta, o atual ciclo de mercado evidencia que o Bitcoin é um ativo à parte no universo de criptomoedas devido a suas características intrínsecas de descentralização e escassez.
“Enquanto o Bitcoin possui uma oferta fixa e imutável, o ecossistema das altcoins sofre com abundância infinita", diz Leta. O resultado é um processo inevitável de diluição de valor, visto que a facilidade de criação de altcoins elevou o total de tokens disponíveis no mercado de cerca de 20 mil em 2020 para mais de 30 milhões atualmente.
“Mesmo que uma altcoin específica tenha uma política monetária restrita, nada impede que surjam milhares de outras com propostas semelhantes", afirma Leta. “O resultado é uma corrida de soma zero, marcada por promessas não cumpridas, retornos decrescentes e narrativas cada vez mais frágeis.”
Impacto negativo das Bitcoin Treasury Companies sobre as altcoins
O fenômeno das Bitcoin Treasury Companies, que oferecem exposição alavancada ao Bitcoin através do mercado de ações, também contribuiu para alterar fundamentalmente o fluxo de capital especulativo no mercado de criptomoedas.
Leta explica que empresas como Strategy e MetaPlanet oferecem alternativas para que os investidores busquem ganhos potencialmente maiores que os do Bitcoin sem necessariamente contribuir para a depreciação do ativo.
Essa dinâmica cria um efeito positivo sobre o preço do Bitcoin, enquanto as altcoins perdem a fonte tradicional de capital especulativo que antes migrava para elas. Consequentemente, poucas obtêm as valorizações expressivas registradas no passado.
Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, a ocorrência de uma eventual altseason depende de o preço do Ether atingir novas máximas históricas.
Este artigo não contém conselhos ou recomendações de investimento. Todo investimento e negociação envolve riscos, e os leitores devem realizar sua própria pesquisa ao tomar uma decisão.