Em uma entrevista concedida ao Cointelegraph Brasil, o fundador da Waves blockchain, Sasha Ivanov, apontou que está de olho no desenvolvimento do Drex no Brasil e que a CBDC brasileira apresenta vantagens com relação as demais moedas digitais de outros bancos centrais.

Segundo Ivanov, a possibilidade do Drex de habilitar um ecossistema de contratos inteligentes é seu grande diferencial, já que outras nações vêm criando CBDCs para pagamentos, como se fossem stablecoins.

"O Drex é uma iniciativa muito interessante que tem algumas vantagens sobre projetos semelhantes de outros bancos centrais. Ele permite potencialmente a tokenização e transações programáveis para qualquer tipo de ativo, não apenas trabalha com a versão digital do Real, moeda fiduciária do Brasil. Em geral, o sucesso do Drex dependerá da aceitação das CBDCs em todo o mundo", disse.

Ivanov apontou ainda que a visão das CBDCs ainda está longe de estar completa e existem várias narrativas concorrentes.

"No entanto, uma coisa é clara: a blockchain se tornará a plataforma para emissão de todos os tipos de ativos financeiros por diferentes atores, incluindo bancos centrais", destacou.

Sobre o Brasil e a América Latina, Ivanov afirmou que a América Latina é um mercado de criptomoedas muito vibrante, com um bom alcance e uma comunidade de varejo ativa.

"A Waves é bem conhecida na Venezuela e no Brasil e ainda tem uma comunidade considerável nesses países. Acredito que projetos da Waves, como o Power Protocol ou o próximo Units.network, podem ser muito bem-sucedidos na América Latina, pois se concentram na adoção em massa de diferentes aspectos da tecnologia blockchain em mercados em desenvolvimento", disse.

Para garantir a sustentabilidade e crescimento de projetos de NFTs e jogos, Ivanov destaca a importância de uma plataforma que ofereça fácil integração de novos usuários, boa experiência e transações baratas. Ele menciona o lançamento do Units.network, que permitirá que qualquer pessoa lance sua própria cadeia Layer 2, crucial para projetos de jogos que exigem alta resiliência à carga de transações.

Além disso, Ivanov discute os desafios de segurança enfrentados pela Waves e a importância da educação dos usuários para construir confiança, propondo a descentralização do processo de auditoria como uma solução. Ele também enfatiza o papel da governança comunitária, destacando o modelo de Waves DAO baseado no Power Protocol, que assegura transparência e responsabilidade nas decisões. Confira a entrevista completa.

Waves e Brasil

Cointelegraph Brasil (CTBR): Como a Waves vê o mercado de criptomoedas na América Latina e se tem planos específicos para o Brasil?

Sasha Ivanov (SI): A América Latina é um mercado de criptomoedas muito vibrante, com um bom alcance e uma comunidade de varejo ativa. A Waves é bem conhecida na Venezuela e no Brasil e ainda tem uma comunidade considerável nesses países. Acredito que projetos da Waves, como o Power Protocol ou o próximo Units.network, podem ser muito bem-sucedidos na América Latina, pois se concentram na adoção em massa de diferentes aspectos da tecnologia blockchain em mercados em desenvolvimento.

CTBR: Como você vê a integração entre CBDCs e o mercado de criptomoedas? Você conhece o Drex, a CBDC do Brasil? Se sim, o que acha do projeto?

SI: Drex é uma iniciativa muito interessante que tem algumas vantagens sobre projetos semelhantes de outros bancos centrais. Ele potencialmente permite a tokenização e transações programáveis para qualquer tipo de ativo, não apenas o Real, moeda fiduciária do Brasil. Em geral, o sucesso do Drex dependerá da aceitação das CBDCs em todo o mundo.

A visão das CBDCs ainda está longe de estar completa; existem várias narrativas concorrentes, como tokens RWA, que podem impactar o futuro das CBDCs. No entanto, uma coisa é clara: o blockchain se tornará a plataforma para emissão de todos os tipos de ativos financeiros por diferentes atores, incluindo bancos centrais.

CTBR: Quais estratégias estão em vigor para garantir a sustentabilidade a longo prazo e o crescimento do mercado de NFT e dos projetos de jogos na Waves?

SI: Acredito que, a longo prazo, é necessário manter uma plataforma que permita a fácil integração de novos usuários. Uma boa experiência do usuário e transações baratas são cruciais para isso. Atualmente, estamos trabalhando no lançamento do Units.network, um ecossistema de Layer 2 onde todos poderão lançar sua própria cadeia de Layer 2.

Isso é especialmente importante para projetos de jogos, pois muitas vezes exigem seu próprio espaço em bloco devido à carga de transações. A Waves está planejando atrair muitos projetos de GameFi que requerem transações baratas e alta resiliência. Novos projetos de jogos também poderão receber subsídios da Waves e das DAOs do Units, o que fornecerá um incentivo adicional para lançar na Waves/Units.

Desafios da Waves

CTBR: Como a Waves planeja aprimorar ainda mais a interoperabilidade com outras blockchains e quais são os próximos passos nessa direção?

SI: No próximo Units.network, todas as cadeias participantes serão totalmente interoperáveis no nível de consenso. Pontes externas para outros ecossistemas serão aprimoradas com re-staking, e muitas novas cadeias serão adicionadas em 2024.

CTBR: De que maneiras a Waves está enfrentando os desafios de segurança e confiança do usuário em suas plataformas DeFi e NFT?

SI: O ecossistema Waves enfrentou muitos desafios devido à desvalorização da stablecoin USDN lançada na Waves e ainda está lutando com as consequências da situação. Avançando, torna-se extremamente importante garantir que o ecossistema Waves não dependa de um único produto e que todos os protocolos lançados na Waves estejam sujeitos a uma supervisão mais descentralizada.

Atualmente, o ecossistema Waves opera no protocolo Power DAO, que fornece transparência e responsabilidade. Acredito fortemente que a única maneira de criar ecossistemas robustos é através de sua total descentralização.

A confiança do usuário, na minha opinião, deve ser construída educando os usuários sobre os protocolos que utilizam, incluindo os riscos e armadilhas. Não deve haver nenhuma confiança cega em criptomoedas, uma vez que a promessa inicial do blockchain era criar sistemas que fossem, na verdade, sem confiança. Para alcançar isso, precisamos, entre outras coisas, descentralizar o processo de auditoria para os novos contratos inteligentes e lançamentos de protocolos.

Planejamos lançar uma DAO de segurança como parte das DAOs Waves/Units, que permitirá que vários auditores e testadores verifiquem a segurança de novos aplicativos e cadeias na Waves e Units.

CTBR: Como o modelo de governança da comunidade está evoluindo e qual é o papel da comunidade na formação do futuro da Waves?

SI: O ecossistema Waves agora é impulsionado pela Waves DAO, que é baseada no protocolo Power. Sua principal característica é fornecer responsabilidade para os tomadores de decisão através de KPIs claros da DAO e um processo de feedback que ajusta seu poder de voto com base nos resultados da conclusão dos KPIs.

É uma abordagem única de governança que ajudou a Waves a seguir em frente após a situação do USDN e provou seu valor sob condições rigorosas. Acredito que o verdadeiro significado do blockchain vai além das aplicações puramente financeiras, e seu verdadeiro significado é a criação de novos protocolos de governança que também podem ser usados na governança tradicional, “off-chain”.

Meu objetivo é criar um ecossistema totalmente impulsionado pela comunidade, com freios e contrapesos fornecidos no nível do protocolo. Isso garantirá o crescimento do ecossistema sem qualquer envolvimento centralizado e beneficiários. A governança descentralizada ainda está em fase inicial, e há muito trabalho pela frente, mas acredito que o Power Protocol é um passo na direção certa.

CTBR: Quais são os principais marcos e objetivos da Waves no próximo ano e como eles se alinham com as tendências mais amplas da indústria blockchain?

SI: O Units.network, programado para ser lançado em setembro, deverá dar um forte impulso ao ecossistema Waves, aprimorando-o com redes EVM Layer 2 e um processo orientado por DAO para lançar suas próprias cadeias EVM.

É baseado no consenso da Waves e também deve atrair mais validadores e usuários para o próprio ecossistema Waves. O objetivo é alcançar o ponto final para a narrativa de escalabilidade baseada na abordagem Layer 2 primeiro, e a Waves tem uma boa chance de conseguir isso.