Nesta quarta, 02, durante um painel sobre o Drex, realizado na TokenNation, o executivo do Banco Central do Brasil, Henrique Videira, afirmou que dentre as soluções de privacidade testadas na primeira fase do piloto do Drex, a Rayls da Parfin é uma das que mais avançou frente as questões levantadas no piloto.
Durante a fase 1 do piloto, três soluções de privacidade foram testadas. Uma delas — o Rayls — tem se mostrado bastante promissora e está ainda mais robusta na Fase 2, com uma versão aprimorada já sendo utilizada nos novos casos de uso. A evolução tem sido significativa e estamos bastante otimistas com os resultados até aqui”, disse.
De acordo com o executivo, embora o Rayls tenha se mostrado promissor, o BC estuda usar várias soluções de privacidade e não um módulo único para todos os sistemas e deve ‘adequar’ as soluções de privacidade conforme o caso de uso em que ela será aplicada.
“O Banco Central, junto com especialistas e entidades envolvidas, está estudando a privacidade caso a caso. Isso porque a solução adequada para um tipo de transação pode não servir para outro. Por exemplo:No caso de uso de imóveis, a privacidade precisa ser robusta, mas a velocidade não é tão crítica. Afinal, uma transação imobiliária no mundo físico já demora: você senta com o comprador, verifica a titularidade, transfere recursos — leva tempo.Com o Drex, esse processo será mais eficiente, e agradecemos inclusive à NRE (entidade dos cartórios) e ao órgão regulador, que têm colaborado com a gente nesse ponto específico.Por outro lado, quando falamos de transações de alto volume, como recebíveis de cartão de crédito, a lógica muda. Precisamos de soluções de privacidade que sejam rápidas, escaláveis e interoperáveis, para atender à dinâmica de mercado sem criar gargalos.Portanto, o desafio tecnológico hoje é a privacidade, mas ele não é uma barreira. É um caminho em evolução. Estamos estudando cada caso de uso com profundidade para aplicar a solução de privacidade mais adequada para cada cenário”, revelou.
Caso de uso na fase 2
Videira também salientou que há muitos casos de uso interessantes na fase 2 do Drex e que o BC escolheu aqueles que podem gerar benefícios reais para a sociedade, como ganhos de eficiência operacional, redução de custos e mitigação de riscos, inclusive os riscos relacionados à dependência de intermediários.
O nosso foco passou a ser analisar cada caso de uso de forma específica e buscar soluções de privacidade, escalabilidade e arquitetura sob medida para cada um deles. Em vez de tentar criar uma solução genérica, agnóstica, que funcione para todos os casos, entendemos que podemos — e devemos — desenhar smart contracts dedicados a finalidades específicas, com a lógica e os requisitos adequados para cada operação”, revelou
Como exemplo, ele citou o caso de mercado secundário de liquidez, onde você pode consultar, em tempo real, os preços de ativos e realizar trocas sem a necessidade de intermediários. Ele destacou que esse é um mercado que movimenta bilhões e que pode ganhar muito com mais transparência e automação.
Outro exemplo citado por é o trade finance, especialmente relevante para o agronegócio. Imagine um produtor de soja brasileiro negociando diretamente com compradores na China por meio de uma plataforma integrada. Com a tecnologia certa, ele já sabe o preço, a logística está conectada, o frete está precificado e, melhor ainda, ele pode obter financiamento para exportar seu produto, tudo isso em uma cadeia digitalizada e segura.Inclusive, temos um grupo muito dedicado cuidando do caso de trade financeEstamos falando de um mercado que, hoje, é burocrático, lento e ineficiente — e que precisa evoluir. Com o Drex, temos a oportunidade de estruturar e distribuir ativos reais e financeiros de forma muito mais eficiente. Casos como CBRs verdes, debêntures, CCBs, automóveis e imóveis já estão sendo testados, e os resultados mostram que os benefícios para a economia são concretos e significativos.
Infraestrutura unificada com o Drex
De acordo com o executivo do BC, uma das grandes vantagens da infraestrutura blockchain unificada, como a que está sendo construída com o Drex, é a possibilidade de manter ativos tokenizados em um mesmo ambiente, com benefícios que vão muito além da digitalização em si.
Primeiro, teremos garantias altamente líquidas, porque os ativos estarão registrados na blockchain. Com isso, o valor desses ativos tende a refletir seu preço real de mercado, graças à existência de mercados secundários, leilões digitais e plataformas de negociação descentralizadas, onde imóveis, automóveis ou outros bens poderão ser transacionados com base em smart contracts que atribuem e atualizam os valores em tempo real.
Segundo ele, isso proporciona dois ganhos claros: a execução rápida e segura da garantia e um valor de referência mais preciso e confiável — tudo isso em um ambiente auditável, transparente e imune a manipulações centralizadas.
Para o BC, esse modelo também é muito atrativo para o setor de gestão de ativos. Hoje, os fundos de investimento tradicionais estão fortemente correlacionados. Ou seja, quando o mercado sobe, todos os ativos sobem; quando o mercado cai, todos caem juntos. Não há diversificação real de risco.
Assim, com a DLT unificada do Drex, será possível incluir ativos reais, como imóveis, em fundos de investimento, criando carteiras mais exóticas, mas ainda assim dentro dos padrões de segurança e regulação exigidos. Isso pode aumentar o retorno dos fundos com menor risco, ampliando a criatividade dos gestores e oferecendo novos produtos ao mercado com menos volatilidade.
Além disso, há um impacto direto no mercado de crédito, que hoje é insuficiente para sustentar a inovação e o empreendedorismo brasileiros. O Drex pode impulsionar esse ecossistema, com maior oferta de crédito, avaliação mais justa das garantias e redução dos riscos operacionais e de crédito.
No caso de trade finance, o Drex viabiliza acesso direto a mercados internacionais, conectando exportadores brasileiros a compradores em outros países, como a China, em plataformas descentralizadas, integradas com soluções logísticas e financeiras, inclusive com financiamento embutido na cadeia.
Nada de Bridges Cross-Chain
Embora o Drex traga todas as vantagens citadas o executivo também destacou que os desafios são significativos, sendo a privacidade é um dos mais debatidos. Outro ponto crítico é a interoperabilidade. O Drex, por ser uma rede permissionada, não pode depender de intermediários como acontece em blockchains públicas com cross-chain bridges. Isso exige um arcabouço técnico específico.
Para isso, foi criado um programa em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (e outros parceiros) com foco em desenvolver soluções de interoperabilidade compatíveis com o ambiente do Drex, que não comprometam segurança nem dependam de terceiros.
Nos bastidores, o Banco Central também trabalha com atenção à regulação. Tudo que está sendo desenvolvido precisa caminhar em paralelo com o arcabouço jurídico, para garantir que nenhuma norma seja descumprida. Isso requer alinhamento contínuo entre os avanços tecnológicos e as estruturas legais.
Além disso, há esforços voltados à segurança cibernética. É necessário antecipar cenários de ataque, desenhar respostas a possíveis explorações criativas por hackers — mesmo em um ambiente restrito a instituições financeiras, como o Drex
“Tudo isso mostra que o Drex é uma agenda estratégica para o Banco Central. Se alguém perguntar por que o projeto parece “devagar”, a resposta é simples — o Drex é um projeto complexo e ambicioso.Cada caso de uso testado no Drex — seja para imóveis, automóveis, trade finance ou pagamentos internacionais — é mais complexo que o próprio Pix. E, como o Pix já exigiu um grande esforço institucional, imaginem o desafio de criar um ecossistema interoperável e multifuncional, que envolve, além de reguladores como a CVM, entidades internacionais como o FMI e autoridades monetárias de países como Hong Kong”, finalizou.