Sempre que se fala do metaverso a tendência é imaginar um admirável mundo novo virtual em que os sonhos mais delirantes das obras de ficção científica poderão se tornar realidade. No entanto, as ferramentas que vão compor o metaverso também terão utilidade para endereçar questões corriqueiras do dia a dia, como consultas médicas, aulas à distância, reuniões de trabalho, show-rooms de arquitetura e decoração e campanhas de marketing e publicidade para divulgação e lançamento de produtos.

É justamente focando nesses nichos específicos que startups brasileiras estão buscando oportunidades de inserção na economia do metaverso, reportou o jornal Estado de São Paulo na quarta-feira. 

Esse novo mercado deve movimentar aproximadamente US$ 800 bilhões até 2024, de acordo com uma estimativa da Bloomberg Intelligence baseada em dados recolhidos de estudos da Newzoo, IDC, PWC, Statista e da Two Circles.

Medicina e educação

Fundada em 2016 e comprada pelo grupo Ânima Educação, a MedRoom desenvoleu um ambiente virtual para o ensino de medicina. Através dele, os estudantes podem interagir com o corpo humano em sua integridade - ou mesmo com órgãos específicos - em 3D. Para acessar a plataforma de realidade virutal são necessários o software criado pela empresa e um headset Oculus Quest, produzido pelo Facebook.

Uma das vantagens é que os corpos humanos usados em laboratórios universitários se decompõem rapidamente e através da plataforma os estudantes conseguem ver os órgãos em funcionamento bem como detectar eventuais disfunções.

Hoje, a plataforma da MedRoom já atende 40 instituições de ensino, entre elas a Pontifícia Universidade Católica (PUC). O serviço funciona com base no pagamento de uma assinatura mensal pelo uso e manutenção do software, enquanto a infraestrutura necessária para que os alunos possam acessá-lo fica a cargo das instituições.

Decoração

A startup R2U utiliza a realidade aumentada para gerar objetos virtuais em 3D com foco no setor de decoração de ambientes. A plataforma desenvolvida pela empresa pode ser acessada através de dispositivos móveis para que os consumidores possam visualizar os produtos de seu interesse, como uma estante ou uma mesa de jantar, por exemplo, diretamente no ambiente em que serão utilizados.

Em 2020, a empresa captou US$ 800.000 em uma rodada de negócios liderada pela firma de capital de risco Canary e, atualmente, atende 38 redes varejistas, incluindo a Leroy Merlin e a Mobly. A empresa tem a pretensão de se tornar uma das principais construtoras do metaverso no Brasil, desenvolvendo projetos para que marcas e lojas abram espaços inteiramente virtuais em plataformas digitais.

Além disso, a empresa deve lançar em abril um marketplace para que as empresas possam vender seus produtos sob a forma de tokens não fungíveis (NFTs).

Marketing e publicidade

O campo do marketing e da publicidade vem se configurando como um terreno fértil para experimentação de novas formas de interação com o público, tanto de marcas quanto de personalidades do mundo do entretenimento e dos esportes. No final do ano passado, a Biobots criou um avatar da apresentadora Sabrina Sato. Mais do que apenas a personalidade virtual de Sabrina, Satiko é uma mulher com personalidade híbrida, disposta a vivenciar em ambientes virtuais coisas que a sua persona real não pode ou não consegue no dia a dia.

Além da moldagem e criação de avatares, a Biobots ainda faz a administração da vida virtual de seus clientes e já abriu frentes nos EUA e em Portugal para oferecer seus serviços.

Já a startup carioca Vitulo utiliza a realidade aumentada para potencializar a interação de marcas de moda, permitindo que os usuários experimentem réplicas digitais de seus objetos de desejo antes de efetivamente comprá-los.

Indústria criativa

Especialistas ouvidos pela reportagem do Estado de São Paulo apontam para a deficiência da produção de equipamentos de alta tecnologia como um fator decisivo para a configuração de um ecossistema nacional de empresas focadas no metaverso.

Assim, a tendência é que os empreendedores brasileiros centrem esforços no desenvolvimento de soluções criativas a partir das tecnologias importadas do exterior. "O País tem dificuldade na produção de tecnologia de ponta, como os algoritmos e plataformas de base sobre os quais o metaverso irá rodar. Talvez o potencial maior esteja na indústria criativa: o metaverso precisará de conteúdo, e nisso o nosso país é muito bom”, afirmou Felipe Matos, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups).

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil, a tecnologia blockchain subjacente às criptomoedas abre grandes oportunidades de exploração do metaverso por parte de grandes marcas e redes varejistas.

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