Os resultados da atual crise política, econômica e sanitária do Brasil já se traduzem em números, como revela um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado nesta semana.

Os dados divulgados pela ONU mostram que o Brasil perdeu nada menos que 62% dos investimentos estrangeiros em 2020, regredindo para os níveis registrados em 2001, no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso.

Além disso, o país despencou da sexta colocação entre investimentos estrangeiros em 2019 para a 11a. colocação. Segundo a ONU, a falta de medidas de controle da pandemia de Covid-19 causaram o enorme impacto econômico e social registrado agora no país.

Desde o começo da pandemia, o governo Jair Bolsonaro nega a gravidade da contaminação pelo vírus, estimula aglomerações, promove tratamentos ineficazes, ataca a vacinação e estimula a desinformação, o que traz desconfiança mundo afora. Bolsonaro é o único líder entre os 20 maiores países do mundo que não se vacinou. Hoje, no Brasil, já são mais de 500 mil mortos pela doença.

O próprio Banco Central confirma a catástrofe econômica, mostrando que os investimentos diretos no país encolheram 51% em 2020.

PIB cresce, mas dados não revelam a realidade da maioria da população

Uma matéria do UOL desta segunda-feira também revela que o Produto Interno Bruto do país cresceu 1,2% no primeiro trimestre deste ano com relação ao último período de 2020, recuperando os níveis pré-pandemia. Por outro lado, o desemprego segue grave, subindo de 13,9% para 14,7% no mesmo período.

Especialistas dizem que o quadro negativo deve continuar até que a vacinação chegue a níveis satisfatórios e seguros no país, permitindo retomada de atividades econômicas e novos investimentos. Nos países que levaram a pandemia a sério e têm vacinação avançada, os resultados sociais e econômicos já são visíveis.

A crise também foi mais grave para os setores que mais empregam no Brasil, ligados a serviços: comércio, transportes, informação, financeiro, imobiliário e administração pública. O setor representa nada menos que 68% dos empregos do Brasil. Por outro lado, aqueles que menos empregam, como agropecuária e mineração, tiveram desempenho superior durante a recessão.

José Pastore, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Federação de Comércio de São Paulo, reforçou a impressão de que o crescimento do PIB não representa melhora na vida da maioria da população no momento:

"A recuperação está sendo muito desigual. Enquanto alguns setores estão bombando, como o de comércio eletrônico, químicos, farmacêuticos, siderurgia e agropecuária, outros sofrem muito, especialmente os de serviços, cuidados pessoais, transportes, viagens, entretenimento. O setor de serviços representa mais de dois terços dos empregos no Brasil. Então, mesmo com abertura de vagas nas áreas que estão indo bem, isso não é suficiente para compensar o desemprego em serviços."

Entre as explicações dos especialistas para o crescimento do PIB sem redução do desemprego e impactos mais visíveis na sociedade estão: crescimento do trabalho informal (são 34 milhões de trabalhadores nestas condições), recomposição de estoques na indústria sem criar novos postos de trabalho e aumento de pessoas procurando emprego (estimulado pelo fato de que o Brasil vive insegurança alimentar para a maioria da população e já tem mais de 30 milhões de pessoas passando fome). 

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