O uso de carteiras digitais no Brasil vai muito além das transações financeiras, com diversas demandas ainda por atender em um mercado que pode atingir US$ 416 bilhões no futuro, revela uma pesquisa encomendada pelo Google à PYMNTS Intelligence.
Intitulada "Carteiras Digitais Além das Transações: Edição Brasil", a pesquisa mostra que 30% dos consumidores no Brasil adotaram esses dispositivos para fins não comerciais, como armazenamento de documentos pessoais, histórico de saúde, ingressos, passagens aéreas e reservas de hotel e programas de fidelidade. O percentual é superior à média global.
O recurso de armazenamento da carteira de identidade a dispositivos digitais foi a principal demanda de uso não comercial detectada pela pesquisa. Por enquanto, os documentos originais emitidos por órgãos públicos só podem ser acessados por meio de aplicativos oficiais do governo.
Usuários da Google Wallet já podem acessar suas carteiras de vacinação do SUS, por exemplo, mas a falta de interoperabilidade completa impede que todos os documentos sejam mantidos e acessados em um único dispositivo, como era possível no passado com as carteiras físicas.
Elisa Joia, chefe de Operações de Pagamentos do Google na América Latina, reconheceu que essa lacuna cria prejuízos à experiência dos usuários, e afirmou que a empresa tem planos de adicionar a funcionalidade que já é oferecida em alguns países à Google Wallet:
"Não oferecemos essa funcionalidade aqui porque é necessário fazer um trabalho de integração com parceiros locais, já que se trata de uma credencial super privada, que precisa ser totalmente segura e armazenada de maneira correta. É preciso pensar em como fazer essa integração com os parceiros, mas a gente pensa em expandir essa cobertura de identidade."
Recentemente, o Google fechou uma parceria com dois bancos para viabilizar pagamentos por Pix diretamente da Google Wallet. "Os pagamentos são feitos da mesma maneira que nos apps do banco: via chave Pix, leitura de QR Code ou Copia e Cola. Começamos com dois parceiros, mas temos planos de agregar mais bancos, para que a Google Wallet se pareça cada vez mais de fato uma carteira", afirmou Joia.
Tendências de identidade digital
O relatório "Estudo de tecnologias emergentes para o setor bancário", realizado em parceria pela Febraban e a Accenture, mapeou as principais tendências do setor de identidade digital e biometria.
O armazenamento de dados pessoais, dinheiro e ativos digitais em dispositivos móveis é uma tendência irreversível, impulsionando a inovação no setor. Existe uma demanda crescente por uma identidade digital única para acessar serviços on-line, sem a necessidade de credenciais e senhas diferentes para cada portal ou serviço.
Em paralelo, há também uma maior conscientização dos usuários sobre o uso dos dados. De acordo com o relatório, 72% dos usuários de redes sociais desejam ter controle sobre as formas como seus dados pessoais são utilizados.
Soluções que combinam biometria, tecnologia blockchain e inteligência artificial (IA) têm o potencial de fazer uma transição para uma economia Open Data que, segundo estimativas, poderia fomentar um mercado de US$ 416 bilhões com a criação de produtos e serviços inovadores, baseado no acesso consentido aos dados dos usuários.
Segundo o estudo, atualmente há três modelos de identidade digital em diferentes fases de desenvolvimento e aplicação.
O modelo centralizado, controlado por uma única instituição, é o mais comum. Sua principal vantagem é a verificação rápida de dados. No entanto, além de ser vulnerável a riscos de vazamento de dados, ao utilizá-los os usuários detêm pouco ou nenhum controle sobre seus dados.
O modelo federado baseia-se no compartilhamento de identidades digitais entre diversas instituições. Um provedor de identidade, como o Login com PayPal ou Verified
by Visa, gerencia a ID do usuário, viabiliza o acesso a múltiplos serviços com uma única credencial, aprimorando a experiência do usuário e a convergência dos serviços. Embora mais eficiente, os usuários deste tipo de sistema também não controlam seus próprios dados.
Por fim, há o modelo descentralizado baseado na tecnologia blockchain, no qual o usuário tem total controle sobre sua identidade através da gestão de chaves privadas, minimizando a quantidade de informações compartilhadas com terceiros.
Três sistemas de identidade digital. Fonte: Febraban/Accenture
Governo Federal adota carteira de identidade digital
No início deste ano, o governo anunciou a implementação da Carteira de Identidade Nacional (CIN) nos 24 estados da federação. O documento substitui o antigo RG (Registro Geral) e é emitido em versão física e digital, utilizando o CPF como número de identificação.
De posse do novo documento, o cidadão passa a ter acesso a seus prontuários no SUS, benefícios como o Bolsa Família, registros no INSS, além de informações fiscais, tributárias e ligadas ao exercício de obrigações políticas, como o alistamento eleitoral e o voto em um único documento.
Por enquanto, o armazenamento da versão digital da CIN é restrito à carteira digital do portal oficial do Governo Federal, Gov.br, pois o documento não possui recursos de interoperabilidade.