Resumo da notícia
Itaipu se consolida como base energética global da mineração de Bitcoin.
HIVE Digital investe em novo data center 100% hidrelétrico no Paraguai.
Expansão energética pode alterar acordo histórico entre Brasil e Paraguai.
A energia da usina de Itaipu, compartilhada entre Brasil e Paraguai, está se tornando uma das mais cobiçadas fontes de eletricidade para a mineração de Bitcoin. O país vizinho, impulsionado pelo baixo custo e pela abundância de energia renovável, já entrou oficialmente para o top 4 mundial da atividade, consolidando o complexo hidrelétrico binacional como uma das maiores bases energéticas utilizadas por mineradoras em todo o planeta.
Dados recentes do Hashrate Index mostram que o Itaipu já responde por 3,9% do hashrate global, equivalente a 40 EH/s (exahashes por segundo). Esse desempenho coloca a usina ao lado de Estados Unidos, Rússia e China, líderes históricos do setor.
Atualmente, Itaipu conta com 20 unidades geradoras e capacidade instalada de 14 mil megawatts, o equivalente à cerca de 9% de toda a energia elétrica consumida no Brasil. Mas o cenário pode mudar em breve.
De acordo com o diretor-geral da usina, Enio Verri, há planos de expansão com duas novas turbinas, o que aumentaria ainda mais o potencial energético do reservatório. Essa ampliação, no entanto, dependerá de acordos políticos, estudos ambientais e financiamento internacional, uma vez que a demanda cresce rapidamente — principalmente do lado paraguaio.
O avanço se deve principalmente ao uso intensivo da energia de Itaipu em grandes data centers dedicados à mineração cripto e inteligência artificial. Segundo Hugo Zárate, diretor técnico paraguaio da usina, o consumo local vem crescendo em ritmo acelerado, com alta de 14% apenas em 2024. Ele revelou que a Administração Nacional de Eletricidade (Ande) vem firmando contratos para incentivar empresas de tecnologia a se instalarem na região.
“Nos últimos anos, o crescimento do consumo foi expressivo, impulsionado pela instalação de empreendimentos de mineração de criptomoedas e servidores de IA. Esse movimento está mudando o perfil energético do país”, explicou Zárate.
HIVE Digital amplia presença com energia limpa de Itaipu
Entre os novos protagonistas dessa ‘onda’ pela energia de Itaipu está a HIVE Digital Technologies, empresa canadense de infraestrutura blockchain e mineração sustentável. A companhia anunciou a construção de um novo data center de 100 megawatts (MW) em Yguazú, no Paraguai, que funcionará exclusivamente com energia hidrelétrica de Itaipu.
Com o investimento, a HIVE elevará sua capacidade renovável no país para 400 MW, consolidando a região como um dos principais polos de mineração limpa do mundo. A construção está prevista para início de 2026, e a operação completa deve começar no terceiro trimestre do mesmo ano.
O presidente da HIVE, Frank Holmes, destacou que a empresa busca atingir 35 exahashes por segundo (EH/s) de capacidade de mineração até 2026. “Estamos construindo uma infraestrutura digital sustentável, de baixo custo e 100% alimentada por energia limpa. O Paraguai é estratégico porque oferece estabilidade, segurança e energia abundante”, afirmou Holmes.
Com a expansão, a HIVE Digital passará a contar com 540 MW de energia renovável distribuídos entre Paraguai (400 MW), Canadá e Suécia (140 MW), consolidando sua posição como uma das maiores mineradoras de Bitcoin verdes do planeta.
Um novo mapa energético e geopolítico
O impacto da mineração não se limita à tecnologia. Ele está redesenhando a geopolítica energética da América do Sul. O Paraguai, que durante décadas vendeu parte de sua energia excedente ao Brasil a preço de custo, agora começa a reter mais produção para consumo interno, reduzindo o volume repassado à parte brasileira da usina.
“Nos aproximamos de um cenário em que o Paraguai utilizará toda a energia que tem direito”, reconheceu Enio Verri, diretor-geral brasileiro de Itaipu.
De acordo com o tratado binacional, cada país detém 50% da geração, mas o excedente paraguaio vinha sendo comprado pelo Brasil desde 1985. Esse equilíbrio tende a mudar a partir de 2027, quando o país poderá vender sua energia no mercado livre ou para outros parceiros internacionais.
Segundo o Ministro da Indústria e Comércio do Paraguai, Javier Giménez, fornecer energia para mineradoras pode ser três vezes mais lucrativo do que vendê-la ao Brasil.
“Estamos correndo para atrair indústrias e data centers. É muito mais rentável vender energia a mineradores de Bitcoin, que pagam mais e investem em infraestrutura local”, afirmou.