O presidente eleito da Bolívia, Rodrigo Paz, planeja combater a corrupção no governo de seu país usando tecnologia blockchain.
A Associated Press informou na segunda-feira que Paz derrotou o rival Jorge Quiroga por 54,5% a 45,5% e deve assumir o cargo em 8 de novembro. Segundo a AP, Paz venceu o segundo turno de domingo com uma mensagem centrista e pró-mercado, herdando uma economia pressionada por escassez de combustível e falta de dólares.
Para os observadores do setor cripto, o plano de governo de Paz inclui duas propostas concretas relacionadas a criptoativos e à blockchain.
Blockchain entra na agenda de reformas da Bolívia
A primeira é um plano para usar blockchain e contratos inteligentes em licitações públicas. O programa oficial de governo de 2025 do Partido Demócrata Cristiano prevê a adoção dessas tecnologias para eliminar a discricionariedade nas compras estatais. O objetivo é combater a corrupção nas aquisições públicas por meio da automação de etapas contratuais.
A segunda é um programa que permitirá aos cidadãos declarar criptoativos em um novo fundo de estabilização cambial, formado por meio de uma campanha de regularização de ativos que inclui explicitamente criptomoedas. Segundo o Departamento do Tesouro dos EUA, esses fundos são reservas usadas para estabilizar a moeda e financiar importações essenciais quando há escassez de dólares. A inclusão de cripto amplia o que o governo pode tributar ou converter rapidamente em moeda forte, sem precisar manter tokens voláteis.
Paz adota uma postura pragmática em relação às criptomoedas, mas não é um maximalista do Bitcoin (BTC). Seu plano de governo enquadra a blockchain como uma ferramenta anticorrupção e trata os criptoativos declarados como parte de uma iniciativa pontual de regularização de bens para capitalizar um fundo de estabilização monetária. Ainda não há indícios de políticas para adotar o BTC em nível nacional, mantê-lo em reservas ou legalizá-lo para uso no varejo.
Bolívia adota pagamentos com moedas digitais
O Cointelegraph acompanha a guinada da Bolívia em relação às políticas cripto desde 2024. O banco central do país, Banco Central de Bolivia, suspendeu em junho de 2024 a proibição operacional sobre transações com criptomoedas, autorizando canais eletrônicos regulados e sinalizando uma modernização dos meios de pagamento. Meses depois, o banco informou que o volume médio mensal de negociação de criptoativos dobrou em relação à média dos 18 meses anteriores.
A mudança avançou também na economia real. Em outubro de 2024, o Banco Bisa lançou serviços de custódia de USDt (USDT) para instituições, tornando-se o primeiro banco boliviano a oferecer esse tipo de produto. Em março, a estatal de petróleo YPFB teria começado a explorar o uso de criptomoedas para importação de energia, em meio à escassez de dólares. Já em setembro, grandes distribuidoras locais de marcas automotivas como Toyota, Yamaha e BYD passaram a aceitar USDT, refletindo o crescente uso comercial.
Em 31 de julho, o banco central assinou um memorando com El Salvador, descrevendo as criptomoedas como uma “alternativa viável e confiável” ao dinheiro fiduciário e prometendo cooperação em políticas e ferramentas de inteligência para modernizar os pagamentos e ampliar a inclusão financeira. O banco afirmou que o volume mensal de negociações com cripto já alcançava US$ 46,8 milhões por mês e US$ 294 milhões acumulados no ano até 30 de junho.