Recentemente a Riachuelo anunciou a coleção Pool Jeans REGEN, uma iniciativa usa blockchain e DPP acessível por QR code, para garantir a rastreabilidade do produto e a segurança da cadeia produtiva.
Em entrevista ao Cointelegraph Brasil, Rafael Mandia, COO da Blockforce, explica que o projeto cria um Passaporte Digital do Produto, que reúne cada etapa produtiva e assim, o consumidor acompanha cultivo do algodão, tecelagem, beneficiamento, distribuição e diretrizes de descarte consciente.
Essa transparência, diz Mandia, empodera escolhas conscientes e pressiona empresas a adotarem processos mais éticos e sustentáveis.
A rastreabilidade também pode ajudar a enfrentar o descarte irregular de roupas, um problema que já gerou o chamado “deserto de lixo” no Atacama. O Passaporte Digital do Produto permitiria indicar pontos de coleta e reciclagem, prolongando o ciclo de vida das peças e evitando que acabem em lixões.
Para o COO da Blockforce, a tendência é seguir o modelo europeu de Padronização dos Passaportes Digitais, criando eficiência na atualização de embalagens e no compliance de fornecedores.
“Com dados confiáveis, é possível transformar não só a forma de produzir, mas também de consumir e descartar”, conclui.
Confira a entrevista completa
Blockchain não elimina as mentiras
Cointelegraph Brasil (CTBR): “Uma mentira registrada em blockchain continua sendo uma mentira.” Como garantir então a veracidade das informações em um processo de rastreabilidade usando blockchain?
Rafael Mandia (RM): Essa frase é muito importante, pois nos lembra que a blockchain garante a imutabilidade, mas precisa contar com a veracidade da informação de origem passada pelos fornecedores.
Para garantir que os dados inseridos na cadeia sejam verdadeiros, é fundamental combinar blockchain com mecanismos de validação off-chain, como certificações de origem, auditorias independentes, sensores IoT e protocolos de checagem automatizados.
Lembrando que o blockchain facilita muito a auditoria das informações em escala, ou seja, quem "mentir” está muito mais exposto. Em suma, a mentira sempre pode existir, mas a tecnologia é um mecanismo muito forte para coibir e reduzi-la cada vez mais.
CTBR: Por que é importante adotar blockchain na cadeia de produção? Qual o impacto real disso para o consumidor?
RM: A adoção de blockchain nas cadeias de produção traz transparência, rastreabilidade e confiança. Para o consumidor, isso significa acesso a informações claras sobre a origem dos produtos, os processos envolvidos, condições sociais e ambientais da produção.
Na prática, um consumidor pode escanear um QR code e saber de onde veio o algodão de uma camiseta, como ela foi tingida, se seguiu práticas sustentáveis, e até se os trabalhadores envolvidos foram remunerados de forma justa. Isso fortalece escolhas mais conscientes e impulsiona empresas a adotarem práticas mais éticas e sustentáveis.
Resultados da adoção
CTBR: Quais empresas no Brasil já estão adotando a solução e quais têm sido os resultados?
RM: Algumas empresas brasileiras já estão avançando no uso da blockchain para rastreabilidade. Um exemplo é a Riachuelo, que em parceria com a Blockforce, tem usado blockchain para rastrear a cadeia têxtil e garantir transparência em seus produtos. Além disso, já trabalhamos com marcas como o grupo Soma e o grupo Azzas, dois dos principais players do mercado de moda no país.
Na área de alimentos, o Carrefour Brasil foi pioneiro ao usar blockchain para rastrear carne e frutas, fornecendo ao consumidor informações detalhadas sobre procedência e qualidade.
Os principais resultados têm sido ganho de reputação, maior confiança do consumidor, diferenciação no mercado e, em alguns casos, redução de desperdícios e melhoria na eficiência logística.
4. Você acredita que sistemas em blockchain para a cadeia de produção podem um dia ser integrados com o Drex e até mesmo ajudar a financiar os produtores?
Sim, essa integração é não só possível como desejável. O Drex, como Real Digital, traz a possibilidade de programar pagamentos, automatizar contratos e criar tokens representativos de ativos reais.
Integrando rastreabilidade em blockchain com o Drex, poderíamos tokenizar insumos ou a produção futura de pequenos produtores, permitindo que eles acessem financiamento com base em dados verificados de produção e sustentabilidade.
Isso criaria uma ponte entre o financiamento e a confiabilidade dos dados da cadeia, ampliando o acesso a crédito com juros mais justos e menos burocracia.
Além disso, a tendência é que o mundo siga a regulação europeia, que padroniza os Passaportes Digitais e gera uma enorme eficiência em atualização de embalagem e compliance de fornecedores.
5. Um dos problemas do setor fashion é o descarte de peças, como o ‘deserto de lixo’ no Atacama. A blockchain pode ajudar nesse problema? Como você vê isso?
Sim, a blockchain pode ser parte da solução. Com rastreabilidade total dos produtos, é possível acompanhar o ciclo de vida das peças de vestuário, registrar dados sobre durabilidade, pontos de coleta e logística reversa.
O Passaporte Digital do Produto tem como uma de suas finalidades mostrar ao consumidor a melhor forma e local para descartar o produto também. Isso vai totalmente de encontro ao tema, para evitar peças em lixões e incentivar a reciclagem.