Grandes detentores de Bitcoin que acumularam a criptomoeda nos primeiros anos, conhecidos como baleias, estão cada vez mais transferindo suas participações para fundos negociados em bolsa (ETFs), com gestoras de ativos como a BlackRock ativamente atraindo esse público.

Em entrevista à Bloomberg, Robbie Mitchnick, chefe de ativos digitais da BlackRock, afirmou que a empresa já facilitou conversões que somam mais de US$ 3 bilhões para seu ETF de Bitcoin spot iShares (IBIT).

Após anos mantendo seus fundos em autocustódia, muitas baleias estão reconhecendo “a conveniência de poder manter sua exposição dentro do relacionamento já existente com seu assessor financeiro ou banco privado”, disse Mitchnick.

Essa mudança permite que mantenham exposição ao Bitcoin (BTC) enquanto integram seu patrimônio ao sistema financeiro tradicional, possibilitando acesso mais fácil a serviços de investimento e crédito mais amplos.

Mitchnick atribuiu parcialmente essa tendência a uma recente mudança nas regras da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC), que passou a permitir criações e resgates em espécie para ETFs de cripto. A alteração possibilita que participantes autorizados troquem diretamente cotas de ETFs por Bitcoin, em vez de dinheiro, tornando as conversões em larga escala mais eficientes e vantajosas do ponto de vista tributário para investidores institucionais.

Fonte: Eric Balchunas

O IBIT da BlackRock se destacou como o mais bem-sucedido entre a dúzia de ETFs de Bitcoin spot aprovados nos Estados Unidos. Em junho, o IBIT se tornou o ETF mais rápido da história a ultrapassar US$ 70 bilhões em ativos sob gestão, número que já superou US$ 88 bilhões, segundo dados do Bitbo.

Os ETFs de Bitcoin spot dos Estados Unidos registraram um aumento nos fluxos líquidos, à medida que investidores aumentam suas posições durante a atual temporada de alta. Fonte: Bitbo

Not your keys, not your coins?

A tendência identificada por Mitchnick destaca a crescente institucionalização do Bitcoin, mais de 15 anos após Satoshi Nakamoto minerar o bloco gênese e idealizar um ativo portador baseado no princípio da autocustódia.

Os primeiros defensores do Bitcoin há muito argumentam que a autocustódia é a única maneira infalível de proteger os próprios fundos, um princípio central resumido no lema “not your keys, not your coins”.

No entanto, a ascensão dos ETFs de Bitcoin spot e das reservas corporativas está desafiando esse ideal, sinalizando uma mudança em direção a formas de propriedade mais convencionais, com custódia intermediada.

Embora os ETFs de Bitcoin spot e as posses diretas não sejam necessariamente concorrentes, já que atendem a diferentes perfis de investidores, o analista Willy Woo observou, em julho, que a demanda por ETFs pode ter desviado parte do interesse da autocustódia.

Segundo ele, dados on-chain mostram que o Bitcoin mantido em autocustódia rompeu recentemente uma tendência de alta de 15 anos, marcando um possível ponto de virada no comportamento dos investidores.

Fonte: Willy Woo

Ainda assim, os ETFs abriram as portas para um nível de participação institucional no Bitcoin que antes era inalcançável. Essa mudança tem influenciado as primeiras baleias, que antes movimentavam o mercado com suas compras e vendas diretas.