A agenda da diversidade começa a ganhar o criptomercado e a maior exchange da América Latina, a Mercado Bitcoin, já está de olho nas mudanças na sociedade brasileira.
Nos últimos anos, temas como LGBTfobia, racismo, xenofobia e outros tipos de preconceito ganharam mais importância na sociedade, na mídia e nas empresas, como uma forma de denunciar e combater abusos que acontecem na sociedade brasileira há séculos.
No último país a abolir a escravidão na história ocidental, dominado há décadas por um patriarcado violento e que hoje é o que mais mata a população preta e LGBTQIA+ no mundo, a sociedade tem reforçado a importância do respeito à diversidade e reconhecimento de populações marginalizadas pela normatividade e conservadorismo que dominaram violentamente o Brasil até o fim dos anos 2010. Mesmo hoje com um governo reacionário e militarista, a tendência só se fortaleceu.
Assim, a Mercado Bitcoin saiu da frente no criptomercado - que tem uma comunidade muitas vezes dominada por homens e que em última análise reúne ancaps reativos a temas ligados à diversidade - ao propor uma reformulação no departamento de direitos humanos e buscar refletir as necessidades da sociedade brasileira dentro da própria exchange.
A chefe da área de Pessoas e Cultura da Mercado Bitcoin, Élia Grande, concedeu entrevista recentemente para falar sobre o tema, reforçando que nos tempos atuais a adoção da diversidade é fundamental e que as "empresas não funcionam mais sem diversidade".
Ela explica como a iniciativa surgiu na Mercado Bitcoin:
"A primeira proposta foi conhecer quem já está aqui, uma vez que não tínhamos a mínima noção disso. Então, decidimos conhecer quem já trabalha na empresa para descobrir quem nós somos e para onde queremos ir, não só em questão de números como de público. Foi aí que surgiu a ideia do Super Censo. Nós fizemos alguns incentivos para que todo mundo participasse e tentamos fazer o programa abranger toda a empresa e, por sorte, conseguimos a participação de 100% de nosso pessoal.”
Segundo ela, a pesquisa interna revelou que 95% dos funcionários da empresa já se sentem à vontade de expressarem quem são: "Quando encontramos o dado, sentimos que algo que estávamos fazendo estava dando certo", diz ela, que explica como o programa de diversidade vai funcionar:
"Quando nós estruturamos a equipe de RH, nós queríamos levar essa discussão para toda a empresa. Hoje em dia, nós temos uma diversidade a cada grupo de três candidatos finalistas nas seleções de vagas e, depois disso, nós percebemos que a vagas começaram a ser preenchidas mais rapidamente. Hoje, os nossos gestores usam a diversidade como critério de desempate."
Para Élia Grande, a diversidade entre os funcionários é fundamental para as empresas e sem ela "os negócios não se sustentam":
"As empresas hoje em dia não funcionam sem diversidade. Se nós não diversificarmos, se não fizermos qualquer tipo de inclusão, os negócios não se sustentam. O mundo de hoje não é feito mais de elites. Nós estamos finalizando nosso manifesto que vai dizer qual é a nossa proposta para a diversidade. É uma forma de deixar isso registrado e traduzir para todas as pessoas, inclusive para quem está chegando. Nós pretendemos iniciar uma Jornada de Diversidade, um programa de capacitação interna para falar de vieses, cultura e a importância do diverso, alinhado com todos os nichos da companhia."
Ela também diz que a Mercado Bitcoin não vai formar a diversidade através de cotas, como acontece por exemplo em universidades brasileiras e que a exchange ainda está "formando a sua identidade" antes de definir sua abordagem:
"Existem muitas empresas que têm como obrigação cumprir cotas e eu já conversei com o presidente sobre isso e é algo que nós não queremos. A gente só consegue transmitir essa genuidade para os clientes quando a gente define o que a gente quer internamente e o que que a gente vai seguir para que isso se reverbere na comunicação para os clientes e eles possam fazer a aderência deles a partir do que é importante para nós. Nós ainda estamos formando a nossa identidade. Nós sabemos que queremos falar sobre diversidade, mas não definimos quais bandeiras nós vamos abraçar. Isso é algo que será fechado junto com os grupos de afinidade, que vão nos ajudar a conseguir essa resposta. Sabendo disso, o marketing pode se sentir seguro para reverberar isso no mercado."
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