Alegando que as blockchains atuais, como a do Bitcoin, são ineficientes para atender as novas demandas do mundo digital e frágeis à computação quântica, cientistas chineses, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Pequim, desenvolveram uma nova tecnologia de armazenamento em blockchain, chamada de EQAS.
De acordo com Wu Tong, professor associado da Universidade de Ciência e Tecnologia de Pequim, o EQAS substitui a criptografia atual das blockchains, baseada em matemática por uma ferramenta de assinatura conhecida como SPHINCS, revelada em 2015 em uma conferência internacional de criptografia.
Tong explica que ela utiliza funções de hash resistentes a quantum – ou verificações matemáticas mais simples – em vez de problemas complexos, o que, segundo eles, pode resistir a ataques de computadores quânticos.
“O surgimento dos computadores quânticos ameaça quebrar os atuais sistemas de segurança de blockchain. É como saber que um portão de madeira vai queimar em caso de incêndio”, disse.
Junto com Wu estão equipes do Instituto de Tecnologia de Pequim e da Universidade de Tecnologia Eletrônica de Guilin. De acordo com eles, o EQAS também simplifica o gerenciamento de chaves do dispositivo, evitando dores de cabeça de sincronização – uma grande vantagem para redes de blockchain onde os nós verificam as transações de forma independente.
Além disso, o armazenamento de dados também é separado da verificação no sistema EQAS. Ele gera provas usando uma estrutura de "árvore dinâmica" e as valida usando uma estrutura eficiente de "superárvore".
Blockchain chinesa à prova de computação quântica
Os pesquisadores disseram que essa abordagem, baseada em superárvore, aumentou a escalabilidade e melhorou o desempenho, ao mesmo tempo que reduziu a carga sobre os servidores.
Em simulações, o EQAS levou cerca de 40 segundos para concluir as tarefas de autenticação e armazenamento — muito mais rápido que o tempo de confirmação atual do blockchain Ethereum, de cerca de 180 segundos, com 12 blocos levando 15 segundos cada.
Wang Chao, professor da Universidade de Xangai especializado em ataques quânticos e que não estava envolvido no estudo, observou que o desenvolvimento da computação quântica está em fases distintas em diferentes governos e empresas e que ataques quânticos em blockchains ainda eram uma raridade.
"Precisamos nos preparar, mas não há necessidade de pânico”, disse.
Durante uma entrevista concedida ao Cointelegraph Brasil, o desenvolvedor do Bitcoin, Jimmy Song, declarou que é uma besteira dizer que a computação quântica pode destruir o BTC. Segundo ele, as pessoas que declaram isso deveriam entender melhor como a tecnologia funciona e "estudar mais".
"Isso é tudo uma besteira (risos). O problema é que a maioria das pessoas não entende a computação quântica, e a concepção popular é a de que 'se conseguirmos mais poder de processamento podemos calcular coisas em 5 segundos'. mas não é assim que funciona. Com a computação quântica você obtém melhores raízes quadradas, mas isso não garante que elas serão suficientes para decifrar uma chave privada", disse.
Ainda segundo Song, a operação necessária para decifrar uma chave privada é maior do que a idade do universo e que nem mesmo todos os computadores do mundo juntos poderiam, em tese, quebrar uma chave privada.
Você obtém uma velocidade quadrada de raiz que é de 2 a 128 operações em um computador quântico. Os computadores quânticos estão supostamente lentos no momento e, mesmo em um computador convencional, como se você tivesse todos os computadores do mundo, eles levariam, você sabe, milhões de anos para realizar tantas operações. Portanto, é completamente superestimado a afirmação de que o computador quântico vai destruir o Bitcoin", declarou.
Quem fala isso não entende de computação quântica nem de Bitcoin
Song também declarou que, de certa forma, fica irritado quando as pessoas dizem isso, pois, segundo eles, elas precisam entender como as coisas funcionam antes de sair dando declarações que provocam medo nas pessoas.
"As pessoas não entendem como a computação quântica funciona e isso me irrita tanto porque elas saem dizendo 'isso vai destruir isso e vai acabar com aquilo' mas eu pergunto, 'você realmente estudou isso antes de dizer estas coisas?' Com computação quântica ganharemos mais velocidade e acelerar processos mas isso não quer dizer que vamos 'matar' tudo em cinco anos. Enfim, é uma tecnologia de ponta e como tal, poucas pessoas realmente entendem". finalizou.
No entanto, um relatório publicado em maio deste ano pelos pesquisadores Anthony Milton e Clara Shikhelman, destacou que a ameaça quântica colocará em risco pelo menos 6,26 milhões de BTC, caso desenvolvedo
O estudo, intitulado “Bitcoin and Quantum Computing: Current Status and Future Directions”, estima que 30% do suprimento de Bitcoin em circulação está vulnerável a ataques de computadores quânticos criptograficamente relevantes (CRQCs). Ao alcançar capacidade suficiente para executar o algoritmo de Shor, esses dispositivos poderão quebrar a criptografia do Bitcoin com eficiência computacional sem precedentes — um processo que, com computadores clássicos, levaria mais de 100 quadrilhões de anos.
Conforme apontam os autores, “um CRQC rodando o algoritmo de Shor poderia derivar uma chave privada a partir de uma chave pública em questão de horas ou dias”, comprometendo assinaturas digitais baseadas em ECDSA e Schnorr, atualmente utilizadas pela rede Bitcoin.
As moedas sob maior risco são aquelas vinculadas a carteiras da era Satoshi, além de carteiras associadas a práticas de reutilização de endereços, comuns entre exchanges e grandes instituições. Segundo uma pesquisa citada no relatório, um terço dos especialistas globais consultados acredita que computadores quânticos serão capazes de quebrar a criptografia do Bitcoin entre 2030 e 2035.