A Chainalysis, empresa especializada na análise de dados on-chain, estima que existam atualmente 3,7 milhões de Bitcoin (BTC) dormentes porque seus donos perderam suas chaves privadas e, por consequência, o acesso às suas moedas. Considerando-se que até hoje foram emitidos pouco mais de 19 milhões de BTC, a quantia representa quase 20% do total de Bitcoins em circulação.
Considerando-se a cotação do par BTC/USD na manhã desta quarta-feira, 6 de abril, os Bitcoins perdidos somam aproximadamente US$ 164 bilhões. Difícil estimar quantas fortunas adormecidas na rede do Bitcoin encontram-se inacessíveis aos seus donos, mas com certeza elas poderiam mudar para melhor o conforto financeiro de seus donos.
Sempre se considerou que, uma vez perdidas as chaves privadas, os investidores estão condenados a dar adeus ao seu patrimônio. No entanto, uma dupla de pai e filho norte-americanos baseados em Boston se especializaram no serviço de recuperação de criptomoedas perdidas pelos usuários, relata reportagem publicada pelo site The National.
O engenheiro de programação Chris Brooks, 50, e seu filho Charlie, 20, fundaram a Crypto Asset Recovery para ajudar usuários do mundo inteiro a desbloquearem suas carteiras digitais não-custodiais. Este tipo de carteira exige que os proprietários guardem suas chaves privadas ou seed phrases para que possam acessar seus fundos.
A empresa já ajudou usuários de lugares tão diversos quanto o Oriente Médio, a África e a Europa a resgatarem fundos dados como perdidos. Curiosamente, conta Chris, o pai, a demanda pelo serviço costuma ser sazonal e responde aos movimentos do mercado.
Assim, a empresa foi criada em 2017, ano em que o Bitcoin valorizou-se em 1.331%. Com o ciclo de baixa inaugurado em 2018, a queda na procura pelo serviço fez com que o pai decidisse interromper as atividades. Com a reversão da tendência em 2020 e o início de um novo ciclo de alta do mercado de criptomoedas, a empresa foi reaberta.
Para se ter uma ideia do tamanho potencial do mercado atendido pela empresa, uma pesquisa realizada nos EUA em 2021 pela CryptoVantage revelou que 39,7% dos proprietários de criptomoedas já haviam perdido as chaves de acesso aos seus fundos em algum momento.
Um levantamento realizado pela dupla de "caçadores de criptomoedas" indica que 98% de um total de US$ 4,1 bilhões de moedas perdidas é irrecuperável. Ao passo que 2% são recuperáveis, "caso seus proprietários estejam realmente motivados e seguirem as melhores práticas ao fazê-lo”, diz Charlie, o filho. Os serviços da dupla não se limitam ao Bitcoin, como o pai faz questão de frisar:
"Essencialmente, podemos recuperar qualquer criptoativo mantido em uma carteira não custodial."
Lucro de 62.400%
Foi o caso de Rhonda Kampert, uma cidadã norte-americana residente do estado de Illinois. A investidora comprara seus primeiros Bitcoins em 2013, durante o primeiro grande ciclo de alta da maior criptomoeda do mercado. Na ocasião, Rhonda pagou aproximadamente US$ 80,00 por unidade para adquirir 3,5 BTC. Dada a cotação irrisória da moeda, Rhonda abandonou-os sem se preocupar em monitorar o preço ou a verificar a custódia dos seus ativos.
Até que em 2017 o Bitcoin tomou de assalto as manchetes com sua alta exponencial rumo aos US$ 20.000. Rhonda tentou acessá-los para realizar os lucros. No topo do ciclo, o investimento de US$ 280 havia se convertido em US$ 69.300 - uma valorização de 24.800%. Depois de inúmeras tentativas, a investidora acidental acabou sucumbindo à frustração:
"Eu tinha um pedaço de papel com minha senha, mas não tinha ideia de qual era o ID da minha carteira. Foi horrível. Eu tentei tudo por meses, mas não consegui entrar. Então, acabei desistindo."
No entanto, em abril do ano passado, um novo ciclo de alta levou o Bitcoin acima de US$ 64.000 e reacendeu o desejo de Rhonda de reaver seu investimento à medida que ele se transformara em uma pequena fortuna. Pesquisando na internet, ela descobriu os serviços de Chris e Charlie. Após uma conversa inicial, resolveu contratá-los:
"Depois de conversar com eles por um tempo, senti confiança para passar as informações de que eu ainda me lembrava. Aí, me pus a esperar. Depois, fizemos uma nova chamada de vídeo e eu assisti ao processo. Chris abriu a minha carteira e os bitcoins estavam lá.""
Aliviada e contente, oito anos depois, Rhonda teve acesso aos seus 3,5 BTC – aproximadamente US$ 175.000 na cotação da época. Caso tivesse realizado os lucros com o BTC a esse preço, Rhonda teria obtido um lucro de 62.400%, mas ela preferiu manter a maior parte dos Bitcoins recuperados.
Imediatamente, ela pagou os 20% combinados com a dupla pela realização do serviço e converteu uma porção em dólares para ajudar a filha a arcar com os custos de ingresso na universidade. O restante, ela guarda em uma carteira não custodial, agora devidamente protegida e acessível.
Casos bem sucedidos como o de Rhonda respondem por 30% dos serviços prestados pela empresa. Ou seja, na maioria dos casos, as moedas seguem perdidas no limbo. Mesmo assim, a demanda segue em alta. Quando o Bitcoin atingiu a sua mais recente máxima histórica de US$ 69.000, em novembro do ano passado, pai e filho recebiam uma média de 100 consultas diárias de potenciais clientes.
Em casos em que não conseguem acesso aos fundos, não há cobrança pelos serviços prestados. De resto, os custos podem variar de acordo com a quantidade de criptomoedas guardadas nas carteiras, como explicou Charlie à reportagem do The National:
"Na grande maioria das vezes, cobramos uma taxa de 20% pelo serviço. Mas para qualquer carteira acima de 10 Bitcoins, a taxa começa a diminuir."
Mercado em alta
Ao longo do ano passado, os "caçadores de Bitcoin" dizem ter recuperado uma soma de sete dígitos em dólares resgatando criptomoedas adormecidas. Mesmo agora, com o mercado lateralizado desde o início do ano, há pedidos aguardando em uma lista de espera e uma eventual confirmação de baixa do mercado não deverá interromper as atividades da empresa novamente, como aconteceu em 2017.
Charlie pretende até mesmo abandonar a faculdade de ciências da computação para dedicar-se exclusivamente ao negócio familiar. Embora seja suficiente para manter um bom padrão de vida, o filho conta que muitas vezes, mesmo quando eles têm sucesso em acessar as carteiras dos clientes, o sentimento é de decepção:
"Na maior parte dos casos, não conseguimos saber de antemão o que há dentro da carteira, portanto temos que confiar no que diz o cliente e acreditar que o valor que realmente está lá justifica todo o nosso trabalho. Tivemos um caso no verão em que uma pessoa nos disse que tinha 12 bitcoins. Nós agimos de maneira profissional na frente dele, mas em privado já estávamos comemorando o potencial pagamento que receberíamos. Gastamos umas 60 horas no computador, além de outras 10 horas com o cliente tentanto identificar pistas. Aí, numa chamada por vídeo, quando finalmente abrimos a carteira, ela estava totalmente vazia."
Pai e filho contam ainda que no caso mais recompensador em que trabalharam até hoje, encontraram US$ 280.000 em Bitcoin.
Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, é cada vez maior o número de bilionários que enriqueceram através de investimentos em criptomoedas. De 2020 para 2021, esse contingente cresceu 60%.
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