Por que gigantes da tecnologia como a Amazon podem hesitar em adotar o Bitcoin?

Empresas de tecnologia como a Amazon possuem uma grande quantidade de dinheiro em caixa — US$ 87 bilhões no ano passado — que perde poder de compra à medida que a moeda é desvalorizada.

Um think tank com sede em Washington, DC, o National Center for Public Policy Research (NCPPR), apresentou uma proposta de acionistas para adotar o Bitcoin (BTC) como solução. Ainda assim, não está claro se as gigantes da tecnologia veriam benefícios significativos com isso.

O NCPPR tem pressionado pela estratégia na Microsoft e na Amazon. Em ambos os casos, o think tank afirmou que a adoção do Bitcoin em suas tesourarias protegeria os ativos em caixa e o valor dos acionistas contra a inflação.

A proposta argumenta que o Índice de Preços ao Consumidor (CPI), que mede a inflação em 4,95%, é uma “medida notavelmente pobre” da verdadeira desvalorização da moeda e sugere que a inflação real pode ser duas vezes maior.

A Microsoft tem US$ 78 bilhões em caixa, enquanto a Amazon possui US$ 87 bilhões. Embora o Bitcoin possa oferecer uma potencial proteção, os riscos superam os benefícios?

Apesar do apoio do especialista Michael Saylor, presidente da MicroStrategy, os acionistas da Microsoft votaram “não” na proposta de reserva de Bitcoin do NCPPR, indicando que a volatilidade foi um fator negativo.

A Amazon será a próxima a decidir. Este voto será diferente?

A Amazon não é uma empresa conservadora como a Microsoft

Nick Cowan, CEO da empresa de fintech Valereum, disse ao Cointelegraph que a Microsoft e a Amazon podem ter semelhanças como gigantes da tecnologia, mas seus estilos diferem significativamente.

“O voto dos acionistas da Amazon pode, de fato, diferir do da Microsoft devido à reputação da empresa por inovação e tolerância ao risco.”

Embora a Microsoft seja historicamente conservadora em sua abordagem fiscal e estratégica, a Amazon tem um histórico de adoção de tecnologias emergentes e exploração de investimentos inovadores.

Amazon pode votar na proposta do NCPPR em sua reunião anual de acionistas em maio de 2025. A proposta pede à empresa que exceda a típica alocação de 1-2% para ativos de risco em portfólios corporativos.

“No mínimo, a Amazon deveria avaliar os benefícios de manter alguns, mesmo que apenas 5%, de seus ativos em Bitcoin.”

Cowan disse que essa porcentagem é duvidosa. “Uma alocação de 5% em Bitcoin é ambiciosa e provavelmente irrealista para uma empresa do porte da Amazon,” disse ele. “Embora o Bitcoin ofereça diversificação, sua volatilidade e a falta de rendimento tangível tornam difícil justificar tal nível.” Ele disse que “uma alocação experimental menor, semelhante à abordagem da Tesla, poderia obter mais apoio dos acionistas.”

A compra de Bitcoin pela Tesla em 2021 foi lucrativa para a empresa. Inicialmente, a Tesla comprou US$ 1,5 bilhão em Bitcoin, mas vendeu 70% de sua posição inicial em 2021.

Ainda assim, a Tesla manteve sua reserva de Bitcoin (9.720 BTC), cujo valor agora excede US$ 1,3 bilhão, segundo dados do BitcoinTreasuries.NET.

A Amazon possui bilhões em caixa, então poderia facilmente alocar um valor semelhante. Enquanto o NCPPR pode ser sincero em seu desejo de que Amazon e Microsoft adotem Bitcoin, Cowan sugere que a estratégia mais ampla é amplificar a mensagem de que o Bitcoin pode ser visto como um hedge contra a inflação para “criar um possível impulso para a aceitação institucional do Bitcoin.”

O NCPPR não respondeu imediatamente ao pedido de comentário da Cointelegraph.

Os gigantes da tecnologia precisam de Bitcoin para suas tesourarias?

A MicroStrategy demonstrou resultados notáveis ao adotar Bitcoin em sua tesouraria.

A empresa começou a comprar Bitcoin em 11 de agosto de 2020, adquirindo 21.454 BTC por US$ 250 milhões. Desde então, o preço de suas ações disparou de US$ 14 para US$ 411, com sua capitalização de mercado subindo de US$ 1,3 bilhão para quase US$ 100 bilhões.

A aposta de Saylor de usar Bitcoin como um hedge contra a inflação superou amplamente as expectativas, então por que os gigantes da tecnologia não imitariam seu modelo de tesouraria? A abordagem da MicroStrategy usa uma grande quantidade de alavancagem, tornando seu método mais arriscado do que a estratégia de compra e retenção da Tesla.

Além disso, a relação entre Bitcoin e sua capitalização total de mercado transformou as ações da MicroStrategy em um proxy alavancado para Bitcoin.

No momento da escrita, a capitalização de mercado da Amazon é de US$ 2,4 trilhões, e a da Microsoft é de US$ 3,3 trilhões, então os resultados da adoção de Bitcoin por essas empresas não se assemelhariam aos da MicroStrategy.

Cowan disse que não há urgência para a Amazon adotar Bitcoin, pois seu “negócio principal é forte.” Embora realocar parte ou o total de suas reservas de caixa para Bitcoin pudesse proteger contra a inflação, há o risco de desviar-se de sua estratégia de tesouraria atual, que alguns acionistas podem perceber como uma possível responsabilidade para seu modelo de negócios lucrativo.

“O custo de oportunidade de manter um ativo volátil como o Bitcoin, em vez de investir em P&D ou aquisições, pesaria bastante em tal decisão.”

“Dedicando uma grande porção ao Bitcoin, a Amazon poderia impactar sua capacidade de financiar áreas de crescimento chave, como AWS, avanços em IA e infraestrutura logística,” disse ele. A decisão do voto dos acionistas precisaria “equilibrar a aquisição de ativos especulativos contra investimentos críticos em inovação que definem a vantagem competitiva da Amazon.”

Preocupações ambientais com Bitcoin podem afastar acionistas

As grandes empresas de tecnologia também devem considerar a percepção pública, já que a mídia mainstream influencia suas marcas e preços de ações. Embora a reputação do Bitcoin tenha melhorado consideravelmente, ele ainda é associado a ativos de negociação especulativa, uso indevido potencial e preocupações ambientais.

“Uma narrativa negativa de relações públicas pode ofuscar os potenciais benefícios financeiros, particularmente dado o foco da Amazon em iniciativas ESG e sua necessidade de manter um apelo amplo entre as partes interessadas.”

A Amazon revolucionou o comércio ao entregar rapidamente produtos na porta dos clientes. No entanto, o impacto ambiental desse modelo é assustador, com mais de 709 milhões de libras de resíduos plásticos gerados, segundo um relatório de 2022 da organização ambiental Oceana.

A empresa se comprometeu a alcançar emissões líquidas de carbono zero até 2040, uma década antes do objetivo do Acordo de Paris.

O alto consumo de energia do Bitcoin na mineração enfrentou críticas pesadas de ambientalistas. Essa narrativa está mudando à medida que a infraestrutura de mineração é mais minuciosamente examinada, mas os riscos de uma reação negativa de relações públicas permanecem.

Os acionistas da Amazon devem decidir se a empresa pode obter resultados positivos semelhantes aos da Tesla ou MicroStrategy ao proteger-se contra a inflação com Bitcoin, ou se deve evitar os riscos e focar em seu modelo de negócios principal.