Depois de 17 dias de férias em plena pandemia de coronavírus, aglomerações em série e quase 200.000 mortos no Brasil, o Presidente da República Jair Bolsonaro voltou a Brasília (DF) na última terça-feira para o primeiro dia de expediente do ano da forma habitual: com declarações sob medida para confundir e polemizar.

Diante de sua claque de apoiadores, Bolsonaro tercerizou a culpa da crise econômica brasileira, disse que o Brasil "está quebrado" e que "não pode fazer nada", mesmo que o cargo para o qual foi eleito ter sido feito para tal. Segundo ele, a culpa da crise "é da imprensa" e os jornalistas "vão ter que me aguentar até 2022".

A declaração de Bolsonaro vem como mais uma cortina de fumaça enquanto o presidente e sua família seguem cada vez mais comprometidos com denúncias de corrupção e crimes contra a saúde pública - levando o Exército consigo - desde quando a pandemia de coronavírus começou a se espalhar no Brasil, em março de 2020.

Depois da cortina de fumaça ser rechaçada por uma série de economistas e especialistas em gestão pública no mesmo dia, Bolsonaro voltou a alimentar seus seguidores, dizendo nesta quarta, com um sorriso irônico no rosto, que "o Brasil está uma maravilha".

A "maravilha" de Bolsonaro, porém, mostra uma outra realidade quando baseada em fatos para além da bolha das redes sociais do presidente: um país que perdeu o respeito internacional, não tem plano federal de vacinação, com um governo que alimenta conspirações e desdenha de centenas de milhares de mortes, e com 9 dos 27 estados da federação vivendo oficialmente em calamidade financeira: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí, Roraima, Paraná, Rondônia, Tocantins e Distrito Federal.

A agenda neoliberal de Paulo Guedes, outrora prestigiado, até agora é uma prova de sua total ineficácia para resolver os problemas da sociedade brasileira, provando o contrário das análises "especialistas" liberais do mercado financeiro: as medidas tomadas até aqui, reforma previdenciária inclusa, só serviram para reafirmar as diferenças sociais, a concentração de renda e os privilégios de quem lida com dinheiro público e a força do Estado - mais uma vez, aqui incluídas as Forças Armadas e o Judiciário.

Além dos problemas de saúde e de gestão pública, o Brasil também sofre com inflação, desemprego e crise econômica, embora parte do mercado financeiro comemore sinais de recuperação.

Por isso, não é à toa que parte da população brasileira já busque ativos alternativos para se proteger de uma moeda "podre" - a segunda pior do mundo em 2020 -, de uma economia inconfiável, da inflação expressiva de preços e de um futuro político duvidoso, como o Bitcoin.

Bitcoin como proteção econômica no Brasil

Segundo dados do Google Trends, o interesse de buscas por Bitcoin no Brasil nos últimos 90 dias disparou durante o atual mercado de alta e já é maior entre os estados que vivem sob decretos de calamidade financeira.

Buscas por Bitcoin no Google nos últimos 30 dias. Fonte: Google Trends.

Apesar de Santa Catarina liderar o ranking, todos os cinco estados a seguir estão nesta lista de calamidade: Roraima, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Paraná. 6 dos 10 estados com maior procura pro Bitcoin vivem sob decretos e grave crise financeira na gestão pública.

O Amazonas, que decretou calamidade pública por seis meses depois da falência do sistema público de saúde do estado, também está no Top 10 de buscas por Bitcoin.

Os dois estados com menor procura pela maior criptomoeda no Google são Sergipe e Amapá, este último sofrendo uma crise energética desde novembro de 2020.

Nos dados somente do último mês, a lista muda sensivelmente, mantendo Santa Catarina no topo ao lado do Rio Grande do Sul, seguidos por Tocantins, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Paraíba, Acre, Paraná, Espírito Santo e São Paulo. Destes, 4 estão sob estado de calamidade financeira.

Curiosamente, o termo relacionado ao Bitcoin com mais buscas nos últimos 12 meses no Brasil é "Bitcoin Vault", uma criptomoeda que prometia ser o "Bitcoin 2.0" mas que sofreu com suspeitas de fraude no segundo semestre 2020 depois de supostamente sofrer um ataque de 51%, também questionado pela criptoesfera.

Apesar de grandes pirâmides financeiras de Bitcoin do país terem sido desmontadas ainda em 2019 - Unick Forex, Bitcoin Banco e Atlas Quantum, para citar as maiores - o ano passado também sofreu com fraudes em todo o país.

Como noticiou o Cointelegraph Brasil nesta semana, um outro decreto de Bolsonaro pode permitir que muitas dessas empresas - que sumiram com bilhões de reais de seus clientes - possam retomar as atividades, mesmo ainda sem prestar contas à Justiça.

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