A Web 2.0, ou a internet tal qual a conhecemos hoje, estrutura-se em torno de algumas poucas mega-corporações tecnológicas que controlam os dados e as criações dos seus usuários, e ao mesmo tempo ainda lucram com isso. As redes sociais, por sua vez, têm um papel central no modelo de negócios de empresas como Google, Meta, Apple e Microsoft, seja de forma direta ou indireta.
A ascensão da Web3 surge como uma promessa de rever valores sociais e culturais, mas – principalmente – os modelos de negócios digitais para reestruturá-los em benefício de seus usuários. Para os seus adeptos, esta nova era da internet vai estabelecer um novo paradigma através de uma revolução digital. Sua missão: nada mais nada menos do que corrigir e superar todos os erros da Web 2.0, desde a falta de propriedade sobre criações, produtos e dados digitais, até a censura e a remuneração dos usuários da rede.
A propriedade de conteúdos criados pelos usuários, maior privacidade e o fim da cultura do cancelamento certamente são conceitos atraentes e desejáveis para a grande maioria dos usuários. No entanto, a materialização dessa nova era provavelmente "levará mais tempo do que os arquitetos da Web3 esperam" ou pode nem mesmo se concretizar, afirma Lawrence Wintermeyer em um artigo publicado na Forbes na semana passada.
Criptomoedas e tecnologia blockchain
A Web3 é derivada da tecnologia blockchain, subjacente às criptomoedas, que inaugurou os conceitos de tokenização, redes distribuídas e descentralizadas. Pode-se dizer que a Web3 tem suas raízes na criação do Bitcoin (BTC), uma forma monetária digital alternativa ao papel moeda emitido e controlado por bancos centrais e autoridades governamentais, não censurável, não permissionada (o que significa que qualquer um com acesso à internet pode utilizá-la), e independente de relações de confiança.
Demorou pelo menos uma década para que o Bitcoin fosse compreendido, e ainda assim não se pode dizer que, hoje, a maior criptomoeda do mundo, é universalmente aceita. É provável que o mesmo aconteça com os dispositivos que fornecem o substrato técnico que alimenta e mantém a Web3.
Embora a Web3 tenha surgido no ambiente contracultural das criptomoedas, os gigantes do setor tecnológico começam a incorporar, ao menos em parte, alguns de seus recursos e até mesmo de sua filosofia. A Meta acaba de incorporar NFTs (tokens não fungíveis) a fotos de perfil do Instagram e do Facebook. Sem falar em sua corrida para liderar a construção do metaverso.
A Alphabet, controladora do Google, é a líder em investimentos em empresas da indústria de criptomoedas e tecnologia blockchain. Outras gigantes, como a Microsoft e a chinesa Tencent também fazem parte da lista.
Segundo Wintermeyer, as redes sociais podem se converter em um campo de batalha decisivo entre o velho e o novo modelo da internet.
Redes sociais na era da Web3
Além de, em tese, ser mais resistente à censura e ao controle dos dados usuários, a Web3 proporciona alternativas de monetização de conteúdo e distribuição de valor entre as entidades da rede, solapando o modelo de negócios de incumbentes como a Meta, com seus anúncios direcionados e seus e cookies invasivos que monitoram cada clique de seus usuários para aumentar a geração de receitas.
Jeff Baek, CEO da empresa de pagamentos Web3 PIP, acredita que os micropagamentos e compensações viabilizados pelas criptomoedas serão capazes de revolucionar a economia global, incluindo e conectando pessoas de todos os lugares do mundo, à medida que criadores de conteúdos poderão ser diretamente remunerados pelo material que produzem:
“Hoje, todos, independentemente de onde residam, já estão conectados em plataformas sociais como o Twitter, eles só precisam ser conectados monetariamente. Os sistemas de pagamento atuais são isolados, o Twitch tem seu próprio sistema de pagamento, o YouTube tem o seu próprio – a Web3 permite o livre fluxo de dinheiro, assim como a internet fez com as informações.”
De acordo com Sakina Arsiwala, cofundadora da rede social Web3 Taki, “na Web 2.0 os sistemas de monetização são baseados em transações unidirecionais, assinaturas ou doações." A Web3 cria uma nova dinâmica econômica onde "os participantes podem negociar, guardar, fazer staking, bem como resgatar tokens para utilidades específicas ligadas à experiência dos produtos comercializados":
“Quando projetados corretamente, os tokens sociais colocam a maioria, senão toda a economia nas mãos dos usuários finais e, portanto, fornecem uma alternativa de monetização melhor do que na Web2.”
A alternativa a que Arsiwala se refere já é utilizada pelo navegador Brave, cujo token BAT recompensa os usuários por cliques em anúncios, e faz parte do Taki. Arsiwala observa ainda outros casos de uso interessantes baseados no mesmo modelo. Segundo ela, micropagamentos podem ser usados para combater mensagens de spam, qualificar feeds ou threads em redes sociais em consonância com a atividade financeira.
O grande problema, afirma Wintermeyer, é que as plataformas de Web3 ainda não são suficientemente atraentes e não oferecem uma boa experiência de uso ao público – e este é um gargalo incontornável.
Endereços e identidades codificadas em sequências enormes de números e letras, a necessidade de conectar uma carteira digital para poder interagir com cada nova plataforma ainda são experiências maçantes e pouco intuitivas.
Isso sem falar nas próprias redes sociais descentralizadas que já existem hoje e estão totalmente restritas à própria comunidade cripto. Wintermeyer lembra ainda a primeira tentativa de criar uma rede social descentralizada e como ela falhou miseravelmente:
"O Steemit, a primeira plataforma de blogs e mídia social baseada em blockchain, foi lançada em 2016. Apesar de ter aberto um caminho para os desenvolvedores da Web3, o Steemit, hoje, não passa de uma nota de rodapé na história da Internet."
Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o Reddit faz parceria com FTX para permitir pagamento de taxas de gás ETH com pontos da comunidade.
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