Responsáveis por 75% das patentes de blockchain, China e Estados Unidos dominam 90% da capitalização de mercado das maiores empresas online do mundo, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).

Esta disparidade, segundo uma matéria da BBC Brasil de 14 de outubro, pode levar países como o Brasil, que têm grande demanda por inovação tecnológica e processamento de dados, a uma espécie de "colonialismo digital".

Segundo o texto, "o paralelo com a colonização se dá pelo risco de submissão e dependência econômica das nações frente às superplataformas chinesas e americanas", citando relatório da Conferência para Comércio e Desenvolvimento da ONU.

Com as superpotências dominando a inovação digital para o processamento de dados, países como o Brasil não teriam capacidade de desenvolver sistemas próprios para processar seus dados, tornando-se simples fontes de conteúdo bruto e "eternos clientes" na compra de serviços digitais.

O conteúdo bruto, aliado ao processamento de dados, é um grande produto para os mercados globais, usado inclusive em eleições, como no escândalo da Cambridge Analytica, envolvendo o uso e processamento de dados de usuários do Facebook para influenciar na eleição do Brexit, no Reino Unido, e nas eleições presidenciais dos EUA em 2016.

O texto ressalta que "o efeito é similar ao ciclo colonial, durante o qual se exportavam produtos de baixo valor agregado e se importavam bens de consumo acabados -  uma dinâmica de desequilíbrio e dominação que remonta a essas relações econômicas assimétricas do passado".

No caso brasileiro, os produtos de baixo valor agregado são os dados brutos do usuário, que sem processamento valem muito pouco, enquanto os bens acabados são os dados ultraprocessados e segregados por interesses e perfis de usuários, vendidos a altos valores a empresas interessadas em usá-los para atingir determinado público-alvo.

O texto ressalta que sete superplataformas dos EUA e China dominam 2/3 do mercado digital global: Microsoft, Apple, Amazon, Google, Facebook, WeChat e AliBaba, com um mercado estimado em US$ 7,1 trilhões.

Além de dominarem 75% das patentes de blockchain, China e Estados Unidos também reúnem 50% dos gastos globais em IoT (Internet of Things), segundo o relatório, e 75% do mercado de cloud computing.

Sem desenvolvimento de plataformas de processamento de dados, com a tecnologia blockchain tornando-se cada vez mais importante no setor, países como o Brasil acabam dependentes desse "comércio deficitário de modo praticamente irreversível", declara a ONU.

O caso brasileiro torna-se ainda mais grave, pois o país têm ocupado as últimas colocações nos rankings de corrida digital, situado em 57o. entre 63 países do Ranking Global de Competitividade Digital.

Em 2017, o impacto direto da indústria da informação na economia brasileira foi de apenas 6,3 milhões de euros, 1/5 do Japão e quase 5% dos EUA. Além disso, o país possui pouco mais de 36 mil empresas no setor de economia digital, pouco mais de 10% da Europa e 1/3 do Japão. 

Como o Cointelegraph Brasil também noticiou, a demanda por profissionais qualificados também é um grave problema do setor no Brasil.