O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) planeja lançar duas iniciativas destinadas a ajudar países a adotar a tecnologia blockchain.

Robert Pasicko, líder da equipe de tecnologia financeira do PNUD, a AltFinLab, disse ao Cointelegraph, nos escritórios da ONU em Copenhague, Dinamarca, que a organização pretende lançar um programa de educação em blockchain para funcionários do governo, juntamente com um órgão consultivo em blockchain.

A iniciativa se baseia na academia de blockchain já existente do PNUD para funcionários da ONU, agora com o objetivo de ajudar governos a implementar blockchain em aplicações do mundo real.

Pasicko afirmou que “em poucas semanas” a nova academia começará a operar e selecionará quatro governos para colaborar. Ele espera a aprovação formal da iniciativa em uma ou duas semanas.

“O treinamento é apenas parte disso”, disse Pasicko, observando que a organização também ajudará as iniciativas a avançarem no desenvolvimento de projetos. Ele mencionou que uma pesquisa conduzida pelo PNUD identificou 300 possíveis casos de uso para governos dispostos a adotar a tecnologia blockchain.

Bandeira das Nações Unidas na sede da ONU em Copenhague. Fonte: Wikimedia

Grupo consultivo de blockchain da ONU em desenvolvimento

Pasicko disse que a ideia de uma organização consultiva de blockchain liderada pelo PNUD foi discutida durante uma assembleia geral da ONU em Nova York, que contou com a presença de 25 das principais empresas de blockchain, incluindo a Fundação Ethereum, a Fundação Stellar e a Polygon Labs. “Se tudo correr bem”, o projeto poderá ser lançado em dois a três meses, afirmou.

Pasicko observou que o PNUD já possui projetos-piloto em 20 países com o objetivo de promover a inclusão financeira por meio da tecnologia blockchain. Um dos parceiros é a Decaf, um sistema de pagamentos baseado em criptomoedas que ajuda pessoas a acessar serviços financeiros sem a necessidade de bancos. “Por quanto tempo ainda precisaremos de bancos comuns se for possível contorná-los com esses aplicativos?”, questionou Pasicko.

Caixas eletrônicos estão seguindo o caminho dos orelhões

Pasicko comparou a evolução da infraestrutura bancária ao declínio dos orelhões públicos, destacando como essas estruturas deixaram de ser necessárias para o propósito original. Ele observou que em alguns países elas se transformaram e no Japão, por exemplo, servem como pontos de acesso Wi-Fi.

“A mesma pergunta é: você precisará de caixas eletrônicos em alguns anos? Eu acho que não”, disse ele.

Quando questionado se essa mudança será consequência das criptomoedas, das stablecoins privadas ou das moedas digitais de bancos centrais, Pasicko respondeu que espera, na verdade, uma combinação das três. Ele explicou que diferentes jurisdições provavelmente favorecerão soluções distintas, mas que a tecnologia tende a tornar os intermediários obsoletos.

“Você precisa de uma conexão com a internet, precisa do seu smartphone. Não há mais nada de que você precise para essas transações”, afirmou.

Ainda assim, Pasicko destacou que “aqueles que estão no comando hoje estão fazendo o possível para permanecer no comando”. Ele ressaltou que as tecnologias podem ser usadas para o bem ou para o mal, observando que o fogo pode aquecer as pessoas quando necessário ou queimar vilas inteiras.

Segundo ele, o mesmo vale para a blockchain. Dependendo de como essa tecnologia for implantada, ela pode ampliar a divisão entre ricos e poderosos e o restante da população, ou pode servir às massas.