Quando se fala em inovação no setor financeiro, muitas vezes o debate gira em torno de tecnologias promissoras, mas ainda pouco aplicadas. 

No entanto, há casos em que a disrupção não só está em curso — como já ultrapassou expectativas globais. Esse é o cenário da tokenização no Brasil.

Segundo dados de pesquisa global realizada pela Adyen e publicada na Exame, 25% das empresas brasileiras já utilizam algum tipo de tokenização em seus processos de pagamentos. A média global, por comparação, é de 16%. 

Em outras palavras: a adoção brasileira é 56% maior do que a média mundial.

Esse número pode surpreender quem enxerga a tokenização apenas pela lente dos ativos digitais tradicionais. 

Mas, ao observar a forma como o nosso mercado tem explorado a tecnologia como infraestrutura para eficiência operacional, a liderança brasileira faz total sentido.

Tokenização como camada de eficiência, não só de inovação

A tokenização, no contexto da pesquisa da Adyen, não diz respeito somente à emissão de tokens vinculados a ativos financeiros como debêntures ou direitos creditórios. 

Ela se refere à capacidade de criar identificadores digitais únicos — tokens — para armazenar dados sensíveis, como informações de cartão, de forma segura e reutilizável.

Na prática, isso significa que uma empresa pode reconhecer um mesmo cliente mesmo que ele troque de cartão, banco ou dispositivo, garantindo continuidade da experiência, taxas mais altas de aprovação e redução de fraudes.

Esse modelo, por mais distante que pareça da tokenização via blockchain, carrega a mesma lógica de segurança, imutabilidade e referência unificada que sustenta os ativos digitais. 

E sua adoção em larga escala mostra como as empresas brasileiras estão mais preparadas do que se imaginava para operar num ecossistema baseado em dados digitais distribuídos.

O token como elo invisível entre canais e sistemas

Um exemplo citado na reportagem da Exame é a Nespresso, que integrou seus terminais físicos a uma plataforma unificada de recorrência, baseada em tokenização. O resultado? O cliente pode assinar um clube de cápsulas em loja física, com a segurança e fluidez de um ambiente digital.

Essa infraestrutura também permite reduzir fricções comuns em ambientes multicanais, em que o histórico do cliente, os dados de pagamento e os benefícios de fidelidade nem sempre se comunicam entre sistemas distintos.

Ao utilizar tokenização como “ponte”, as empresas brasileiras estão, na prática, operando com estruturas interoperáveis, antecipando desafios que serão ainda mais relevantes à medida que o Drex, o Open Finance e as soluções tokenizadas por blockchain se consolidem no país.

Um mercado que já pensa em liquidez, dados e personalização

Outro dado relevante da pesquisa: 72% das empresas brasileiras usam inteligência artificial para prevenir fraudes e personalizar experiências de compra. 

Isso mostra que o avanço da tokenização aqui não acontece isoladamente — ele vem acompanhado de uma visão clara de integração entre tecnologia, dados e estratégia de negócios.

Se IA, tokenização e APIs seguras já fazem parte da operação corrente de grandes marcas no Brasil, não é exagero dizer que parte significativa do nosso mercado está pronta para a próxima onda da tokenização: aquela que trata de ativos reais e blockchain.

Hoje, pode-se dizer que usamos tokenização para unificar experiências de pagamento e proteger dados. 

Amanhã, o mesmo cliente poderá investir em frações de ativos tokenizados — com a mesma fluidez, rastreabilidade e interoperabilidade que já experimenta ao comprar um café.

A maturidade silenciosa da infraestrutura brasileira

Muitas vezes se imagina que liderança em inovação está associada a anúncios de grandes projetos-piloto, sandbox regulatório ou integrações com redes públicas globais. Mas, no caso brasileiro, a liderança parece estar em outro lugar: na capacidade de adoção pragmática e consistente de tecnologias que funcionam.

Tokenização, aqui, já não é só discurso — é back-end. 

Está por trás de sistemas de pagamento, plataformas de fidelidade, redes de logística e até soluções de crédito corporativo. E isso ajuda a explicar por que o país desponta como uma referência no setor, ainda que boa parte do mercado global ainda trate o tema como “em construção”.

A tokenização já deixou de ser um experimento para se tornar parte da infraestrutura real de negócios no Brasil — e o que construirmos agora vai moldar o mercado dos próximos anos. 

Se quiser continuar essa conversa, estou sempre compartilhando reflexões sobre inovação, ativos digitais e o futuro do mercado financeiro no meu LinkedIn e nas redes sociais. É só me procurar por @DanielCoquieri. Vamos seguir conectados!

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