O Banco ABC, que faz parte de um dos consórcios participando do projeto piloto do Drex, anunciou que está utilizando inteligência artificial (IA) para desenvolver contratos inteligentes. Pedro Begotti e Francisco Prestes, da área de inovação do Banco ABC, contaram ao Cointelegraph Brasil sobre a aplicação da ABC Smart Chain dentro do ambiente Drex.
Programar o dinheiro programável
O Drex, infraestrutura digital criada pelo Banco Central (BC), apresenta a possibilidade de tornar o real, uma moeda fiduciária, em dinheiro programável.
Francisco Prestes, Head do laboratório de inovação ‘Future Lab’, do Banco ABC, aponta que a ideia de dinheiro programável cria a necessidade de “programar o dinheiro” através de contratos inteligentes. A ABC Smart Chain, então, surge a partir dessa necessidade.
“Programar um contrato inteligente é uma habilidade rara mesmo entre os desenvolvedores. É necessário entender Solidity, entender as redes compatíveis com Ethereum, o que torna o desenvolvimento pouco democrático”, explica Prestes. Ele acrescenta que, com o surgimento da IA generativas, uma forma de facilitar o processo é criar uma ferramenta que interprete a intenção do usuário e converta na linguagem de programação Solidity.
“Então, criamos uma plataforma realmente democrática, onde o usuário final não precisa entender a parte técnica. A plataforma não só gera o contrato inteligente, como também publica nas redes permissionadas e não-permissionadas”, aponta o Head do Future Lab.
Prompt para gerar um contrato inteligente com a ABC Smart Chain. Imagem: Banco ABC
Além do suporte para o ecossistema Drex, a ABC Smart Chain também tem suporte para redes públicas, como Ethereum e Polygon.
Pedro Begotti, Chefe de Inovação do Banco ABC, conta que a ABC Smart Chain foi desenvolvida com apoio da Microsoft. Junto com Hamsa e LoopiPay, a gigante do ramo de tecnologia integra o consórcio do qual o Banco ABC participa no piloto do Drex.
“A Microsoft não estava no nosso consórcio no início, e chegou até nós com uma proposta focada em privacidade. Como a empresa já está em outros três consórcios, eu disse que não sei se faria sentido para nós sermos mais uma empresa falando de privacidade. Então propusemos algo diferente: falar de inteligência artificial, já que eles são grandes habilitadores de IA, por conta do investimento na OpenAI”, diz Begotti.
Preparação para publicar um contrato inteligente usando ABC Smart Chain. Imagem: Banco ABC
Além disso, utilizando a ABC Smart Chain, o consórcio do qual o Banco ABC faz parte ofereceu três casos de uso ao BC, além dos casos obrigatórios previstos no piloto do Drex.
“O primeiro deles é tokenização de ativos, através do fracionamento de uma operação de crédito e distribuição dessas frações. O segundo deles é um CDB com Drex, e o terceiro é uma operação de crédito simples, mas dando como garantia um título público comprado no Drex que a pessoa tenha na carteira”, elenca Begotti.
Características técnicas
Firmada a parceria, a ABC Smart Chain utilizou a biblioteca base do Codex, modelo de inteligência artificial da OpenAI, e Prestes treinou o modelo para contextos específicos. Alguns dos modelos foram sistemas financeiros, Solidity e regulamentação.
“Esse treinamento foi facilitado por outro produto cognitivo desenvolvido pelo Francisco no nosso laboratório, chamado Hermes, que é focado em aprendizagem de contextos. Ele fez esse produto para que a gente treinasse os contextos específicos do Banco ABC e, agora, extrapolamos para o mundo de ativos digitais”, afirma Begotti.
Os membros da área de inovação do Banco ABC contam que fizeram o caminho inverso do que é comumente feito no mercado. Primeiro, foi usada a Broad Intelligence, modelo mais genérico para orquestrar o projeto e fazer com que as IAs aprendessem outros modelos. E, então, foram realizados testes de mercado com a ABC Smart Chain usando um único modelo, seguindo a linha de Narrow Intelligence.
Todo o processo foi facilitado, explica Begotti, pelo fato de Prestes ser o gestor do time de IA e também do time experimentando casos de uso dentro do ambiente Drex. “Isso facilitou essa junção das potencialidades”, acrescenta.
Além do Drex
Um dos maiores avanços corporativos para os próximos anos, avalia Pedro Begotti, é o aumento na gestão empresarial. Ele acrescenta que isso, basicamente, envolve uma otimização na forma como o banco interage nas rotinas empresariais.
“As empresas já fazem programabilidade o tempo inteiro, mas elas fazem isso trocando arquivo CNAB, programando pagamento por Pix, pagamento por boleto, aí usam arquivos, e esses arquivos vão para os bancos… Enfim, é um emaranhado que a gente já conhece. No futuro próximo, imaginamos que essas negociações possam ser amarradas em contratos inteligentes dentro de seus próprios sistemas”, explica Begotti.
É por esta razão, destaca Begotti, que a ABC Smart Chain tem compatibilidade com redes públicas. Desta forma, os clientes do Banco ABC ficam livres para utilizar outras redes que não sejam o Drex.
“Fizemos em razão da interoperabilidade. Temos clientes usando serviços de compra e venda de ativos digitais, apostando na volatilidade, e eles já usam redes públicas. O Chico [Prestes] pensou nisso na hora de criar o modelo. Esse foi um dos motivos que nos fez escolher a parceria com a LoopiPay, porque eles já fornecem carteiras descentralizadas e acreditam nessa conectividade”, diz o Chefe de Inovação do Banco ABC.
Devolver à comunidade
A solução criada pelo Banco ABC em parceria com a Microsoft será, eventualmente, disponibilizada ao público, confirmam Pedro Begotti e Francisco Prestes. É do interesse de ambas as empresas que a base da ABC Smart Chain seja disponibilizada por meio do marketplace de soluções em nuvem da Microsoft.
“O caminho natural é disponibilizarmos isso dentro da estrutura da Microsoft, e aí qualquer outro banco, ou qualquer outro player interessado, pode consumir”, conta Begotti.
Prestes acrescenta que parte do que foi criado na ABC Smart Chain seguirá apenas com o Banco ABC, por envolver questões de propriedade intelectual. “Mas é realmente um caminho natural para esse produto ser disponibilizado como serviço”, acrescenta o Head do Future Lab.
“E sendo bem sincero, tem que ser, né? Da mesma forma como recebemos inputs gratuitos e compartilhados pela comunidade, boa parte desse movimento de abertura é nossa forma de dar de volta à comunidade, e dentro de um curto espaço de tempo”, afirma Begotti.
De olho em RWA
O mercado de tokenização de ativos reais (RWA, na sigla em inglês) tem crescido rapidamente. Nos Estados Unidos, o setor já acumula US$ 664,8 milhões em títulos públicos tokenizados, com crescimento de 483% em 2023.
No Brasil, apenas em agosto, foram disponibilizados R$ 25 milhões em RWA para investidores do varejo. Os ativos tokenizados envolvem recebíveis, cotas de consórcio e fluxos de pagamento de empresas.
O Banco ABC é uma das instituições brasileiras que está de olho nesse mercado, revela Pedro Begotti. “A escolha dos nossos parceiros não é aleatória. A LoopiPay foi selecionada por conta das suas carteiras descentralizadas e pela visão de entrada de novos usuários no mundo digital. E a segunda escolha que fizemos foi a Hamsa, que é uma empresa focada em RWA”, diz.
Na visão do Banco ABC, Begotti explica que muitos processos envolvendo ativos reais terão a figura do intermediário otimizada. Por isso, a instituição enxerga grande importância na migração de ativos reais para o mundo digital.
“Na parte de garantias, principalmente, RWA faz muito sentido. Carros, terrenos e commodities agrícolas têm movimentado bastante nossos bastidores”, aponta. “Não diria que é nossa prioridade, pois estamos focados no Drex, e também não temos o banco todo olhando para isso ainda. Mas todas as áreas do banco que devem ser acionadas já foram, e estão olhando para essas inovações acontecendo”, conclui.
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