A China continental, uma das jurisdições mais restritivas do mundo em relação às criptomoedas, estaria demonstrando sinais de mudança de tom em relação às stablecoins, diante de novos desdobramentos em Xangai.

A Comissão de Supervisão e Administração de Ativos Estatais de Xangai (SASAC) realizou uma reunião para discutir respostas estratégicas às stablecoins e moedas digitais, informou a Reuters na sexta-feira.

Após a reunião, realizada na quinta-feira, o diretor da SASAC, He Qing, pediu “maior sensibilidade às tecnologias emergentes e intensificação das pesquisas sobre moedas digitais”, em uma publicação na conta oficial do órgão.

A iniciativa teria sido motivada pelo aumento das solicitações de especialistas e grandes empresas chinesas para o desenvolvimento de uma stablecoin atrelada ao yuan chinês.

Banco Central da China avalia uso de stablecoins

O Banco Popular da China (PBOC), banco central do país, tem se posicionado sobre a adoção global das stablecoins, especialmente à luz da política dos EUA de fortalecer o dólar por meio de stablecoins como a USDC (USDC), da Circle.

Em junho, o governador do PBOC, Pan Gongsheng, teria reconhecido o potencial transformador de tecnologias emergentes como as stablecoins nos sistemas globais de pagamento, intensificando os apelos por uma regulamentação que permita stablecoins lastreadas no yuan.

Em 23 de junho, a mídia estatal Securities Times publicou um artigo afirmando que o desenvolvimento de stablecoins “deveria ocorrer mais cedo, e não mais tarde”.

Em seguida, o conselheiro do PBOC, Huang Yiping, sugeriu que Hong Kong poderia ser usada como ambiente de testes para stablecoins lastreadas no yuan, ressaltando que os rígidos controles de capital da China continental tornam esse tipo de experimento improvável.

“Hong Kong tem um mercado offshore para o renminbi e, se esse mercado se desenvolver, será possível criar uma stablecoin atrelada ao RMB offshore em Hong Kong no futuro”, disse Huang.

China está entre os maiores detentores de BTC, apesar da proibição?

Os recentes avanços relacionados a stablecoins em Xangai ocorrem apesar das proibições em vigor no território continental da China sobre negociações com criptomoedas, reforçadas por uma grande repressão em setembro de 2021.

Enquanto alguns membros da comunidade especulam que a China continental possa eventualmente suspender a proibição, outros argumentam que o governo dificilmente irá flexibilizar sua postura e expor seus 1,4 bilhão de cidadãos a um setor considerado de alto risco.

Enquanto isso, diversos relatos sugerem que a China vem acumulando Bitcoin (BTC) de forma discreta, a ponto de se tornar a segunda maior detentora do ativo, atrás apenas dos Estados Unidos. O governo chinês nunca divulgou oficialmente suas reservas de Bitcoin nem estratégias de venda.

Pagamentos da FTX na China alimentam especulações

Além do crescente apoio à adoção de stablecoins, as especulações sobre uma possível guinada da China em direção às criptomoedas aumentaram com a polêmica envolvendo pagamentos locais do espólio da FTX.

No início de julho, os administradores do espólio da FTX solicitaram a um juiz de falências dos EUA que autorizasse a suspensão de pagamentos a credores em “jurisdições estrangeiras potencialmente restritas”, incluindo a China, que representa 82% do valor das reivindicações afetadas.

A medida gerou indignação na comunidade em vários países, com alguns credores chineses ressaltando que a China nunca proibiu a posse de criptomoedas.

Na terça-feira, um credor chinês apresentou uma objeção à moção do espólio da FTX, representando um grupo de pelo menos 300 credores que buscam recuperar fundos da exchange cripto falida.

Segundo documentos judiciais, a decisão sobre a moção é esperada para 22 de julho.