O banco Santander, um dos líderes de financiamento de carros usados no país, deu início à fase de testes de uma plataforma de tokenização de transferências de propriedade de carros usados por meio da tecnologia blockchain, de acordo com informações desta quarta-feira (19) do jornal Valor Econômico. 

Trata-se do desenvolvimento de um contrato inteligente autoexecutável a partir do protocolo DvP (entrega versus pagamento) que, na prática, representa a automatização da transferência do registro de propriedade em nome do comprador, condicionada à efetivação do pagamento e, ao mesmo tempo, a liberação do valor pago ao vendedor quando a tranferência do veículo é efetuada. 

Em fase de testes, o sistema foi desenvolvido em parceria com a provedora de infraestrutura de tokenização Parfin no âmbito do Laboratório de Inovações Financeiras (Lift) do Banco Central (BC), com objetivo de desenvolver um rol de aplicações para o Real Digital, a moeda digital do Banco Central (CBDC), que deverá ser lançada em 2023 ou 2024. 

Na prática, a blockchain reduziria os custos de intermediação de compra e venda, que, de forma geral, atualmente é conferida a agências e instituições financeiras de confiança de ambas as partes envolvidas.

De acordo com a publicação, o Santander já apresentou o resultado das simulações do sistema ao Banco Central e, nos próximos dias, iniciará as negociações reais envolvendo carros e imóveis, cujos registros de posse serão condicionados à mesma lógica dos contratos inteligentes usada para os veículos, ou seja, o condicionamento de transferências e pagamento quando ambas as partes efetivarem seus compromissos contratuais. 

Foi o que explicou o superintendente de open finance do Santander, Jayme Chataque, ao ressaltar o benefício duplo para ambas as partes envolvidas, comprador e vendedor, por meio da transformação de duas transações, compra/venda e registro de propriedade/posse, em uma única transação. 

Chataque disse ainda que o salto tecnológico ainda necessita de adaptações de cunho legislativo visando à regulamentação, já que, atualmente, as transferências de veículo precisam ser homologadas pelo Detrans e, no caso de imóveis, pelos cartórios. 

Segundo o banco, enquanto o Real Digital não entra em circulação, os testes estão sendo realizados com uma stablecoin atrelada no real e com pessoas selecionadas pela instituição e sob o acompanhamento do BC.

Por sua vez, o cofundador e  CTO da Parfin, Alex Buelau, acrescentou que os contratos inteligentes rodarão na rede Ethereum (ETH) e deu a entender que o protocolo também terá um mecanismo de autoridade ao dizer que os contratos inteligentes funcionarão de “forma permissionada.” Segundo ele, a custódia dos tokens será descentralizada, em diversos servidores e geografias, como forma de mitigar os riscos de perda ou roubo. 

No final de setembro, representantes do BC e de instituições de pagamento foram questionados durante um evento em São Paulo em relação a possíveis mecanismos de controle social implantados no Real Digital, ocasião em que eles asseguraram que a CBDC brasileira terá funcionalidades que o Pix não oferece e não será usada para ‘vigiar os brasileiros’.

Já a tokenização de imóveis poderia desatar as amarras deste setor e favorecer a economia do país, na avaliação de Rubens Neistein, gerente de negócios da empresa processadora de pagamentos CoinPayments, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.

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