Dentre as diversas consequências causados pela guerra da Rússia com a Ucrânia, um deles é negligenciado, mas pode impactar a adoção mundial dos criptoativos: o ecossistema de blockchain da Ucrânia.

Recentemente Pavel Kravchenko, PhD em matemática e desenvolvedor em blockchain, publicou uma série de fotografias em seu LinkedIn revelando que os bombardeios russos em Kiev quase atingiram o escritório de sua empresa e que isso poderia ter matado todos os funcionários.

Kravchenko é um dos principais desenvolvedores e pensadores do mercado de criptoativos e seus trabalhos impactaram o amplo mercado de criptomoedas, sendo responsável por diversas inovações em importantes protocolos como a Stellar (XLM).

Tal como Kravchenko outros desenvolvedores em blockchain que ainda residem na Ucrânia relatam situações semelhantes em que mísseis, drones kamikazes e toda uma leva de arsenal bélico quase destruiu seus sonhos de construção de um mundo descentralizado no qual as pessoas possam retomar o controle de suas informações e decisões sobre o rumo das nações em que residem.

Conversando com o Cointelegraph, Andrew Matthews, especialista em cybersegurança, blockchain e early adopter cripto, explica que boa parte da infraestrutura de conhecimento sobre blockchain está atualmente na Ucrânia, tanto por meio de pessoas como armazenado em dispositivos espalhados pelo país.

"Há um conhecimento empírico e cientifico muito grande sobre blockchain na Ucrânia e este conhecimento pode ser destruído em segundos por meio desta insanidade que está sendo executada pela Rússia. Há na Ucrânia desenvolvedores que ajudaram a moldar a indústria cripto como conhecemos hoje, entre outros que estão construindo agora a base da adoção e integração das criptomoedas com o sistema financeiro tradicional", disse.

De acordo com Matthews, que atuou na cena de blockchain na Ucrânia, o país tem uma história educacional ligada à matemática, tecnologia e ciências exatas e abriga uma grande gama de desenvolvedores fundamentais na história da criptoeconomia.

Portanto, ele alertar que a comunidade de criptomoedas de todo o mundo precisa olha o conflito não como algo 'externo' a si, mas como algo que atinge ele próprio, pois, segundo ele, perder estas 'mentes' que estão na Ucrânia irá atrasar a adoção e integração dos criptoativos no cotidiano.

"Ajudar nossos irmãos na Ucrânia é ajudar a nós mesmos. É o próprio espirito fundador das tecnologias descentralizadas: todos unidos em uma grande rede. E esta rede está em perigo agora", afirmou.

Você usa um app ucraniano e nem sabe

A guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia trouxe para o centro de atenção global um país que pode não ser muito conhecido dos brasileiros e que, além da Rússia, faz divisa com Polônia, Bielorussia, Moldávia e Romênia.

Porém, embora para muitos brasileiros a Ucrânia não fosse um dos países mais conhecidos e tampouco um dos roteiros em seus planos de viagens como aponta Matthews, os ucranianos ajudaram a moldar a sociedade atual e construíram criptomoedas e alguns dos aplicativos mais famosos do mundo e que moldaram a relação do ser humano com o digital.

Embora a Ucrânia seja conhecida como um dos maiores e mais importantes produtores de grãos da Europa, sendo até mesmo chamada de "celeiro europeu" o país também é lar de geeks e de muitos desenvolvedores, como Jan Koum, criador do WhatsApp, agora de propriedade da Meta (Facebook).

Outro ucrâniano que ajudou a mudar o mundo foi Max Levchin, co-fundador do Paypal. Já Vlad Yatsenko que também nasceu na Ucrânia, mas agora é cidadão britânico, fundou a Revolut uma das maiores fintechs do mundo que funciona como uma alternativa bancária digital que inclui um cartão de débito pré-pago (MasterCard ou VISA), e as criptomoedas Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH), Litecoin (LTC), Bitcoin Cash (BCH) e Ripple (XRP).

Já o ucraniano Anatoly Yakovenko também está ajudando a mudar o mundo com sua criação, a blockchain Solana (SOL). Outro ucraniano que vem mudando a relação entre o mundo físico e o digital é Illia Polosukhin, cofundador do NEAR Protocol.

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