Uma reportagem - mais do que excelente-  escrita por Allan de Abreu, para a revista Piauí, revelou como criptomoedas podem também ser usadas para atividades ilícitas como lavagem de dinheiro.

O esquema revelado pelo jornalista, retrata como o chinês Jiamin Zhang realizava operações de câmbio para outros chineses da 25 de março e também para narcotraficantes do PCC.

Zhang e sua família foram alvos de uma operação da Polícia Federal em 2018 que desmantelou o esquema de remessas financeiras operado pelo chinês.

Segundo a reportagem, Zhang usava diversas estratégias em seu esquema de câmbio que atendia a seus conterrâneos no Brasil. Entre as estratégias, o uso de dólar-cabo, empresas de fachada e criptomoedas.

O esquema era simples e nele, Zhang recebia os reais dos comerciantes no Brasil que precisavam pagar por mercadorias na China e, na outra ponta, na Europa, recebia dos compradores de cocaína e outras drogas dos traficantes no Brasil.

Então, o dinheiro que recebia dos traficantes na Europa era enviado para China para pagar os fornecedores dos chineses no Brasil e o dinheiro dos chineses recebido no Brasil era destinado para pagar os traficantes do país pela droga enviada a Europa.

Criptomoedas

"Um dos principais clientes de Zhang era o narcotraficante gaúcho Marino Brum. Com o auxílio de um delegado aposentado da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Brum trazia cocaína em pequenos aviões da Bolívia e do Paraguai até duas fazendas no interior gaúcho. De lá, as remessas, que variavam entre 800 kg e 1 tonelada, seguiam em caminhões até portos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, rumo à Europa, onde eram adquiridas por grupos sérvios. Brum seria preso por acaso em Tramandaí, litoral gaúcho, em agosto de 2017", revela a reportagem.

Neste esquema, segundo a reportagem, Bitcoins e criptomoedas eram usadas para lavar parte do dinheiro por meio de empresas fantasmas como a Global, WFQ e SJ Intermediação de Negócios.

Juntas, segundo a reportagem, as empresas teriam movimentado R$ 111,4 milhões de reais em criptoativos comprados na Bitseller Serviços Digitais.

“Eles terão de esclarecer essas transações com essas firmas do empresário chinês”, diz Latance Neto, que chegou a fazer um pequeno investimento em bitcoins, a fim de entender melhor como funciona esse mercado", disse o delegado da Polícia Federal, Valdemar Latance Neto.

Segundo Neto, a suspeita é de que a criptomoeda servia tanto para esconder dinheiro de origem ilícita como para movimentá-lo pelo mundo, em transações que estão sendo apelidadas de bitcoin-cabo.

Assim, no Brasil, o doleiro deposita determinada quantia em reais na conta de uma corretora, que converte o valor em bitcoin que é transferido para outra exchange no exterior onde é convertido em fiat e depositado na conta bancária. 

“O dinheiro é transferido sem o controle do Banco Central, muito menos o pagamento de impostos. Trata-se de um caso claro de lavagem de dinheiro e evasão de divisas”, diz o procurador Leandro Bastos Nunes, do Ministério Público Federal, especialista na investigação de transações com criptoativos.

Todos os envolvidos respondem pelos supostos crimes em liberdade e, no caso da Bitseller,  R$ 111 milhões de reais foram bloqueados.

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