Em agosto do ano passado, as operações brasileiras do banco britânico Travelex Bank fecharam uma parceria relacionada a soluções de liquidações internacionais por meio da tecnologia blockchain, no caso a solução On-Demand Liquidity, da startup estadunidense Ripple, que utiliza como ponte a altcoin XRP em contraponto ao sistema de pagamentos transfronteiriços Swift.
O Travelex Bank e a Ripple são apenas alguns exemplos que se multiplicam mundo afora na busca pelas soluções em blockchain nos pagamentos empresariais, business-to-business (B2B), o que se relaciona à agilidade e barateamento frente ao Swift, em linhas gerais. Por outro lado, a adoção da blockchain em escala mundial, no comércio exterior, pode encontrar barreiras regulatórias que tendem a retardar a adoção internacional da tecnologia disruptiva, segundo avaliação de alguns especialistas.
Ao Valor, o consultor e ex-secretário de comércio exterior Welber Barral ressaltou que o Swift realiza a intermediação por meio de várias etapas, entre elas a abertura de carta de crédito e a comunicação dela entre os bancos do importador e do exportador, além da efetivação do envio da mercadoria, tramitação que demora entre dois a três dias.
Além do Swift, as exportações e importações perdem um tempo excessivo com os trâmites aduaneiros. Embaraços que podem ser superados pela adoção da blockchain, na avaliação de David Cortada, vice-presidente da empresa de consultoria e serviços de tecnologia e transformação digital Capgemini.
As transações instantâneas entre carteiras digitais em pagamentos transfronteiriços despertou interesse do Itaú Digital Assets, proponente de um teste no Lift (Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas) Challenge, ambiente colaborativo realizado pela Federação Nacional de Associações dos Servidores do Banco Central (Fenasbac), em parceria com o Banco Central. O que seria uma negociação hipotética envolvendo Brasil e Colômbia. Mas, para o head do Itaú Assets, Guto Antunes, ainda há muito a ser alinhado em temps de legado de tesouraria entre os bancos.
Nessa seara, o entrave à blockchain não se encontra na tecnologia, mas fora dela, no ambiente regulatório dos países, barreira que é mais difícil vencer na medida em que os países possuem regras diferentes que fazem do uso das criptomoedas em pagamentos transfronteiriços algo ainda distante, na avaliação da do head de tesouraria do Citi, Fernando Granziera.
Outro desafio à utilização de criptomoedas no comércio exterior é a falta de garantia por parte de uma instituição ancorando o criptoativo utilizado. O que é realizado pelos bancos, por meio de depósitos compulsórios e índices de Basileia necessários ao respaldo, na avaliação do diretor da CSU Digital, Pedro Alvarenga.
Barral também ressaltou que o Swift é conectado a sistemas legados de todo o mundo, o que pode ser uma barreira a outras iniciativas de melhoramento da infraestrutura de pagamentos, desafio adicional enfrentado pela blockchain, já que alguns países adotaram as criptomoedas enquanto outros proibiram a circulação.
No Brasil, a adoção da blockchain no comércio exterior não é um esforço recente. No começo de 2021, por exemplo, o governo federal anunciou o uso da tecnologia dentro do Portal Único de Comércio Exterior, o Portal Siscomex, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.