A expectativa pelo desenvolvimento do real digital, a moeda digital de banco central do Brasil, já é uma realidade no país, especialmente depois do Banco Central divulgar as diretrizes oficiais do projeto na semana passada.

Nesta semana, o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e ex-diretor do Banco Central, da Petrobras e do BNDES, Carlos Thadeu de Freita Gomes, escreveu um artigo para o site Poder360 analisando o projeto de digitalização da moeda brasileira.

Carlos Thadeu comenta no texto as diretrizes da CBDC brasileira divulgadas pelo BaCen na última semana:

"O BC apresentou na semana passada as diretrizes para o desenvolvimento do real digital. Uma delas é a total aderência aos princípios e regras de privacidade e segurança, especialmente os determinados na LC (Lei Complementar) 105/2001, que garante o sigilo bancário. Outra é a interoperabilidade e integração para permitir pagamentos transfronteiriços, que deve potencializar o comércio exterior com parceiros comerciais próximos ao Brasil."

Ele ressalta que o BC espera que o varejo adote amplamente o real digital, até mesmo entre os brasileiros não bancarizados. Para o economista, Pix e Open Banking, novidades do BC baseadas em tecnologias disruptivas, serão integrados ao real digital, mas a versão física da moeda não deve acabar:

"O real digital será integrado às inovações tecnológicas já em andamento, como o Pix e o Open Banking, que vêm se tornando cada vez mais importantes no sistema financeiro. O real em espécie não deixará de existir, podendo o consumidor escolher como deseja manter seu dinheiro. Essa nova possibilidade abrirá, porém, concorrência entre as duas formas de moeda, gerando um risco para os bancos comerciais, que operam os depósitos à vista e o crédito. Isso porque eles utilizam os recursos dos depósitos em suas negociações e, assim, movimentam o sistema financeiro."

Ele destaca, porém, que os pequenos comerciantes podem demorar para adotar a versão digital do real:

"Nossa visão é a de que o pequeno comércio deve demorar para se adaptar a essa novidade, pois as vendas realizadas em dinheiro vivo ainda são uma realidade no país, mesmo o varejista incorrendo no custo de carregamento do estoque de moeda. Muitos estabelecimentos de pequeno porte não operacionalizam a folha de pagamentos via banco, por exemplo, pagando os salários dos funcionários em espécie. Essa prática, ainda comum, estimula o uso da moeda física."

Ele também destaca que o Banco Central busca prevenir a lavagem de dinheiro e as remessas ilegais com a digitalização da moeda nacional. A digitalização vai possibilitar o rastreio de operações ilícitas, já que o BC atuará como intermediário entre as transações. E conclui dizendo que o maior desafio da autoridade financeira será o de informar e ganhar credibilidade entre a população:

"Mas como as mudanças na jornada da transformação digital no sistema financeiro estão ocorrendo em alta velocidade, é normal que haja alguma reticencia na aceitação dos consumidores em geral. Como difundir a informação no país segue sendo um dos principais desafios do Banco Central."

Como noticiou o Cointelegraph Brasil, o real digital é mais um dos projetos em andamento no mundo para a digitalização de moedas fiduciárias. Segundo uma pesquisa recente da startup blockchain Bison Trails, 80% dos bancos centrais do mundo já trabalham em projetos para o desenvolvimento de CBDCs.

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