O auge do mercado de NFTs ficou para trás há alguns meses e desde maio o setor de tokens não fungíveis tem sido severamente afetado pelo esfriamento do interesse dos investidores nos colecionáveis digitais.

Enquanto o volume de negociação do OpenSea, marketplace líder do setor, atinge mínimas que não eram vistas desde julho do ano passado, portanto antes da explosão do hype dos NFTs, os preços-base de itens das principais coleções do mercado encontram-se entre 75% e 91% abaixo de suas máximas históricas.

Apesar dos números desanimadores, há um setor específico deste mercado que tem razões para comemorar: grandes marcas que investiram em NFTs desde o ano passado estão começando a registrar um incremento em suas receitas a partir da comercialização de tokens não fungíveis.

Nike, Dolce & Gabbana, Tiffany & Co, Gucci e Adidas lideram uma lista de 13 empresas que foram pioneiras na exploração de um mercado ainda nascente e que, a despeito da crise, ainda tem muito espaço para crescer com o desenvolvimento do metaverso e a incorporação de benefícios e contrapartidas no mundo real.

De acordo com dados divulgados pela Dune Analytics, que compreendem as receitas de vendas primárias, transações secundárias e royalties associados à comercialização de NFTs de algumas das marcas pioneiras neste novo segmento do marketing digital, a Nike foi a empresa que melhor soube explorar os recursos tecnológicos e financeiros dos tokens não fungíveis.

A Nike gerou um total de US$ 185,31 milhões em receita com as coleções de NFTs da RTFKT, uma startup especializada em desenvolver e produzir projetos digitais que a empresa de material esportivo adquiriu em dezembro de 2021.

Noah Levine, que compilou e disponibilizou os dados, observa que a receita da Nike inclui as vendas e os royalties de pré-aquisição da coleção CloneX da RTFKT para "refletir com mais precisão o desempenho geral.” A referida coleção foi justamente a de maior sucesso comercial da marca até hoje.

A coleção individual da Nike/RTFKT que gerou a maior receita até hoje foi justamente a CloneX. Foram 21,6 mil transações, que movimentaram ao todo US$ 779 milhões, gerando um total de US$ 38,95 milhões em royalties à empresa, considerando-se a taxa de 5% aplicada sobre vendas subsequentes.

Em segundo lugar no ranking, está a Dolce & Gabbana, marca de alta costura que ganhou destaque – e estabeleceu recordes – em outubro de 2021 com o lançamento da Collezione Genesi, uma coleção de nove NFTs com peças de roupas físicas e digitais que renderam US$ 5,7 milhões.

Collezione Genesi NFT Dress from a Dream: Silver. Fonte: unxd.com

Desde então, a marca italiana de moda expandiu suas ofertas de NFT, somando uma receita total de US$ 25,65 milhões. Sendo US$ 23,14 milhões provenientes de receita de vendas primárias e US$ 2,52 milhões em royalties.

A Tiffany & Co. veio logo a seguir, com US$ 12,62 milhões em receitas de vendas primárias obtidas a partir da comercialização de 250 pingentes que reproduzem colecionáveis da CryptoPunks, a mais icônica coleção de NFTs do mercado cripto. 

A venda dos pingentes no mercado secundário não geram royalties a Tiffany & Co. No entanto, estas transações já movimentaram US$ 3,4 milhões desde o lançamento dos pingentes no início deste mês.

A segunda marca de alto luxo presente na lista é a Gucci, que ocupa o quarto lugar do ranking com uma receita total de US$ 11,56 milhões. Logo depois vem a Adidas, cujos US$ 10,95 milhões em receitas foram gerados majoritariamente pelo projeto “Into the Metaverse”, no qual a gigante de material esportivo se associou com Bored Ape Yacht Club (BAYC), gmoney e PUNKS para lançar NFTs exclusivos.

A cervejaria Budweiser ficou (US$ 5,88 milhões), a editora da revista Time Magazine (US$ 4,60 milhões), a Bud Light em 8º (US$ 4 milhões), o tradicional torneio do circuito mundial de tênis Australian Open (US$ 1,7 milhão) e a grife Lacoste (US$ 1,11 milhão) completam o top 10. O canal infantil Nickelodeon, a equipe de Fórmula 1 McLaren e a Pepsi fecham a lista de 13 empresas.

Apostando no futuro

As receitas geradas pelas coleções de NFTs ainda são pouco significativas quando comparadas ao faturamento destas grandes marcas. Líder do ranking, a Nike, por exemplo, faturou US$ 44,5 bilhões com as vendas de produtos em 2021. A receita gerada pelos NFTs é apenas uma pequena fração desse montante total. 

O foco destas empresas pioneiras está na construção de uma comunidade própria em ambientes digitais. Por enquanto, as receitas geradas ainda são um fator secundário. Afinal, os US$ 11,56 milhões em receitas relacionadas a NFTs que a Gucci acumulou até hoje não representam muito pouco em comparação com os US$ 11,07 bilhões em receita total que a marca gerou em 2021, em grande parte impulsionada por suas peças de alta costura e artigos de couro.

Ainda assim, justamente por se tratarem de experiências embrionárias, os ganhos de imagem que essas empresas estão obtendo no espaço da Web3 não são desprezíveis: elas serão lembradas como as primeiras marcas a explorarem com sucesso os recursos tecnológicos dos NFTs e do metaverso, não importa se por meio coleções de alto valor de mercado ou de NFTs de mintagem gratuita.

“Eu diria que a [receita] não é a métrica mais importante” para estas marcas pioneiras no espaço de NFTs, afirmou o estrategista de marketing digital Samuel van Deth ao comentar os números apresentados pela Dune Analytics em uma postagem no Twitter.

Visão geral super interessante das marcas e suas receitas geradas por NFTs!

(por@nlevine19)

Você pode argumentar que o impacto ainda é limitado para a maioria dessas grandes marcas (e elas estão realmente comprometendo partes das receitas com causas sem fins lucrativos de qualquer maneira). Mas eu diria que esta não é a métrica mais importante.

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O impacto no reconhecimento geral da marca, engajamento, fidelidade e receita vitalícia do cliente são provavelmente as principais razões pelas quais as marcas estão investindo aqui.

— SamuelvanD.eth (@samuelvandeth)

Tanto a Nike quanto a Gucci também estão oferecendo aos seus clientes experiências imersivas no metaverso. O CEO da Nike, John, revelou em março que “um total de 6,7 milhões de jogadores de 224 países visitaram a NIKELAND”, uma experiência que a Nike inaugurou na plataforma Roblox em novembro do ano passado. Desde então, o número de visitas à NIKELAND ultrapassou 19,9 milhões, segundo dados disponibilizados pela plataforma.

Ao mesmo tempo, a Gucci também teve uma experiência bem sucedida com o lançamento do “Gucci Garden” no Roblox. Mais de 20 milhões de usuários da plataforma participaram do evento virtual de duas semanas que ocorreu no ano passado.

O evento também se mostrou um sucesso para exploração do potencial de revenda de bens virtuais no mercado secundário, já que uma das réplicas virtuais da bolsa Gucci Dionysus foi negociada por aproximadamente US$ 4.115, valor mais alto do que o preço de varejo de US$ 3.400 da versão física da bolsa.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, apesar da severa retração do mercado, as principais coleções de NFTs do mercado ainda seguem movimentando quantias milionárias. Na semana passada, o BAYC #5383 foi vendido por US$ 1,46 milhão.

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