O aspecto mais revolucionário da tecnologia dos tokens não fungíveis - a certificação de propriedade de peças e ativos digitais na blockchain - também inaugurou uma nova modalidade de crime cibernéticos. Ladrões estão vasculhando a internet em busca de obras de arte digital que circulam livremente na rede para tokenizá-las e vendê-las como NFTs em marketplaces como o OpenSea.

Sem ir muito a fundo nos aspectos técnicos da tecnologia dos NFTs, quando alguém compra um token não fungível basicamente está comprando um ativo digital que lhe concede direitos sobre o que aquele token representa.

Muitas vezes, um NFT é apenas um link para o site que hospeda a imagem a que o token está vinculado. Pode ser o personagem de um game, como os famosos Axies, colecionáveis, como os Crypto Punks, itens físicos ou obras de arte digital.

Estas últimas têm sido o alvo preferencial dos cibercriminosos. Pepetrar esses crimes não exige planos engenhosos e os riscos legais até agora têm sido pequenos. Qualquer um pode se apropriar de uma criação alheia e criar um NFT independentemente de ter sido o criador do conteúdo ou de possuir os direitos autorias sobre a criação.

Assim, milhares de artistas digitais, especialmente aqueles cujas criações são anteriores ao surgimento e à popularização da tecnologia, têm sido vítimas de roubos diariamente. De acordo com o blog da DeviantArt, uma galeria que criou um sistema de identificação de direitos sobre obras de arte digitais, sua ferramenta de detecção de NFTs mintados indevidamente catalogou mais de 11.000 peças roubadas sendo comercializadas no OpenSea apenas entre julho e setembro deste ano.

RJ Palmer é um designer de games que desenvolveu uma carreira paralela como artista digital e tem diversas obras expostas em galerias de arte on-line, além de vendê-las também em formato impresso sobre mídias variadas.

Em reportagem da revista digital Mel Magazine, ele conta que certo dia recebeu de uma vez só uma enxurrada de notificações da DeviantArt reportando obras de sua autoria que estavam sendo comercializadas no OpenSea:

 “Praticamente todo o meu trabalho foi roubado, desde as primeiras peças que fiz em 2008. Alguém foi ao DeviantArt, pegou esses trabalhos, mintou-os como NFTs e criou uma conta no OpenSea para negociá-los.”

Palmer disse que é comum que trabalhos expostos na internet sejam copiados e reproduzidos em lugares jamais imaginados pelos criadores, mas a tecnologia por trás dos NFTs tornou possível e fácil roubá-los e explorá-los comercialmente.

Esses são todos os meus trabalhos que foram roubados e mintados como NFTs apenas hoje. A proteção do DeviantArt NFT é ótima, mas cara, isso é péssimo saber.

— RJ Palmer (@arvalis)

Nem sempre é simples remover obras de arte de marletplaces de NFTs. Em geral, as plataformas não possuem sistemas de verificação de autenticidade ou prevenção de fraudes e não assumem a responsabilidade por atos criminosos de terceiros.

Palmer contou à reportagem que o botão "Report" não tem efetividade. Foi preciso entrar em contato com a plataforma por e-mail para notificá-los e esperar que fossem tomadas as devidas providências.

No entanto, isso não impediu que outras obras de sua autoria tivessem o mesmo destino. "As pessoas podem roubar a mesma imagem que você já conseguiu excluir da plataforma. Não há salvaguardas para impedir isso", disse o artista.

Mas nem todos artistas relatam ter tido seus pedidos atendidos pelo OpenSea. A artista Brittany Fanning relatou no Reddit que fez vários pedidos para que a plataforma removesse obras de arte de sua autoria que estavam sendo comercializadas no marketplace, mas todos foram ignorados. Somente depois que ela descobriu o contato do ladrão e conseguiu enviar uma mensagem diretamente para ele a postagem foi retirada.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, a Adobe criou uma ferramenta para comprovação de autoria de obras digitais no Photoshop e em outros aplicativos da empresa. Através dela, os criadores de NFTs poderão vincular seu ID Adobe com sua carteira digital, habilitando um recurso para que marketplaces associados apresentem uma espécie de certificado de verificação da obra, provando que se trata de uma produção autêntica e original.

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