No início de março, o Silicon Valley Bank (SVB) passou por apuros relacionados à sua liquidez que levantaram suspeitas de um risco estrutural em todo o sistema bancário dos Estados Unidos

Embora a situação tenha se estabilizado e um risco sistêmico esteja fora de cogitação por enquanto, André Franco, Head de Research do Mercado Bitcoin, afirma que um estresse pontual pode sacudir novamente o mercado. Nesse caso, o Bitcoin (BTC) pode retomar um movimento de valorização.

Situação controlada, com um porém

Na quarta-feira (19), o BTC iniciou um movimento de queda que o levou até a cotação atual em US$ 27.299,44. A queda é de quase 10% em 48 horas. Um abalo no sistema bancário estadunidense, no entanto, pode fazer com que a maior criptomoeda em valor de mercado volte a valorizar expressivamente, avalia Franco.

“Pelo que temos medido, parece que não [há risco sistêmico]. Mas o que sabemos do mercado estadunidense, principalmente do setor bancário, é que não é preciso um estresse continuado para dar uma sacudida. Um estresse pontual pode sacudir novamente o mercado”, diz. Ele acrescenta que, além dos bancos, outras instituições relacionadas podem ser impactadas.

Apesar de um novo estresse, que pode ser caracterizado pela quebra de outro banco, ter a capacidade de abalar novamente a economia estadunidense, Franco salienta que  a situação “parece controlada”.

Caso de valorização para o Bitcoin

Analistas do JPMorgan avaliaram, em 16 de março, que a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) pode injetar de US$ 460 bilhões até US$ 2 trilhões para ajudar o sistema bancário do país. A análise foi publicada pela Bloomberg, também em 16 de março. 

Para realizar um resgate na casa dos trilhões, uma nova impressão de dólares seria necessária, afirma André Franco. Nesse caso, o Bitcoin poderia passar por uma nova valorização. 

“Quando olhamos o ciclo no qual o mercado cripto floresceu, foi o ciclo onde houve um aumento na base monetária americana. Ou seja: impressão de dólares. Durante a pandemia de coronavírus, a impressão de dólares impactou positivamente o mercado cripto. Então, olhando essa conta, devemos ter ativos de risco que se favoreceriam dessa impressão de dinheiro, e o Bitcoin e demais criptoativos seriam alguns desses ativos.”

O caso SVB

A crise de liquidez do Silicon Valley Bank ocorreu devido ao aumento na taxa básica de juros dos Estados Unidos. Em 2021, ainda dentro da pandemia do coronavírus, depósitos volumosos foram feitos no SVB, principalmente vindos de startups. O intuito era fazer com que o dinheiro rendesse através de investimentos em renda passiva, com um zelo maior por segurança do que por altos rendimentos.

A forma encontrada pelo SVB para pagar os rendimentos de seus clientes, e ainda lucrar no processo, foi investir em títulos da dívida pública com longo vencimento. O lado negativo destes instrumentos financeiros é o vasto período sem liquidez. Por isso, é normal que eles sejam vendidos com um pequeno desconto no mercado secundário em caso de emergência.

O aumento na taxa básica de juros, praticado pelo Fed em 2022, teve duas consequências que levaram ao colapso do SVB. Primeiro, seus clientes com depósitos volumosos avaliaram ser mais vantajoso retirar o dinheiro do banco e alocar em títulos da dívida pública, tornando-se credores da maior economia do mundo. Isso gerou um fluxo de saques de alto valor.

Para honrar com os saques, o SVB teve que vender seus títulos com desconto no mercado secundário. Esse desconto, no entanto, precisou ser significativamente maior do que aquele comumente praticado, para tornar os títulos atrativos aos olhos de investidores que estavam alocando capital nos títulos públicos do Tesouro estadunidense. Foi esse desconto que gerou uma grande diferença no valor esperado com a venda dos títulos e o que foi, de fato, arrecadado.

Assim como o Silicon Valley Bank, outros bancos dos Estados Unidos também alocaram um montante significativo de capital em títulos com vencimento no longo prazo. É esse contexto que analistas, como os do JPMorgan, têm levado em consideração ao falar de resgate aos bancos por parte do Fed.

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