A gigante dos quadrinhos Marvel entrou em guerra contra artistas que trabalharam na editora e usam seus trabalhos em tokens não fungíveis em plataformas blockchain.
O caso ganhou as manchetes na última semana, em caso envolvendo o artista brasileiro Mike Deodato, uma das referências mundiais nos quadrinhos e contratado da editora por mais de 20 anos.
Deodato, que chegou a figurar como segundo artista mais vendido do mercado de NFTs Rarible, havia vendido uma obra de sua autoria com o personagem Homem-Aranha, tendo recebido o pagamento em ETH pela arte digital.
O artista, porém, foi surpreendido quando a Marvel notificou o Rarible sobre seus direitos sobre o personagem, levando o marketplace a suspender a obra, prejudicando tanto o artista quanto o comprador.
Em entrevista ao canal do YouTube do Cointelegraph Brasil, Deodato conta que por décadas os artistas contratados por editoras de quadrinhos tiveram que se contentar com o contrato firmado pelas editoras, sem poder vender seus originais no mercado.
Por outro lado, com o mercado de NFTs, os artistas encontraram uma oportunidade de vender seus trabalhos autorais em forma digital, ganhando por isso.
"Quando eu vi os NFTs eu pensei: É a solução perfeita. Ele dá um certificado de autenticidade e aquilo é único, é como vender um original de arte. Mas não é o que as editoras pensam, a Marvel e a DC. Isso vinha passando despercebido pelas empresas, até que o José Delbó, um quadrinista argentino, vendeu uma obra por US$ 1 milhão ou algo do tipo. Isso chamou atenção deles e eles se movimentaram, mandaram cartas pros artistas proibindo a venda. De um jeito gentil, mas dizendo que se publicasse eles viriam atrás da gente"
Ele conta que quando começou a vender seus trabalhos digitais, a Rarible entrou em contato dizendo que sofria pressões das editoras para não listar obras de arte ligadas aos seus personagens.
"Por conta disso, uma peça que eu já havia vendido foi retirada do site. O comprador então veio atrás de mim e eu pedi que ele se acalmasse, que eu vou conversar com eles e em último caso vou devolver o dinheiro. Eu fiquei me sentindo um criminoso vendendo uma obra de arte original, minha. Eu passei 25 anos trabalhando para a Marvel e agora não posso vender uma arte original agora? Isso não é jeito de tratar nenhum dos criadores"
Ele então lançou um manifesto rechaçando a ação das editoras contra artistas e conseguiu mobilizar Neil Adams, que há décadas luta pelos direitos sobre as obras dos quadrinistas no mundo e teve conquistas como os direitos sobre os originais para os artistas, por exemplo. Adams, conta Deodato, agora conversa com as editoras e associações de proteção dos direitos de quadrinistas para tentar chegar a um meio termo e permitir que artistas possam vender suas obras ligadas a personagens dos quadrinhos usando plataformas de NFT.
"O NFT é um negócio muito novo, mas pelo meu entendimento o que é justo no mercado físico deveria valer para o digital. A curto prazo eu espero que eles parem com esse assédio com os criadores, espero que as conversas com as editoras cheguem a algum acordo. Acho que as editoras estão fazendo um marketing terrível para eles mesmos. Espero que nesse ano ainda cheguemos em um acordo neste sentido, e se eles quiserem uma porcentagem ou algo do tipo, embora eu ache que eles não mereçam, a gente também está disposto a oferecer para encerrar esta história"
Apesar de vender suas obras em NFT no Rarible, Mike Deodato explica que não possui outras criptomoedas além das adquiridas em vendas de NFTs, no caso o Ether, que é a moeda das plataformas deste mercado. Ele ressalta que prefere "dinheiro na mão" e vai deixar as moedas na carteira digital até converter se precisar do dinheiro.
Assista à entrevista completa:
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