Durante uma coletiva com a imprensa no Blockchain Rio, Michael Louzado, vice-presidente executivo de Estratégia e M&A da Ledger, afirmou que agora é possível comprar Bitcoin e outras criptomoedas diretamente com Pix e armazenando ela automaticamente na Ledger Live.

Segundo ele, a funcionalidade reforça a aposta da empresa no mercado brasileiro, considerado um dos mais promissores do mundo para a adoção de self-custody — modelo em que o próprio usuário mantém o controle total sobre seus ativos digitais.

O executivo destacou que a integração com o Pix foi feita por meio de parceiros regulados, com o objetivo de tornar a experiência mais fluida, rápida e acessível para os brasileiros.

“Queremos reduzir a fricção e tornar o uso das criptos o mais natural possível para o usuário local”, afirmou.

Brasil lidera adoção e cultura de independência financeira

Durante a entrevista, Michael Louzado foi enfático ao afirmar que o Brasil é hoje um dos mercados mais estratégicos para a Ledger. O executivo destacou a cultura local como um diferencial.

“Já ouvimos que muitos brasileiros têm o hábito de guardar dinheiro de formas alternativas. Essa mentalidade se encaixa perfeitamente com a proposta da self-custody, que oferece liberdade, controle e privacidade”.

Ele destacou que a Ledger opera com o conceito de que ninguém deveria depender de terceiros para guardar seu patrimônio. Com a crescente adoção de criptoativos no país, a empresa vê uma janela de oportunidade para consolidar sua posição como a principal plataforma de segurança digital no país.

Além disso, a integração com Pix é apenas uma parte da estratégia da empresa. A Ledger também já lançou um cartão de débito em parceria com a Mastercard na Europa e nos EUA, e planeja expandir o serviço para o Brasil assim que encontrar um parceiro com licença para operar no país.

Sobre regulação, o executivo destacou que a Ledger monitora de perto as movimentações do Banco Central e da CVM. Apesar de não assumir uma posição política, a empresa afirma estar pronta para colaborar com o avanço do mercado.

Lado também acredita que, nos próximos cinco anos, o uso de criptomoedas será cada vez mais invisível na superfície e integrado à infraestrutura do sistema financeiro. A Ledger aposta em tecnologias modulares, interoperáveis e seguras — com potencial para substituir os modelos bancários tradicionais.

A empresa também estuda como pode contribuir com identidades descentralizadas (DIDs), inteligência artificial e até integrações com CBDCs, como o Drex, projeto brasileiro em fase piloto.

“Se o sistema financeiro for todo para o on-chain, a segurança das redes públicas será ainda mais importante. E é aí que a Ledger se torna indispensável”, concluiu.

Confira a entrevista completa

Brasil

O Brasil é um mercado prioritário para a Ledger?

Michael Louzado (ML): Sim, o Brasil é, sem dúvida, um dos mercados mais promissores para nós. Existem alguns lugares no mundo onde enxergamos uma grande oportunidade de expandir o conceito de self-custody no universo cripto.

O mercado vai crescer naturalmente, e à medida que isso acontece, mais pessoas buscarão formas diferentes de armazenar seus ativos. A self-custody é a forma mais pura de se fazer cripto, e em alguns mercados, ela tem uma aceitação natural. O Brasil é um desses lugares.

Por que a self-custody é tão importante nesse contexto?

ML: Porque ela oferece liberdade, controle e privacidade para que as pessoas façam o que quiserem com seus próprios ativos.

Já ouvimos que muitos brasileiros têm o hábito de guardar dinheiro de forma descentralizada, fora do sistema bancário tradicional. Isso mostra que existe uma cultura de independência financeira que combina perfeitamente com a proposta da self-custody.

Como a Ledger enxerga o ambiente regulatório no Brasil?

ML: Percebemos que existe um movimento importante. O Banco Central e outros reguladores têm acompanhado de perto o comportamento do mercado, incluindo questões como a compra de criptomoedas, movimentação em corretoras e envio para fora do país.

A regulação está evoluindo em ritmos diferentes no mundo. Alguns países são mais abertos, outros estão apenas começando. Mas acredito que, com o tempo, haverá um ponto de equilíbrio global — porque o cripto é, por definição, um sistema sem fronteiras.

A Ledger monitora de perto essas mudanças regulatórias?

ML: Sim, temos uma equipe dedicada a acompanhar a evolução das normas no Brasil e em outros mercados.

Defendemos a liberdade financeira e o direito de cada um gerenciar seus ativos. Mas não nos posicionamos politicamente. Nosso foco é fornecer tecnologia segura e acessível.

Cartão de crédito ‘conectado’ a Ledger

Como funcionaria um cartão da Ledger? Ele já existe?

ML: Já lançamos uma solução em parceria com a Mastercard, por meio do banco europeu Baanx.

O cartão não está disponível no Brasil ainda, pois o parceiro não tem licença para operar aqui. Mas está disponível em toda a Europa e nos EUA. Queremos expandir.

O cartão pode operar de três formas:

  1. Conversão instantânea no ponto de venda;

  2. Débito pré-carregado com cripto;

  3. Cartão com colateral em Bitcoin, funcionando como crédito.

Como a Ledger garante a segurança do wallet?

ML: O dispositivo tem três camadas principais:

  1. Secure Element, o mesmo chip usado em cartões de crédito;

  2. Sistema operacional próprio, que isola cada transação;

  3. Interface touchscreen, para confirmar ações com segurança.A chave privada é gerada e armazenada dentro do chip, e nunca sai de lá. Essa é a base da nossa segurança ponta a ponta.

O que é o Ledger Live e como ele se conecta à segurança?

ML: O Ledger Live é nosso aplicativo. Ele se conecta ao hardware wallet e permite comprar, vender, fazer staking e interagir com parceiros validados pela Ledger.

Todos os parceiros são auditados por nós. E todas as transações passam por filtros de segurança. Ou seja, protegemos tanto os ativos parados quanto os ativos em movimento.

Você pode usar a Ledger como camada de segurança em carteiras como essas.
Sua chave privada continua protegida no dispositivo, e não fica exposta no navegador ou celular, que não foram feitos para guardar valores.

Mercado institucional

Você vê a institucionalização como um risco?

ML: Não. A entrada de instituições como o BlackRock traz credibilidade. Mas é importante lembrar: o dinheiro que entra nos ETFs não é da BlackRock, mas dos investidores.

Esses veículos não oferecem a funcionalidade completa do cripto. Eles são limitados, mas úteis para quem só quer exposição ao ativo.

Há risco de centralização com tanto dinheiro institucional?

ML: Hoje, não. Um ataque de 51% no Bitcoin exigiria um poder computacional enorme, muito além da capacidade de qualquer gestora.

Se algum dia chegarmos a esse ponto, sim, seria uma traição ao sistema — mas estamos muito longe disso.

ETFs atuam apenas nos ativos principais, como Bitcoin, Ethereum, talvez Solana. Eles não interferem na governança das redes.

Futuro do mercado cripto

Como você vê o futuro do cripto nos próximos 5 anos?

ML: Acredito que cripto vai se tornar invisível. As blockchains estarão integradas à infraestrutura financeira de forma nativa.

Se fôssemos criar um sistema novo hoje, ele seria baseado em blockchains modulares, mais baratos e mais rápidos.

Veremos mais integração em segundo plano, e mais usabilidade direta também.

Ledger pode ter um papel em identidades digitais (DID)?

ML: Não seremos um DID, mas podemos hospedar e proteger DIDs com segurança.
Com a ascensão da IA, será cada vez mais difícil provar quem somos.

Se você puder assinar digitalmente com sua chave privada, isso ajuda a provar autenticidade.

Ledger pode ajudar nisso, embora a integração no ecossistema seja complexa.

Governos podem usar soluções privadas como a Ledger para identidades digitais?

ML: Talvez, mas é difícil prever. Para identidades críticas — como provar sua cidadania ou existência real — vejo espaço para soluções como a Ledger.

Mas nem todas as aplicações fazem sentido. Seremos relevantes em algumas delas.

Ledger poderá operar com CBDCs no futuro?

ML: É possível, principalmente porque muitos projetos de CBDCs estão migrando para padrões EVM. O Brasil é um bom exemplo disso.

Se for possível integrar com segurança, a Ledger estará pronta para colaborar.

A Ledger pode ser essencial no novo sistema financeiro digital?

ML: Com certeza. À medida que tudo vai para o “on-chain”, a segurança das redes públicas se torna ainda mais importante.

Nosso papel é garantir que os ativos estejam seguros nesse novo mundo. Esse é o ponto em que a Ledger será indispensável.