Falando na abertura do Blockchain Rio, nesta terça (05) durante o evento Blockchain Leadrs, Michael Shaulov, CEO da Fireblocks, disse que o Brasil está no centro global da adoção do Bitcoin e das criptomoedas.
Nos últimos anos, conseguimos atuar em diferentes contextos e com uma ampla variedade de clientes, sempre com foco nas necessidades específicas relacionadas aos ativos digitais. E, mais importante, acreditamos que o Brasil e a América Latina têm estado no centro da adoção de criptoativos e ativos digitais nos últimos quatro ou cinco anos”, disse.
Diante disso, no Brasil, Shaulov identificou três grandes oportunidades no mercado de criptomoedas:
Adoção em massa pelo varejo, ainda pouco explorada;
Prime mover advantage — ou vantagem de ser o primeiro a obter licença regulatória para operar com ativos digitais;
Posição estratégica do Brasil como hub de infraestrutura para pagamentos cross-border com stablecoins.
Contudo, o executivo também fez um alerta: quanto maior a adoção mainstream, maior também o apetite de hackers e agentes mal-intencionados.
“Estamos lidando com uma tempestade quase perfeita. As transações com cripto não têm estornos, e isso é um atrativo para quem quer explorar brechas de segurança”, disse.
De acordo com Shaulov, cerca de 10% a 15% de todas as transações envolvendo os principais ativos — como Bitcoin, Ethereum, USDC e USDT — passam pela nossa rede da Fireblocks, e por isso a empresa tem acesso a dados importantes sobre o comportamento do mercado e as principais tendências do setor.
Assim, ele destacou quatro grandes tendências que estão moldando o futuro dos ativos digitais. Segundo o executivo, o setor vive um momento de virada, com a entrada decisiva de instituições tradicionais, o avanço das stablecoins e o crescimento expressivo da tokenização de ativos reais (RWAs).
Shaulov ressaltou que a escala da adoção institucional nunca foi tão ampla.
"Grandes players de Wall Street e instituições financeiras tradicionais estão liderando esse movimento", afirmou.
Empresas como a BlackRock já avançam com força nesse território, enquanto gigantes como Morgan Stanley, Charles Schwab e outras preparam suas plataformas para oferecer ativos digitais diretamente aos seus clientes.
Bancos e pagamentos mudam o discurso
O segundo ponto destacado por Shaulov foi a mudança radical de postura dos bancos de primeira linha. Há apenas um ano, segundo ele, “nenhum banco dos EUA queria sequer ouvir falar de cripto”.
Hoje, o cenário mudou completamente: houve um salto de 600% no interesse institucional, com bancos buscando capacitação, agendando reuniões e iniciando projetos-piloto com ativos digitais, tanto nos EUA quanto em outras regiões.
Essa transformação também atingiu o setor de pagamentos. Empresas listadas na bolsa estão pressionando suas equipes por estratégias cripto, especialmente após mudanças regulatórias recentes.
“Quase todas estão reformulando suas plataformas para incorporar stablecoins aos fluxos financeiros”, explicou.
Um exemplo citado foi o da Stripe, que começou com serviços de integração de pagamentos e logo passou a oferecer saques em stablecoins. A Bridge, parceira da Fireblocks, já testa formas de permitir que empresas façam depósitos e operem com stablecoins diretamente com seus clientes institucionais e comerciais.
Shaulov também destacou que startups como Mooplay, WallPay e Bridge já operam fortemente com stablecoins, mas instituições tradicionais também estão adotando esse modelo para realizar pagamentos de forma mais eficiente. Esse movimento tem ganhado especial tração na América Latina, onde o uso de carteiras digitais é elevado.
“Pagamentos diretos em stablecoins, como USDT e USDC, facilitam transferências mais rápidas e baratas para freelancers e prestadores de serviço em marketplaces. É uma forma prática e eficaz de inclusão financeira”, explicou.
Ainda sobre stablecoins ele falou sobre a “stablecoin sandwich”, modelo no qual empresas iniciam transferências em moeda fiduciária, fazem a etapa internacional em stablecoins e, no destino, convertem novamente para a moeda local. Esse processo reduz drasticamente custos e barreiras bancárias.
“As empresas que estão trabalhando com esse sistema estão à frente dessa tendência, tornando os pagamentos cross-border praticamente invisíveis para o usuário final”, destacou.
Neste contexto, países da América Latina, África, Sudeste Asiático e Oriente Médio já registram crescimento expressivo no uso de stablecoins como forma de preservar valor em dólares, sem necessidade de um banco.
“Pessoas estão migrando para stablecoins para escapar das flutuações cambiais e da instabilidade econômica”, explicou.
Real World Assets e Tesouro dos EUA on-chain
Além disso, Shaulov apontou o avanço expressivo na tokenização de ativos do mundo real (RWAs). A atividade nesse segmento cresceu 58% em 2025, e o valor de mercado das stablecoins aumentou 25% no mesmo período. Entre os casos de uso mais promissores, ele destacou os títulos do Tesouro dos EUA on-chain, que já são utilizados para gerar rendimento sobre stablecoins de forma segura e transparente.
“O que realmente está impulsionando essa nova fase de adoção é o desbloqueio regulatório global. E tudo começou com uma virada decisiva nos Estados Unidos”, concluiu o CEO da Fireblocks.
Ele também falou sobre os novos casos de uso que estão moldando o futuro do mercado cripto. Segundo ele, quatro aplicações ganham força — três diretamente relacionadas às stablecoins, que, em sua visão, estão se consolidando como o verdadeiro “remédio” para as ineficiências do sistema financeiro tradicional.
“A principal mensagem é clara: o avanço regulatório global está impulsionando todos esses movimentos”, disse Shaulov. “E tudo começou com uma virada regulatória nos Estados Unidos, que agora serve de modelo para outras jurisdições”.
Uma pesquisa conduzida pela Fireblocks, iniciada em 2023 e atualizada em 2025, mostra como o ambiente regulatório tem evoluído rapidamente, dando cada vez mais segurança para que instituições entrem de vez no universo cripto.
Inteligência artificial
O executivo também alertou sobre o avanço coordenado de grupos estatais. Segundo ele, a sofisticação dos ataques atingiu níveis inéditos, com o uso massivo de inteligência artificial (IA) para criar e-mails de phishing que não apresentam erros comuns e enganam até usuários experientes.
De acordo com o executivo, esses ataques têm como alvo exchanges, carteiras digitais e protocolos DeFi, aproveitando a falta de infraestrutura adequada de segurança em novos participantes do mercado.
O especialista destacou que transações com stablecoins são praticamente irreversíveis, o que torna esses ativos alvos preferenciais de hackers. Ao mesmo tempo, o crescimento das stablecoins tem sido positivo para os investidores, já que permite transações rápidas, eficientes e globais.
Entretanto, ele alertou que muitas empresas entram no mercado cripto sem experiência técnica e sem a infraestrutura necessária, o que as torna mais vulneráveis a ataques. O uso incorreto de carteiras e a ausência de modelos de confiança zero são erros comuns que podem comprometer a segurança dos fundos.
“Estamos vendo governos patrocinando ataques a criptoativos como forma de financiamento. É um cenário preocupante”, afirmou o .
Para ele, a mensagem principal é clara: “Os atacantes estão sempre um passo à frente. Mas, com a infraestrutura certa, é possível virar o jogo.” finalizou.