Nesta terça (05), durante a abertura do Blockchain Rio, no evento Blockchain Leaders, Daniel Mangabeira, vice-presidente de Estratégia e Políticas para Brasil e América Latina na Circle, destacou que o Brasil vive uma tempestade perfeita para o desenvolvimento da indústria cripto.

“Vivemos, no Brasil, uma espécie de tempestade perfeita. Como toda tempestade, ela tem um começo, um desenvolvimento e um fim. E acredito que esse é o momento certo para aproveitarmos essa janela histórica”, afirmou o executivo durante um evento sobre inovação financeira e ativos digitais.

Segundo Daniel, o Brasil vem atraindo o olhar de grandes instituições internacionais, como a SEC dos Estados Unidos, por ser uma democracia sólida, com mercado amplo, dinâmico e ainda pouco explorado no universo cripto.

“Mais do que isso: é um país onde os fundamentos macroeconômicos se somam a demandas reais da população, que busca proteção contra inflação, desvalorização cambial e volatilidade”, pontuou.

O executivo também destacou que muitos brasileiros já utilizam ativos digitais estáveis, como o USDC, para preservar valor e buscar eficiência financeira. “Seja para proteger a renda, fugir da instabilidade ou garantir mais previsibilidade, essas funcionalidades já fazem parte do cotidiano da população”, disse.

Daniel elogiou o avanço do país em temas regulatórios. Ele lembrou que o Brasil aprovou recentemente o marco legal dos ativos virtuais, o que abriu espaço para discussões mais profundas sobre regulações secundárias, especialmente junto ao Banco Central e à CVM.

Além disso, o Pix foi citado como um exemplo concreto de como o Brasil pode liderar em inovação financeira.

“O Pix posiciona o Brasil como referência global. Ele é a base perfeita para construirmos uma estrutura ainda mais sofisticada, alinhada com o cenário global que está emergindo”, destacou.

Para o executivo da Circle, o próximo passo é incluir um elemento conceitual e estratégico que transforme a estrutura já existente em algo verdadeiramente internacional.

“As stablecoins não são tecnologias localizadas. Elas são infraestruturas abertas, com potencial global. O desafio é fazer com que o Brasil use esse ferramental para se posicionar como um catalisador global da transformação financeira”, afirmou.

Ele ainda reforçou que os ativos digitais não competem com o sistema tradicional, mas podem complementar e expandir a economia real.

“Se pensarmos em títulos tokenizados, contratos conversíveis e novas formas de financiamento, veremos que o Brasil pode liderar também nesse campo”, concluiu.

Avanços do setor

Ainda durante a abertura do evento, Guilherme Nazar, Head of Regional Markets for the Americas da Binance, destacou o ritmo acelerado de crescimento e maturidade do setor cripto no mundo, com foco especial na América Latina e nos Estados Unidos.

Para Nazar, o cenário cripto evoluiu consideravelmente desde o ano passado. Ele apontou que com a nova administração de Donald Trump, o ambiente regulatório nos Estados Unidos se tornou ainda mais amigável. O presidente, o vice, o secretário do Tesouro e o comissário da SEC passaram a ser vistos como verdadeiros promotores das criptomoedas.

No Congresso americano, o executivo destacou dois marcos: o Genius Act e o Clarit Act, que impulsionaram o setor com novos marcos legais. O Genius Act, por exemplo, criou um guarda-chuva regulatório que permite que bancos e pessoas físicas lancem projetos financeiros descentralizados com maior segurança jurídica.

Esse ambiente regulatório mais claro já impacta o Ethereum, a maior blockchain de contratos inteligentes. De acordo com Nazar, novas companhias de tesouraria passaram a investir em Ethereum, elevando o ativo a um novo patamar de reconhecimento no mercado institucional.

“Na América Latina, os avanços também são visíveis. El Salvador permanece como referência, mas a Argentina ampliou sua estrutura de regulação, com dezenas de corretoras já registradas junto à Comissão Nacional de Valores. No Brasil, o diálogo contínuo com o Banco Central e a participação ativa da Binance nas cinco consultas públicas realizadas até agora. A expectativa é que o país adote um arcabouço robusto de proteção ao investidor, com normas claras e eficientes”, disse.

Desse modo, segundo ele, o projeto de regulamentação, antes visto como um esboço, agora “ganha contornos cada vez mais sólidos”.