No mundo e no mercado financeiro, muitas das inovações mais impactantes não estão ligadas a novos produtos, mas sim à forma como estruturamos e operamos aquilo que já existe.
Um bom exemplo disso é o cálculo de Preço Unitário (PU) em ativos de renda fixa e operações estruturadas.
Quem trabalha ou investe nesse mercado sabe a importância do PU. Ele define quanto vale um ativo em determinado momento, com base no tempo que falta para o vencimento, nas taxas acordadas e nos pagamentos já realizados.
Mas, apesar de sua relevância, esse cálculo ainda é feito, muitas vezes, de forma manual e pouco padronizada.
O que quero trazer para a nossa conversa hoje é como a blockchain e os smart contracts podem revolucionar esse processo, trazendo mais eficiência, transparência e segurança para todos os envolvidos.
O que é o PU e por que ele importa tanto?
De forma simples, o PU é o valor presente de um ativo.
Ele considera os fluxos de pagamentos futuros, aplica uma taxa de desconto, e nos mostra quanto aquele papel vale hoje. É a referência que usamos para negociar, precificar e atualizar a rentabilidade dos investimentos.
Em operações mais complexas, como aquelas que envolvem diferentes séries, pagamentos intermediários ou estruturas subordinadas, esse cálculo exige muito cuidado.
E é justamente nesse ponto que começam a aparecer os problemas: erros em planilhas, atrasos na atualização de dados e divergências entre as partes podem gerar insegurança e retrabalho.
A boa notícia é que isso já não precisa ser assim.
Como smart contracts podem automatizar o cálculo de PU?
Ao utilizar smart contracts, conseguimos transformar toda a lógica de cálculo do PU em um código autoexecutável.
Isso significa que, uma vez definidas as regras da operação — taxa de juros, periodicidade de pagamentos, datas de vencimento, amortizações, entre outros — o contrato inteligente passa a calcular automaticamente o PU em tempo real.
Toda vez que um pagamento é feito ou que uma nova data de referência é atingida, o smart contract atualiza o valor do ativo. Tudo isso de forma imutável, auditável e transparente para as partes envolvidas.
Estamos falando de um processo que antes podia levar dias e envolver trocas de e-mails, planilhas, revisões e interpretações diferentes. Agora, isso pode ser feito com uma única fonte de verdade, visível para todos.
Onde isso já está funcionando: o caso dos TIDCs
Na Liqi, temos aplicado esse conceito em operações com Tokens de Investimento em Direitos Creditórios (TIDC). Esses tokens representam frações digitalizadas de operações estruturadas reais e seguem regras de remuneração, vencimento e garantia bem definidas.
O smart contract do TIDC é responsável por calcular e atualizar o PU de forma automática. Assim, os investidores podem acompanhar a evolução do valor do ativo com total transparência.
Cada evento é registrado em blockchain, garantindo rastreabilidade e segurança.
Isso traz um diferencial importante: elimina o risco de interpretações divergentes, acelera a comunicação entre os envolvidos e fortalece a confiança na operação como um todo.
Quais problemas do mercado isso ajuda a resolver?
Talvez você já tenha se deparado com divergências de PU em uma liquidação. Ou com um sistema que não atualizou a precificação a tempo. Ou ainda com dúvidas sobre como um ativo está sendo remunerado. Tudo isso são sintomas de um sistema que ainda depende de processos manuais e fragmentados.
Ao usar smart contracts para o cálculo de PU, mitigamos esses problemas na raiz:
- Padronização de cálculo: uma vez definido, o código executa sempre da mesma forma;
- Evita erros humanos: não depende de planilhas ou lançamentos manuais;
- Garante rastreabilidade: cada cálculo fica registrado em blockchain;
- Aumenta a eficiência operacional: menos retrabalho, mais confiança.
Isso representa um ganho não apenas para emissores e distribuidores, mas também para o investidor, que passa a ter mais clareza sobre a rentabilidade do ativo e seus riscos.
Estamos diante de um novo padrão de governança?
O que vemos aqui é mais do que uma melhoria operacional. É a possibilidade de criar um novo padrão de governança digital nas operações estruturadas.
Um padrão onde as regras são codificadas, os dados são compartilhados e as partes têm acesso à mesma base de informação.
Claro, isso exige mudança de cultura, de sistemas e de governança. Mas o caminho já está traçado. A tecnologia está pronta — e os casos práticos mostram que é viável, seguro e benéfico.
Já pensou se todo o mercado adotasse esse padrão para precificação e liquidação de ativos?
Estamos apenas no começo dessa transformação. Mas já é possível enxergar um futuro onde o PU é calculado com precisão e transparência, sem ruído entre as partes e com ganhos concretos para todo o ecossistema.
Vamos continuar essa conversa? Lá no LinkedIn @DanielCoquieri a gente fala sobre esse e outros assuntos relacionados a transformação que a tokenização está promovendo no mercado financeiro.