Todo ano é a mesma história. Entre as discussões mais quentes no ecossistema nativo da Web3, uma das pautas é sempre sobre a blockchain que pode destronar a rede Ethereum como a base das aplicações Web3.
E, apesar de a rede Solana estar vindo com tudo desde anúncios recentes envolvendo a atualização Fire Dancer, existe uma narrativa ainda silenciosa que vai surpreender em 2024.
Nunca se falou tanto no Bitcoin como um potencial concorrente da Ethereum.
Se, no passado, essa discussão entre os dois havia se resolvido, com o Bitcoin sendo apontado como ativo destinado a ser o ouro digital e o Ethereum como a internet descentralizada, parece que este ano o Bitcoin voltou a querer ser a base das aplicações Web3.
Antes de prosseguir, vale entender de onde se originou essa chama.
Em janeiro de 2023, o desenvolvedor Casey Rodarmor apresentou ao mundo o Protocolo Ordinals, que, de forma resumida, permite a criação de coleções de NFT e a emissão de tokens fungíveis na rede do Bitcoin.
Assim como os ICOs causaram um frenesi na rede Ethereum em 2017 e os NFTs fizeram o mesmo em 2021, o protocolo Ordinals também explodiu no Bitcoin em 2023 com esses desenvolvimentos.
Com isso, do dia para a noite, a narrativa de boa parte dos usuários deixou de ser “seja humilde e acumule sats” para “emita, compre e venda sats diariamente”.
O gráfico abaixo demonstra bem como o Protocolo Ordinals impactou as transações on-chain no Bitcoin, que decolaram alguns meses depois da criação de Casey.
(Fonte: Glassnode)
Enfatizando ainda mais esses números, ativos criados pelo padrão BRC-20, que seria equivalente ao padrão ERC-20 para emitir tokens fungíveis em Ethereum, foi responsável por movimentar 100 bilhões de dólares em 2023.
Mas, apesar do sucesso, o Protocolo Ordinals é pouco adequado para muitas aplicações, visto que ele insere 100% das informações on-chain, o que é caro e lento.
Então, builders e usuários mais curiosos começaram a se perguntar o que mais era possível fazer no Bitcoin e quais outros protocolos, além do Ordinal, eles poderiam utilizar para realizar ações mais complexas.
Isso simplesmente abriu uma caixa de Pandora onde discussões sobre L2, máquinas virtuais, Zk-rollups, emissão de ativos e smart contracts emergiram como nunca antes na história.
Pode-se dizer que houve um renascimento na visão do Bitcoin como ecossistema e não apenas como ativo.
(Fonte: Medium)
Prova disso, além dos desenvolvimentos que estão acontecendo?
- Das 10 teses de DeFi no relatório de fim de ano da Messari, uma delas é completamente focada em Stacks e BRC-20.
- Das 4 teses de alta convicção da Nansen para 2024, uma afirma: “Projetos construídos em cima do Bitcoin estarão entre os vencedores do próximo ciclo de alta”.
- Dos seis insights de fim de ano da Hashdex, um se intitula: “O início da era industrial do Bitcoin”.
- Entre as seis tendências destacadas pela Binance em seu relatório para 2024, duas apresentam alta correlação com o Protocolo Ordinals.
Portanto, além dessa chama ardente dentro do ecossistema nativo da Web3, que navega on-chain todos os dias, esse ecossistema antes dormente agora também está sob os holofotes dos maiores especialistas em cripto do mundo.
Então consolidando todas essas informações e compartilhando algumas teses de curto, médio e longo prazo:
Curto Prazo
Soluções de rollups e de segunda camada devem ser o centro das atenções. O mundo está antecipando o boom desse ecossistema do Bitcoin, mas ainda não entende direito como isso funcionará e quais são os cavalos certos. Portanto, é muito provável que as apostas sejam menos específicas e mais amplas nesses tipos de solução base.
(Fonte: https://bvm.network/)
- NFTs criados a partir do protocolo Ordinals estão começando a ser aceitos pelos grandes colecionadores de Ethereum e isso deve trazer ainda mais liquidez para esse lado do ecossistema do Bitcoin. Apesar disso, a aproximação do mainstream ainda parece estar bem distante.
- Satoshis raros, que são os satoshis envolvidos em momentos históricos da rede do Bitcoin, como a primeira transação entre Hal Finney e Nakamoto ou satoshis minerados pelo próprio Nakamoto, devem continuar ganhando momentum.
- Mais marcas irão utilizar o protocolo Ordinals para engajar com os milhões de usuários da Web3. No ano passado, a Bugatti realizou um lançamento na rede e, este ano, o ex-presidente americano Trump também já fez seus movimentos.
Médio Prazo
- Soluções de segunda camada e rollups irão chocar a Web3. A Stacks irá lançar no segundo trimestre sua atualização "Nakamoto Upgrade", que além de deixar a rede mais rápida, irá expandir a interoperabilidade do ecossistema Bitcoin com o resto da Web3.
(Fonte: https://stx.is/nakamoto)
Além disso, o protocolo Taproot Assets da Lightning, lançado em mainnet no final do ano passado, deve apresentar ao mundo o seu verdadeiro potencial. Uma das principais funções desse protocolo é permitir a emissão de stablecoins na rede do Bitcoin e utilizar a Lightning como camada de troca.
E tendo em vista que em 2023 a Lightning foi integrada a Binance e em breve será integrada a Coinbase, a Tether e a Circle tem o ambiente perfeito para emitirem as suas stablecoins nativamente no Bitcoin.
- Projetos mais elaborados, principalmente aqueles voltados para o setor de gamificação, podem impulsionar a entrada do público mainstream no ecossistema do Bitcoin. Jogos como Farcana e Life Beyond já estão dando esse passo.
(Fonte: https://twitter.com/LifeBeyond)
Longo Prazo:
- Discussões sobre a próxima atualização softfork no Bitcoin começaram a esquentar, especialmente em torno da proposta OP_CAT, que visa otimizar a programabilidade na blockchain do Bitcoin.
Concluindo, as grandes perguntas que ficam são: o Bitcoin realmente está rumando para uma 'Ethereização'? Seria isso uma perda de foco ou um fortalecimento para a tese de reserva de valor?
Só o tempo dirá o que se concretizará e o que se dissipará na imensidão da Web3. Mas é inegável que estamos vivendo um momento histórico, digno de ser chamado de 'a fase dois do Bitcoin'.
*Lugui Tillier é o diretor de bizdev da Lumx