O mercado de criptomoedas teve um primeiro semestre empolgante e de alta volatilidade que viu o Bitcoin (BTC) subir até US$ 64 mil e depois cair abaixo de US$ 30 mil para, em poucos dias, subir novamente até US$ 50 mil.

No amplo mercado de altcoins a mesma volatilidade ditada pelo BTC também impactou os principais criptoativos com Ethereum (ETH), Cardano (ADA), Solana (SOL), Binance Coin (BNB) entre outros subindo mais de 50% e ajudando a capitalização total do mercado passar novamente de US$ 2 trilhões.

Contudo, embor as criptomoedas sejam encaradas como investimentos não correlacionados, a pandemia do Covid-19 deixou evidente que esta nova classe de ativos também sofre influência da politicas macroeconômicas.

No caso do Brasil há ainda o fator dólar que impacta no valor em real dos criptoativos já que estes tem seu preço de referência na moeda americana que já chegou a valer perto de R$ 6.

Além disso hoje as criptomoedas estão inseridas em fundos de investimento multimercado, balanços patrimoniais de grandes instituições, ETFs e até no balanço de pagamentos do Banco Central do Brasil, ajudando a influenciar a balança econômica do país.

Portanto para entender como o cenário economico nacional pode impactar no mercado de investimentos e, com ele no mercado de criptomoedas, o Cointelegraph conversou com o assessor de investimentos da iHUB, escritório credenciado XP,  Diogo Santos. 

“O 2º semestre de 2021 já começou com preocupações no avanço dos casos da variante Delta da covid-19. Desta forma, os investidores ficaram mais reticentes e interromperam o ciclo de aportes na bolsa brasileira, que vinha em um fluxo positivo desde março. Essa preocupação acontece de forma global, pois o receio é que novas medidas de restrições sejam implementadas e isso pode atrapalhar diretamente o crescimento das economias”, explica Santos. 

Contudo, segundo ele, a expectativa dos agentes econômicos é de forte retomada da economia brasileira, devido a estimativa que o PIB cresça acima de 5% ainda esse ano. O ponto de esperança para esse cenário positivo é o fluxo da vacinação, que está sendo grande aliada dos sistemas de saúde e, consequentemente, da economia. 

Mas, um ponto de atenção está no radar dos investidores: caso novas cepas surjam e as vacinas não sejam eficazes, o jogo pode virar. 

Além das criptomoedas, investimentos que merecem atenção na 2ª metade do ano

De acordo com Santos, no campo da renda fixa tem se observado muitas opções de títulos como CDB, LCI e LCA com taxas atrativas, como o IPCA+6%, ou 120% do CDI. Já nos títulos pré-fixados, com o aumento da taxa Selic de 4,25% para 5,25% a.a, é possível encontrar títulos que estão pagando 11% a.a. 

“Na renda variável o cenário é de volatilidade, pois temos no campo político as reformas e estamos às vésperas de eleições. Mas, quem está disposto e se sente confortável com esse nível de volatilidade ainda há muitas oportunidades na bolsa brasileira. Setores como o varejo, locação de automóveis, papel e celulose, shoppings e commodities estão atrativos, conforme a carteira recomendada pela XP”, comenta Santos.

Como ficam as commodities? 

Ele aponta que atualmente, o momento é do “boom” das commodities, que vem da recuperação das economias da China e Estados Unidos. Com a retomada da economia, dada pelo avanço das vacinações, a demanda de commodities disparou em relação a 2020.

Outro fator citado pelo especialista que contribuiu para essa evolução é o excesso de liquidez global, causado pelos pacotes de estímulos trilionários. Um exemplo é o minério de ferro que bateu sua máxima histórica ao atingir U$191 a tonelada. Os índices de commodities que englobam uma cesta de produtos também operam em suas máximas, como o Refinitiv. 

Santos explica que uma commodity importante e que está sob atenção é a energia, devido à forte crise hídrica, onde o Brasil registra o menor nível de chuvas em 91 anos. O setor elétrico, por ter sua principal matriz nas usinas hidrelétricas, está em estado de alerta, por conta do risco de apagão. 

“Isto fez o preço da energia disparar, o que impacta diretamente na renda das famílias. Hoje, a energia é comercializada na bandeira vermelha, faixa de preço da energia que pune o consumo com o objetivo de diminuir a demanda doméstica, mas também afeta setores como a agricultura e indústria”, explica. 

Ele aponta que como a energia é driver de inúmeras atividades e setores, o aumento no preço gera forte pressão inflacionária, contribuindo para que o Banco Central seja obrigado a subir os juros o que pode tornar menos atrativo os empréstimos, inclusive subindo os juros dos emprestimos que tem Bitcoin como garantia.

Reforma tributária x investimentos 

Ele destaca também que para o investidor é possível segmentar os impactos da reforma tributária em três frentes: Fundos Imobiliários, Fundos e Ações. Abaixo, o assessor de investimentos da iHUB lista os principais pontos positivos e negativos

Começando pelo lado positivo, os dividendos dos fundos imobiliários, por exemplo, não serão impactados, portanto, o imposto de renda continuará a incidir apenas sobre a valorização das cotas, outro ponto positivo para os FIIs é que deve haver uma equiparação da alíquota com à das operações com ações. 

Atualmente, os FIIs pagam 20% sobre o lucro obtido com a venda das quotas, com a nova regra passarão a pagar 15% sobre o lucro, assim como ocorre com as ações.

Já para os fundos de investimentos (incluindo os com exposição aos criptoatvos) são previstas mudanças muito positivas como a fixação da alíquota de IR em 15%, independente do prazo em que o investidor permanece no fundo, o que acabaria com o escalonamento que temos hoje, que começa em 22,5% e chega em 15%, sobre o lucro, de acordo com o tempo de permanência do cotista no fundo.

A reforma prevê ainda o fim do come-cotas em maio, mantendo apenas a cobrança em novembro.

Para as empresas da bolsa de valores, o ponto positivo será que a alíquota de IR também diminuirá gradualmente, passando a ser de 25%, como é cobrado hoje, para 20% a partir de 2023. Caso seja aprovada, essa mudança vai aumentar o lucro das empresas em 6%.

Day trader

Um ponto positivo para o investidor pessoa física que pratica day-trade é que a alíquota para este tipo de operação, que hoje é de 20%, passará a ser de 15%, assim como as ações e os FIIs e, além disso, a apuração passaria a ser trimestral e não mais mensal.

Na esteira dos pontos negativos, o que se destaca é a tributação dos dividendos, o governo pretende taxar em 20% os dividendos distribuídos aos acionistas provenientes de empresas da bolsa independentemente do valor recebido.

A proposta sugere ainda extinguir os Juros sob Capital Próprio (JCP). Como hoje as empresas alocam os JCPs como despesas em seus balanços, eles diminuem a base tributária. Com a extinção deste mecanismo o lucro das empresas será impactado. 

Os bancos são os maiores utilizadores deste mecanismo contábil. Com sua extinção seus balanços podem sofrer, porém esta queda será parcialmente absorvida pela redução na alíquota de IR.

O investidor estrangeiro enxerga esse movimento com muito bons olhos, à medida em que a reforma visa simplificar a legislação tributária, esse movimento atrai mais investidores e esse ingresso de capital estrangeiro tende a gerar uma valorização da moeda brasileira. 

Aumento das IPOs na B3  

Ele aponta que o mercado de capitais está aquecido este ano, cerca de 38 empresas entram na bolsa de valores, com um valor aproximado de R$112 bilhões, considerando IPOs e Follow-ONs. Sendo que em 2020, a bolsa de valores registrou 28 IPOs. 

Atualmente, 20 empresas estão com seus pedidos de IPO em análise na CVM, são elas: Vix Logística, Ammo Varejo, Topico, Althaia Indústria Farmacêutica, Conasa, Agribrasil, CSN Cimentos, Nova Harmonia, Invest Tech, Madero, Bluefit Academias de Ginástica, Athena Saúde Brasil, São Salvador Alimentos, Grupo Avenida, Rio Energy Participações, Hortigil Hortifruti, Nadir Figueiredo, Monte Rodovias, Rio Branco Alimentos e Librelato.

Quem também planeja realizar um IPO é a exchange Mercado Bitcoin, que inclusive já tem os bancos responsáveis pela sua abertura de capital. A oferta seria liderada pelo J.P. Morgan, com apoio do BTG Pactual, XP Investimentos e Itaú BBA.

A avaliação do MB estaria em torno de R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões e, caso seja concretizada a realização do IPO, seria a primeira empresa de criptomoedas do Brasil a ter ações negociadas na Bolsa.

Apetite dos estrangeiros por investimentos no Brasil 

Quando comparado com o exterior, a bolsa brasileira está barata, tanto em reais, quanto em dólar e o investidor estrangeiro sabe disso. A conexão entre a entrada e saída de capital estrangeiro na bolsa em 2021, já está positiva em R$41 bilhões, de acordo com dados da B3. 

“O investimento estrangeiro deve seguir com esse fluxo positivo de entrada no país, porém, muito atento ao avanço das reformas, aos riscos políticos que vieram da presidência, do congresso e também ao cenário pré-eleitoral, levando em consideração que o ambiente global permaneça constante”, comenta Santos. 

Ibovespa e Taxa Selic 

Neste ano, a XP está trabalhando com um alvo que o Ibovespa pode chegar a 145 mil pontos. De acordo com os analistas da corretora, esse seria o valor justo da bolsa, quando avaliamos as empresas por seus múltiplos. 

Já com a taxa Selic a previsão é que ela alcance 8% a.a, mas isso não significa um movimento de retorno para a poupança, quem saiu deste investimento dificilmente vai voltar, pois existe um investimento mais seguro e rentável, o tesouro direto, de acordo com Santos. 

“O caso das pessoas que retornam à poupança é devido a uma experiência ruim com o mercado financeiro, onde provavelmente investiram em produtos inadequados aos seus perfis. Quanto à taxa Selic certamente é possível que ela atinja o patamar de 8% a.a. Vemos esta preocupação na última ata do COPOM onde foi reafirmado o compromisso da instituição com o controle da inflação”, comenta o especialista. 

A maioria dos economistas ainda apostam na Selic por volta de 7% a.a, mas não há uma tendência de fuga para a poupança, porém,  pode haver uma migração de parte dos investidores da bolsa para a renda fixa. Isto porque com a elevação da taxa Selic, a relação risco x retorno pode ser mais atrativa na renda fixa para alguns investidores, à depender do perfil.

Moedas de emergentes frente a vacinação

O valor de uma moeda entre tantas outras variáveis é composto pela capacidade de geração de riqueza do país. Comparado a outras moedas emergentes como do México, Colômbia e Turquia, o real foi a moeda que mais se desvalorizou durante a crise do coronavírus.

Na mesma época, o dólar era cotado um pouco acima dos R$4,60 e disparou para quase R$6,00 em um curto espaço de tempo. 

“Esse movimento é natural em crises, onde o capital dos investidores migram para as moedas mais fortes, mas isso já vem se corrigindo e gradualmente o dólar vem cedendo”, explica Santos. 

O avanço da vacinação traz normalidade e desenvolvimento econômico, fortalecendo a saúde financeira das empresas, o que leva ao crescimento econômico do país e consequentemente da moeda.

Há alguns entraves que impedem um avanço maior da nossa produtividade como a elevada e burocrática carga tributária, carência em infraestrutura, leis trabalhistas engessadas, risco político, entre outros.  

Vale salientar que os Estados Unidos estão passando por um momento pouco típico, momento este de elevada inflação. Provavelmente levará o FED (banco central americano) a realizar dois movimentos, o primeiro é interromper os pacotes de estímulo e o segundo é elevar os juros, já isso pode influenciar os fluxos financeiros globais e impactar na nossa taxa de câmbio.

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