*Por Fausto Vanin, cofundador da OnePercent
"Se eu perguntasse a meus compradores o que eles queriam, teriam dito que era um cavalo mais rápido." Essa célebre frase de Henry Ford nos serve como material para analisarmos e entendermos o quanto o mundo cripto já nos trouxe até hoje e projetarmos um pouco do que ainda poderá acontecer.
A essência no pensamento de Ford está em entender que a inovação passa por observar necessidades latentes das pessoas, olhando de um jeito que ninguém está percebendo, e passa por realizar essa visão no momento certo, quando há maturidade de mercado, capacidade de execução e ganho de escala, aí estão estabelecidas as condições certas para fazer o novo.
Porém, a frase de Ford, ao exaltar a genialidade do indivíduo, desmerece o papel da comunidade, dos seus próprios compradores, em saber o que realmente querem e precisam. Por esse motivo, somo aqui uma frase de Satoshi Nakamoto postada em um fórum em 2019, nome que se atribui a criação do Bitcoin:
"Muitas pessoas automaticamente descartam a moeda eletrônica como uma causa perdida por causa de todas as empresas que faliram desde a década de 1990. Espero que seja óbvio que foi apenas a natureza centralmente controlada desses sistemas que os condenou. Acho que esta é a primeira vez estamos tentando um sistema descentralizado e não baseado em confiança."
Em uma tradução livre, a frase diz que muitas pessoas desmerecem moedas digitais pelo fato de que muitas empresas faliram nos anos 90. Para Satoshi, obviamente isso se deve ao fato da natureza desses sistemas ser totalmente centralizada e que, pela primeira vez, está sendo tentado um sistema descentralizado e baseado em não-confiança.
E essa máxima do "don't trust; verify", que está muito presente na fala de Satoshi, é uma das mais poderosas e influentes no movimento Cypherpunk, especialmente com o fenômeno Bitcoin. Quando vem a público que uma pessoa é capaz de roubar 200 mil reais da conta de um famoso cliente usando a sua senha, fica evidente o quanto cada vez menos os consumidores finais vão aceitar esse tipo de situação.
E é inspirado por alguns desses benefícios das blockchains que nasce esse movimento de CBDCs (Central Bank Digital Currency), que são moedas digitais criadas por bancos centrais para tentar usufruir dos benefícios das criptomoedas, o que evidentemente recai na frase dita por Satoshi sobre o risco das natureza centralizada de sistemas como esse.
E é justamente na descentralização que encontramos mais uma grande contribuição do mundo cripto para o futuro. Onde muitas pessoas comparam o surgimento de cripto e blockchain ao advento da internet, eu vejo uma semelhança muito grande com o movimento do Software Livre, que transformou o mundo de tecnologia ao mostrar que o poder do coletivo e das comunidades (viu, Ford?) pode fazer toda a diferença na construção de soluções que façam sentido para grandes grupos de pessoas.
E esse movimento de comunidade na criação de novos contextos econômicos e de negócio é o mesmo no qual surgiram modelos como Crowdfunding e Crowdsourcing, no qual a comunidade participa no processo criativo dos produtos e também monetizam a cadeia com seu engajamento.
Essa liberdade e autonomia para geração de valor em comunidade fez surgir aos olhos do mundo cripto, e para surpresa dos desavisados, uma onda de ativos tokenizados que, vinculados a diversas áreas de negócio, sustentam operações dentro de uma nova economia de Finanças Descentralizadas (DeFi). De créditos de carbono a imóveis, de obras de arte a itens em um jogo, é impossível contarmos quantas áreas podem se beneficiar com essa nova economia.
Mas o que podemos contar é que o futuro já está pautado por cripto, quando o Facebook anuncia que vai mudar, não só o nome da empresa para Meta, mas toda sua estratégia pensando em Metaverso. Seria o fim anunciado de uma dinastia? Talvez. Mas o importante é o tamanho da influência do mundo cripto nesses movimentos.
Está à nossa frente uma oportunidade de moldarmos um futuro com uma economia mais inclusiva e justa, de mecanismos de controle auditáveis, de uma digitalização dos processos que aumente a eficiência e aumente a segurança. Porém, diferente do que estávamos acostumados, não pode ser algo que simplesmente iremos esperar acontecer. É justamente no poder da coletividade que iremos efetivamente modelar esse futuro.
*Fausto Zanin é cofundador da OnePercent, empresa que desenvolve soluções de software em blockchain.
As informações contidas neste texto são de responsabilidade exclusiva do autor e não necessariamente refletem as opiniões do Cointelegraph Brasil.
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