Um usuário não identificado conseguiu montar uma operação utilizando instrumentos de finanças descentralizadas (DeFi) para tornar-se elegível ao airdrop do ApeCoin (APE) e lucrar US$ 1,1 mihão em poucos minutos sem possuir um NFT do Bored Ape Yacht Club, relatou reportagem do The Block.
Na última quarta-feira, 16, os criadores da coleção de NFTs mais popular do mundo anunciaram o lançamento de um token que se tornará a moeda corrente do ecossistema criado em torno do Bored Ape Yacht Club. Em poucas horas, o lançamento tomou proporções inéditas à medida que os tokens começaram a ser distribuídos.
Pelas regras do airdrop, 15% do suprimento total de 1 blhão de unidades do APE foram distribuídas para os detentores de NFTs das coleções Bored Ape Yacht Club e Mutant Ape Yacht Club, na proporção de 10.094 APEs e de 2.042 APEs por NFT, respectivamente.
Foi definido também que teriam direito ao novo token os detentores de NFTs das coleções que os mantivessem em suas carteiras particulares no momento da distribuição - e não em algum momento específico no passado. Logo, quem conseguisse obter temporariamente um NFT da coleção cujo dono não tivesse embolsado os tokens a que tinha direito poderia reclamá-los para si.
Foi assim que um usuário conseguiu reclamar o montante respectivo a 5 NFTs do BAYC sem de fato possuir qualquer um deles. Para isso, montou uma operação intrincada envolvendo instrumentos DeFi. Inicialmente, ele descobriu um "cofre" criado no protocolo NFTX contendo 5 NFTs da coleção, cujos APEs até então não haviam sido reivindicados.
O NFTX é um protocolo que permite a criação de tokens a partir de um ou mais NFTs. Ao depositá-los em um cofre, cria-se um token que pode ser utilizado para diferentes fins. Por exemplo, é possível usá-lo para fazer staking e obter rendimentos ou mesmo vendê-lo no mercado à vista. Qualquer pessoa que possua fundos suficientes para cobrir o valor total dos NFTs depositados pode resgatá-lo e ter acesso aos NFTs subjacentes.
Após identificar o referido cofre no NFTX, contendo os apes #7594, #8214, #9915, #8167, e #4755, estimados em aproximadamente 500 ETH (US$ 1,4 milhões) com base no preço mínimo de um NFT da coleção, o investidor tomou um empréstimo relâmpago para ter acesso aos cinco tokens não fungíveis do cofre.
Empréstimos relâmpagos, mais conhecidos como flash loans, são um clássico recurso DeFi que permite aos usuários tomar emprestadas grandes somas em criptomoedas a juros baixos porque os fundos são devolvidos na mesma transação e ambas as operações são registradas no mesmo bloco, tornando nulas as chances de que o dinheiro devido não seja reembolsado.
Nesse caso, o investidor comprou um NFT do BAYC no OpenSea por menos de US$ 300.000, e o utilizou como garantia para tomar o empréstimo relâmpago. O financiamento foi usados para comprar o token BAYC do cofre da NFTX, permitindo que os cinco NFTs nele contidos fossem resgatados. Então, ele usou os seis NFTs - incluindo o que havia comprado - para reivindicar os 60.654 APES a que passou a ter direito.
Em seguida vendeu-os através da exchange descentralizada Uniswap (UNI) por 399 ETH (aproximadamentem US$ 1,1 milhão na cotação da ocasião) - tudo em uma mesma transação, conforme relatado por Will Sheenan no Twitter.
Bored Ape NFTX vault atomically rinsed by an MEVor
— Will Sheehan (@wilburforce_) March 17, 2022
buys vault token -> redeems entire pool -> claims airdrop of 60k APE -> re-supply's the poolhttps://t.co/X83URmgyBK
Cofre Bored Ape na NFTX atomicamente explorado por um MEVor
compra o token do cofre - resgata todo o pool - reivindica airdrop de 60k APE - reabastece o pool
— Will Sheehan (@wilburforce_)
Depois ele devolveu os NFTs de volta ao cofre da NFTX, e, por fim, recuperou o NFT usado como garantia para tomar o empréstimo e revendeu-o no OpenSea, recuperando o investimento inicial de US$ 300.000, mantendo para si os lucros da operação.
Gênio DeFi ou fora da lei?
Conforme relatou a reportagem do The Block, o Cripto Twitter saudou a operação como uma negociação de arbitragem inovadora, mas houve quem discordasse. A empresa de segurança BlockSecTeam classificou a operação como um ataque que explorou uma vulnerabilidade das regras do airdrop:
"Consideramos que foi um ataque, pois o mecanismo do airdrop tem uma vulnerabilidade. O direito aos tokens dependia de o usuário possuir o NFT no momento da reivindicação e o invasor explorou essa vulnerabilidade para lucrar".
Ataque ou não, a operação não teria sido possível se as regras do airdrop determinassem que os reivindicantes possuíssem os NFTs antes da distribuição dos tokens, como é comum em eventos dessa natureza.
A operação do investidor anônimo pode ser considerada ainda mais genial tomando por base uma pesquisa de um cientista de dados da Messari que revelou que vender moedas recebidas em airdrops imediatamente após a distribuição costuma ser mais lucrativo do que mantê-las com vistas em um horizonte de longo prazo, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.
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